Amanda ou um Estrangeiro Excepcional

AMANDA OU UM ESTRANGEIRO EXCEPCIONAL

Depois da praia Amanda gosta de relaxar, dormir com Jacques e quando acordam por volta das quatro horas fazem amor para depois caminhar pela praia.

Amanda o conheceu quando estava viúva há um ano. Não pretendia nem pretende casar, achava que um ótimo casamento e um homem maravilhoso acontecem por sorte uma vez na vida de uma mulher.

Ela teve o seu quinhão e com a morte do companheiro resolveu aproveitar a vida simplesmente, superficialmente. Conheceu Jacques em uma de suas viagens de negócios em Grande Oceano , uma cidade maravilhosa á beira-mar.

Jacques é um italiano bem apessoado, de sessenta anos e trabalha com telefonia celular entre a Itália e o Brasil. Riquíssimo, é divorciado, tendo uma filha já casada e encaminhada na vida. Conheceram se em um barzinho no bairro francês. Simpatizaram. Jacques anotou o endereço pois voltava no outro dia para a Itália e começou a telefonar. Combinaram um fim de semana juntos em Grande Oceano .Jacques a levou para um motel vipérrimo. Havia uma janela redonda da qual se visualizava o oceano. Os dois se gostaram e gostaram tanto que resolveram passar outro fim de semana juntos, desta vez em uma pequena aldeia turística perto de Oceano Grande. Ficaram em um Albergue, uma casa, onde ele alugou a cobertura com uma vista esplendida. Mais bonito era ver Amanda, pensava Jacques. Mais bonito é ver o Jacques, pensava Amanda.

Os dois são adultos, maduros, quarentões, divorciados, riquíssimos e não pensam em casar, principalmente Amanda. Resolveram continuar o s encontros pois, se ela se revelou uma surpresa para ele como mulher, já que nunca o quis prender ou amarrar como tantas outras, ele foi maravilhoso para ela em todos os seus encontros.

Combinaram passar as férias em Rochas Salgadas. Jacques ficaria se quisesse e gostasse. Ele gostou e ficou. Gostou dela, e gostou mais ainda ao saber de toda a sua vida, "dedada" que foi por uma amiga chamada Silvia Simone. Jacques se chateou quando ela lhe contou que Amanda punha uma data de seis meses de duração para cada homem que tinha após a morte do marido, porque achava que era o período de paixão. Depois vinha a luta para manter a paixão no cotidiano e o entendimento e ela se desinteressava. Sílvia esperava que Jacques achasse graça da amiga, mas se surpreendeu ao topar com um cenho franzido e um homem que habitualmente era brincalhão se tornou rapidamente sério ,dizendo:

- Bem, Silvia, então ainda me resta um mês. Só o que a Amanda não sabe é que não brinco com os sentimentos das mulheres e, portanto, não gosto de mulheres que brinquem com os meus. E tem mais, Sílvia, eu sou calabrês, não sou antiquado, mas sou calabrês.

Jacques mudou com a companheira e não a deixou saber da conversa sigilosa mantida com a amiga.

Amanda estava esta tarde após relaxar, pensando na mudança de Jacques para com ela na última semana sem o entender: "Vai ver, passou o período de paixão," e olhava para o companheiro que neste dia dispensou as caminhadas, pegou um livro e leu serenamente, enquanto Amanda o estranhava cada vez mais. Resolveu falar no assunto:

-Enjoaste Jacques? Cansaste do nosso relacionamento e estás partindo para outra?

-Ora, Amanda, não me digas bobagens! Não sou homem de trocar de mulher como troco cuecas. Sou moderno mas, sangue italiano de calabrês me corre nas veias. Compreendes Amanda? Achas que faço toda uma viajem para que? Somente para te possuir por um período? Que absurdos pensas de mim.! Quando nos encontramos eu estava atrás de uma mulher, uma mulher para viver comigo e já havia desistido. Hoje a mulher está aqui em minha frente e vem me perguntar se eu quero outra depois de uma tarde de amor e de um relacionamento de cinco meses! Por quem me tomas, afinal Amanda? Um pedaço bom de carne que se joga fora, e com duração de seis meses? Estranhas ao me ver ler um livro? Pois vais estranhar muito mais quando me vires trabalhar, querida. Passa os teus bens, Amanda, para teu filho que é adulto e responsável, larga o que era do pai dele para ele e vem ser minha mulher. Mulher no dia a dia, no cotidiano. Vai ser bom, vais ver. Eu não quero nem pretendo competir com um morto, que é meu rival, mas não vais te arrepender, sequer de teres ficado viúva. Agora me usar por seis meses e depois me largar porque terminou a paixão logo quando vem o melhor, vem o amor, vem um relacionamento maduro...Bem, eu estranho, estranho muito mesmo,aliás, eu estranho e não vou permitir que faças isto comigo e contigo também porque, se eu perco, vais também perder.

