A Cigarra Nangará

A CIGARRA NANGARÁ

Há muito tempo atrás, os Gamep plantaram uma grande roça de amendoim. Terra boa, muito amendoim, muita makaloba para tomar na festa Mapimai. Todos felizes com amigos e parentes. Na colheita, famílias inteiras, colhendo e cantando; comemorando a fartura de amendoim.

Crianças de outra aldeia, que os Gamep chamavam de Àre, vendo os Suruí comendo os deliciosos amendoins, ficaram com vontade de comer também. À noitinha, quando os Gamep se recolheram para suas malocas, os Àre foram à roça deles e roubaram muitos amendoins e comiam até fartar-se. Isso aconteceu uma, duas, três vezes... Os Gamep notaram que alguém havia colhido amendoins na roça deles à noite – os meninos deixavam montões de cascas de amendoim espalhados pela roça em lugares em que os Gamep ainda não haviam feito a colheita. Desconfiados de que era arte do guariba basáykip, montaram guarda na roça – queriam pegar o invasor ladrão de amendoins.

Grande foi a surpresa quando, chegando aos galopes, os meninos Àre vieram em algazarra para o meio da roça de amendoins – nem desconfiavam que alguém estava à espreita deles, vigiando a roça. Já mastigavam alguns deliciosos amendoins quando, de repente, de um salto, Palup os pegou com a boca na botija – Ahah! - Disse ele. - São vocês os ladrões de amendoins. Abusados! - Sempre estragando nossa roça e comendo tudo... Hoje vocês vão aprender como nos deixar em paz!

Palup queria dar um susto naquelas crianças e avançou para agarrar os meninos. Os mais grandinhos, com a agilidade de uma onça, saltaram e fugiram. Ficaram, presa fácil de Palup, os pequeninos – que tremiam de medo. Palup, então, resolveu costurar a boca das crianças e, amarrá-las em árvores – todos com a boca costurada para não comer mais amendoins e para não gritar. Palup fez isso e fingiu que foi embora de volta para a sua aldeia, mas ficou, a certa distância, observando os meninos.

As crianças, coitadas; apavoradas, não podiam fazer nada – só saia um sussurro da garganta, sufocadas. Como chamar os seus pais desse jeito? Noite inteira, as crianças amarradas se esgoelavam, tentando gritar e só saiam aqueles sons estranhos, guturais: hrrruuuu... hrrruuu... hrrruuu.... Isso foi até o amanhecer! Quando, pouco antes do sol aparecer, Pawu, por malvadeza e, se aproveitando da situação das crianças, transformou todas elas em cigarras. E elas, saíram voando.

Palup, assustado e com remorso, pergunta: - Ei, aonde vocês vão? Tarde demais! As cigarras se debandaram pelo meio do mato.

Até hoje, as cigarras nangará, gostam de ficar agarradinhas nas árvores e cantam com grunhidos e som estridente até morrer.

Gabliel Coelho
Enviado por Gabliel Coelho em 02/05/2024
Código do texto: T8055016
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