A VADIA RECATADA

“Sou vadia mesmo! E ninguém tem nada a ver com isso”.

Era assim que Claudinha se apresentava àqueles que falavam às escuras de seus trajes minúsculos e provocantes. Era arretada, cansada-de-guerra e não perdia o rebolado qual fosse o motivo. Só não gostava de ser chamada pelo nome verdadeiro “Ângela” dizia ela “Ângela é nome de anjo e cá entre nós de anjo eu não tenho nada”. Provocava todos os homens, principalmente os casados, pois ela não tinha marido e gostava de mostrar que nenhum homem é fiel ou merece ser respeitado. Fazia sexo só por fazer pois prazer não sentia.

Certa vez quando já não tinha mais o que fazer, Claudinha saiu à procura de um pouco de diversão, queria provocar alguém, arrumar confusão. Foi ao bar da esquina onde algumas pessoas conversavam e lá começou a noitada com o primeiro gole.

-Ô Manel, traz aí uma cachaça daquela que só mesmo as putas gostam. Não era a toa que Claudinha não tinha amigos, ela não respeitava nem a si própria, perambulava de um canto a outro sem direção ou destino a chegar. Era da noite e da vida, e mulher da vida é para a vida guiar, seja ela qual for o caminho, assim dizia Claudinha. Pegou a cachaça e tomou num gole só, sem fazer cara feia e a próxima não durou mais que três segundos. “Hoje eu vou beber até cair”.

Foi lá pelo vigésimo copo que Claudinha notou que um homem lá no fundo do bar a observava e mudo trocava olhares provocantes e que lhe tocavam até a alma. Desta vez ela sentiu um arrepio na espinha que fez com que ela parasse imediatamente de beber. Foi até à mesa do jovem rapaz e com todos os bafos e sorrisos amarelos, ela perguntou seu nome.

-Angelo. Meu nome é Ângelo.

-Prazer, o meu é. . . antes que ela pronunciasse seu codinome, ele mesmo falou. – Ângela. Seu nome é Ângela.

Claudinha neste momento ficou paralisada e não pronunciou mais nada aquele momento. Ficou estática e como se fosse um milagre não ficou irritada com aquela ofensa. Era assim que ela dizia, que seu nome era uma ofensa.

-Como sabe meu nome? Eu não disse nada.

_Angela, eu vim a este bar para mudar sua vida, desde que você queira mudar. Posso fazê-la bem melhor, ser uma pessoa aceita e quem sabe até casar.

Neste momento Claudinha soltou um riso sinistro que até o cachorro que aguardava pelo resto de comida, saiu em disparada.- casar? Eu? Só se for na próxima novela das oitos. Quem neste mundo iria casar com uma vadia como eu? Eu sou o resto do mundo. Aquilo que ninguém que mais. Eu sou puta, ouviu p. u. t .a. e pôs-se a chorar. Então naquele Ângelo pôs suas mão na cabeça de Ângela e um brilho reluzente começou a pairar sobre seu corpo e uma imensa alegria, misturada a calma tomou conta daquela que deixara de ser imunda. Da maneira que o brilho aumentava, Ângelo desaparecia daquele lugar e tudo se apagava da mente de quem presenciava tal mudança. Um silêncio toma conta do bar por alguns instantes. (. . .) mais silêncio (. . .)

- Por favor, senhor Manoel, pode me servir um café-com-leite? Era a nova Ângela, porém agora com sua personalidade fiel.

- O quê mais a senhora deseja D’Angela, perguntou o dono do bar, com uma voz serena.

-Neste momento nada, mas se mais tarde o senhor quiser passar lá em casa, assim por volta das vinte e duas horas, eu vou lhe mostrar o que mais eu posso querer.

E saiu do bar com sorriso malicioso e com um rebolar discreto.

Henrique de Paula
Enviado por Henrique de Paula em 04/04/2008
Código do texto: T931450
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