LEMBRANÇAS PRETÉRITAS

Já faz muito tempo que nos mudamos para cá, mas eu ainda me lembro muito bem do lugar em que morávamos antes. Às vezes, quando me bate uma saudade muito forte, eu procuro um lugar isolado e deixo minha mente vagar em alegres recordações.

Lembro que era muito feliz.

Meu pai trabalhava fora, e ficava longe de casa por várias semanas. Minha mãe estava sempre muito ocupada com a casa e tinha muito pouco tempo para mim, mas, mesmo assim, eu era feliz.

Eu me sentia livre como um pássaro, vivia sempre em contato com a natureza, gostava de tomar banho de rio, e ficar horas e horas deitado na relva escutando o barulho do vento nas folhas das árvores.

Muitas vezes eu me esquecia do tempo, e, quando chegava em casa, tinha de escutar um sermão da minha mãe.

Mas eu era muito feliz.

À noite, quando minha mãe dormia, eu saía pé ante pé para não acordá-la, e ia para a varanda de nossa casa admirar o céu. Eu gostava de olhar as estrelas, e ficava imaginando se algum dia iria vê-las de perto onde pudesse quase toca-las.

Ficava ali na varanda, sonhando acordado, e só me dava conta do tempo quando o sol despertava por trás dos morros que existiam por detrás da nossa casa. Só então eu voltava pra cama e sonhava com as estrelas na palma da minha mão.

Eu era muito feliz.

Ainda lembro quando meu pai chegou com a notícia da mudança.

Era início da primavera e eu estava cuidando das flores do nosso jardim. No começo eu não me importei muito em sair dali, pois, em meus pensamentos, todo lugar seria igual aquele, e, para onde quer que eu fosse, sempre existiriam um rio onde eu pudesse tomar banho e árvores para terem suas folhas balançadas pelo vento.

Eu era um sonhador.

Os dias passaram e a hora da mudança chegou.

Eu já havia me preparado. Já tinha me despedido do rio, do vento e das árvores. Pedido a eles que não ficassem tristes pois, logo, logo, nós estaríamos junto novamente.

Como eu estava enganado.

A viagem foi rápida. Nossa nova casa era muito melhor do que a que morávamos antes, maior e mais confortável. O Trabalho do meu pai era melhor e ele vinha mais frequentemente em casa. Minha mãe ganhou uma ajudante na casa, e agora tinha mais par mim.

Porém, eu não era mais feliz.

Não existia mas o rio para eu me banhar em sua águas, nem o vento para soprar as folhas das árvores que também já não existiam mais. Tudo era silencioso e sem vida.

Mas isso já faz muito tempo, eu ainda era muito jovem. Hoje o meu passatempo é assistir programas na holovisão.

Às vezes, quando a saudade é grande demais e me aperta o peito, eu vou para a varanda da nossa nova casa e fico olhando o céu esperando ela aparecer.

Algumas vezes a espera me angustia por sua demora, mas ela nunca me decepciona, ela sempre vem, majestosa e imponente, enfeitar o meu novo céu com a sua beleza. E eu fico ali embevecido a admirá-la. Ela que sempre foi o meu lar, e que hoje povoa as minhas lembranças, a minha doce e adorável TERRA.