Jacques larga o livro e se levanta olhando para uma Amanda espantada e, sorridente, faz um afago na mulher dizendo que ia dar um mês para ela pensar, este último mês e quando completassem seis meses então ela o podia mandar embora ou ir com ele, casar com ele.

Jacques falou seriamente, como nunca havia feito com ela, em tom de voz clara, sincera, vibrante ,e mostrando o homem afirmativo que é. Depois de dizer o que queria abriu a porta e saiu com o cachorro dizendo que queria passear sozinho.

Amanda olhou para baixo e viu um homenzarrão com um cão a passear. Sabia dele, tinha percebido uma personalidade fortíssima , por isto nunca havia contado suas idéias a respeito de amores depois que ficou viúva. Deu graças a Deus por não ter falado. Suspeitava, entretanto, que tivesse sido dedada. .Rochas Salgadas é muito pequena, pensa.

De repente Amanda sorri vibrantemente ao lembrar de Silvia Simone quando, logo após sua viuvez lhe perguntou:

- Fostes feliz no teu casamento, Amanda?

- Fui muitíssimo, a vida me deu o meu quinhão ,Silvia.

-Então te prepara para outro, - disse Silvia sorridente- pois dizem que uma mulher que fica viúva e foi feliz no primeiro casamento, sempre repete a dose!

Amanda chegou a rir ironicamente naquela época, mas neste momento ao ver o homenzarrão decidido que se levantou protestando contra ela, com um jeito muito sedutor e sério que não lhe era peculiar, parou de rir, perdeu as dúvidas, acreditou nas palavras de Silvia Simone e no homem que o acaso pôs em sua frente. Resolveu lutar novamente por um entendimento e já que no passado o fez com sucesso, porque não outra vez? Porque não ,se estava apresentada ao homem certo?

Jacques nunca mais tocou no assunto aquele mês e a impediu de falar. Acompanhava a, era ótimo amigo, lia ,fez relações sociais na praia, principalmente com Silvia Simone e Nathalie a quem achava tristonha. Conheceu o Alex, um amigo de Amanda a quem disse que se despedisse dela pois a ia levar. Conversavam muito os dois e Jacques chamou a atenção de Alex para Natalie Sabia a vida que o outro levava e o achava semelhante à Amanda. Por outro lado Nat estava só e lhe parecia muito infeliz. Jacques gostava de unir casais, era um de seus hobbys, então sempre que havia oportunidade usava seu amor e bom humor para reunir as pessoas.

Amanda observou o amante este mês. Viu o passeando, lendo e se relacionando. Viu o se interessando por seu filho, suas amigas, em altos papos com o Alexandre e a Silvia Simone. "Fofocavam" sobre Natalie, Alex e Nicole, claro !Notou que ele gostava das pessoas que a rodeavam, gostava até do seu cão, e começou a se questionar. Era dura de queda, ela sabia, mas estava caída pelo estrangeiro. Lembrava em muito o primeiro marido Ronaldo, que esteve com ela e ficou e lutou e nunca mais a deixou. Eram semelhantes. O caminho estava aberto . O filho, criado. Os amigos todos bem e ela, em verdade, nunca foi a mulher egoísta e mesquinha como ultimamente se apresentava e muito menos superficial. Ocorre que estava passando um período difícil em sua vida, uma fase de luto e havia reagido desta forma para não sofrer mais, para se defender. Tinha medo de gostar novamente e perder. Jacques, homem muito inteligente, deve ter se apercebido e a ajudou. Amanda tomou sua decisão, exatamente à meia noite do último dia do sexto mês em que estavam juntos.

Entusiasmada, olhou para Jacques, dizendo:

--Como é, Jacques, vamos começar a luta?

Um homenzarrão, um calabrês e que não negava suas origens se levanta:

- Não, Amanda, vamos continuar a luta, ou não percebeste que luto por ti desde o dia em que te conheci. Porque o melhor motel, minhas viagens para cá, porque o melhor Albergue, os melhores vinhos? Porque eu sempre soube que meu rival é o pior rival que um homem pode ter, um ótimo marido, morto. E te digo desde já, Amanda, que se quiseres vou me embora. Entretanto, se eu for, eu não volto, és tu quem vais me procurar se quiseres...

Amanda nunca precisou procurar o Jacques, mas também nunca mais brincou com os sentimentos de um homem, muito menos sendo ele calabrês . Casou aos 56 anos e, sem culpas, foi feliz novamente.

Suzana Heemann

Suzana da Cunha Heemann
Enviado por Suzana da Cunha Heemann em 08/05/2008
Reeditado em 28/06/2008
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