1. O velho, a ponte, as montanhas, e um sonho.

Deivid sentia seu corpo leve. Tão leve como a brisa que tocava seu rosto, ou a pluma colorida dum pássaro, que com graça fazia piruetas no ar. Seus pés não tocavam o chão. Ele não sentia as plantas, ou a terra sob seus pés. Apenas Flutuava deslizando pelo ar como as folhas secas do outono. As gramas que cobriam o solo formando um extenso tapete verde deitavam com o vento apontando para o norte. Um grande cânion cortava a terra plana. Uma velha e extensa ponte construída em madeira fazia a ligação entre os dois lados, precipitando-se por sobre o corte que parecia dividir a terra em duas partes. Deivid sentia seu corpo ser impulsionado em direção a ela por uma força a que ele não era capaz de resistir. Na cabeceira da construção quase em ruínas, um velho senhor de estatura baixa, barba branca, olhos puxados, e com uma reluzente careca, trajado em roupas largas e esvoaçantes de cor cinza, girava seu corpo insinuando um convite, apontando uma de suas mãos ao horizonte, tão distante, que os olhos de Deivid não viam nada além duma sombra azulada e os contornos das montanhas que se crepitavam em direção ao céu. Num tom de voz pausado, o homem dizia: “Venha Comigo... Não tenha medo... Venha Deivid”...

BIBI-BI. BIBI-BI. BIBI-BI...

Deivid passou as mãos sobre o bidê, buscando pelo despertador, que toda manhã, teimava em acordá-lo. Desligou-o e em seguida ouviu a porta tocar e segundos depois sua mãe entrou no quarto. “Vamos garoto. Não vá se atrasar para a escola.” Bocejando Deivid retrucou com preguiça. “Só mais um pouco, mãe”. “Nem pensar”. Disse a mulher retirando-lhe o direito às cobertas, e rasgando o pequeno quarto do apartamento com a claridade vinda da janela, aberta pela mulher. Sem restar alternativas, o jovem foi até o banheiro lavar-se e vestir-se para sair. Seguiu para a mesa do café, estava apressado. Não queria perder a carona do pai até a escola. O homem já estava impaciente com a demora, e temia atrasar-se para o trabalho.

O quadro negro se encheu de fórmulas. A professora Cleusa não costumava poupar seus alunos. Nem mesmo os do primeiro ano, série que Deivid estudava. Sua alegria se dava em ver os pobres alunos envoltos aos cálculos de física. É óbvio que física não era a matéria preferida de Deivid, mas seu desleixo naquele dia estava passando dos limites. Não fosse o auxílio de sua fiel amiga Cris, a professora o teria pegado cochilando por várias vezes durante a aula. “O que há com você?” Perguntou Cris, ao saírem para o intervalo.

– Não Sei. Dormi mal durante a noite.

– Está Sonhando de novo?

– É. Respondeu sucinto.

– Mas essas coisas não tinham parado?

– Havia, porém nos últimos dias não paro de sonhar a noite inteira. E o mais estranho é que os sonhos se repetem. É sempre a mesma coisa: O velho, a ponte, e as montanhas. Devem ser algum significado, sei lá!

– Pode ser. Nunca pesquisou para ver o que podia ser?

– É uma idéia, mas não sei se acredito nestas coisas.

– Mas não custa tentar.

– Pode ser. Talvez à tarde eu pesquise na internet. Por falar nisso, viu aquela guria estranha que apareceu no MSN?

– Vi. Ela é totalmente desregulada...

CONTINUA...

Douglas Eralldo
Enviado por Douglas Eralldo em 09/05/2008
Código do texto: T982765
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