DEUSES E DEMÔNIOS II

PARTE 2 - A DIABÓLICA MIRA

Avançamos cuidadosamente e inspecionamos vários prédios, estavam todos completamente vazios e limpos. Eram construções recentes e não havia pintura. Tudo concreto e vidro. Aparentemente o ambiente estava pronto para receber seus ocupantes, mas que seriam? Decidimos buscar um local onde pudéssemos descansar e pensar no que faríamos. Finalmente depois de uma demorada busca, encontramos um quarto no subsolo que deveria ter sido usado pelos operários e continha beliches e em um armário, alimentos concentrados. Havia água potável, mas nenhum sinal de luz elétrica. Certamente deveria ter um gerador, cujos componentes não encontramos. Estávamos exaustos e caímos na cama. Por via das dúvidas trancamos a porta. Certamente eles viriam vasculhar o local, mas estávamos em um compartimento dois pisos abaixo do solo e talvez não nos encontrassem. Acordamos já quase ao anoitecer e depois de fazer um lanche à base de concentrados, passamos a analisar a situação. Minha memória voltava aos poucos, mas progressivamente. Já lembrava de quase tudo até o momento do acidente. De lá para cá não vinha nada à mente e Maira então encarregava-se de me por a par.

– Maira, acho que estamos em Even 2, lembro que Iub mencionou este planeta quando pilotei a nave que a levou em uma missão diplomática a cidade de Awul onde seu pai é o rei.

– Acho que sim, também já havia ouvido falar. Nossas naves bateram quando você voltava de uma missão e resolveu observar o planeta. Eu fugia dos traficantes e me perdi com os controles da nave então ao contornar uma montanha dei de cara com você.

– Ok! Até aí nós sabemos, depois o que aconteceu?

– Bem os caras nos apanharam, estávamos distraídos e nem percebemos a nave deles.

Depois nos levaram para a tal clínica e queriam saber da nave. Bateram muito na gente, mas nós agüentamos e então nos entregaram ao médico. Sua perda de memória deve ter sido um efeito colateral por que não faria sentido já que eles precisavam que a gente lembrasse. Acho que queriam apenas nos manter sedados.

– Creio que sim. O Rogério já deveria ter-se manifestado, ele com certeza sabe onde estamos.

– Talvez seja pelo efeito da droga também, ou uma interferência. Você disse que na volta da missão receberia o treinamento para colocar o tal cristal Alpha Z.

– Sim! O Rogério acha que eu já posso ...

– Espere! Você está ouvindo?

– Sim parece o barulho de uma nave. Saímos e subimos por uma escada de serviço e esgueirando-nos pelas paredes chegamos ao prédio que dava para uma área aberta e deparamos com um disco voador descendo suavemente. Fazia um zumbido característico e pousou vagarosamente. Um facho de luz azulada projetou-se e uma escada desceu suavemente. Então duas figuras começaram a surgir descendo pela escada. Eu esperava ver um dos cinzentos que costumam utilizar este tipo de nave, mas eram dois homens, isto é um deles gesticulava muito e falava como um travesti.

– Que horror! Até agora não chegaram com os móveis e o resto do pessoal, isto é um insulto!

– Maira, é um traveco! Acho que podemos arranjar uma carona.

– Jogue um charme pra cima dele quem sabe? Falou Maira com um ar de gozação. Resolvemos encarar a possibilidade, revisamos as armas e resolvemos descer ao pátio e tentar.

– Oi! Falei aproximando-me.

– Quem são vocês? O Turah já está chegando? Vocês o estão esperando?

– Não, apenas nos perdemos e nossa nave foi destruída e precisamos sair daqui.

– O que você acha? Falou o traveco para o outro homem. Ele aproximou-se e falou algo ao ouvido dele.

– Fala pra eles que tudo bem! Só que eu quero a gata que está com ele. Eles não sabiam que praticamos telepatia de formas que eu pude entender o que falavam.

– Moço, o meu parceiro quer a sua companheira em troca da carona.

– Nada feito! Falei. Ao ouvir isso o parceiro do traveco sacou a arma, mas eu fui mais rápido e o atingi no peito. Ele soltou um grito e esparramou-se no chão. O travesti então tremendo como vara verde falou.

– Por favor, eu estou desarmada.

– Tudo bem! Falei.

– Agora vamos sair daqui. Tem mais alguém a bordo?

– Só o piloto. Mas não está armado.

– Ok! Maira pegue nossas coisas. Vamos para casa. Maira voltou correndo o mais que podia para apanhar nossos pertences. O travesti me examinava de cima a baixo mas ainda estava muito nervoso. Apenas me observava sem falar nada. Maira voltou e subimos todos para a nave.

– Certo meu camarada agora é comigo. Mande seu piloto descansar que agora sua nave está confiscada em nome da federação.

– Da federação? Você é piloto da federação? Por que não falou, eu teria todo prazer em dar uma carona.

– Seu amigo precipitou as coisas. Eu não podia deixar ele atirar. Sua nave será devolvida tão logo cheguemos ao nosso destino. Sentei-me ao comando e acionei os comandos, era fácil de pilotar, apenas um manche eletrônico, como um joystick e controles eletrônicos de aceleração.

O mapa estelar no painel me dava a orientação que precisava. Acho que eles não conheciam os espaços paralelos e então programei as coordenadas usando os símbolos universais existentes no painel e alçamos vôo. Aquela coisa era bem rápida e logo estávamos atingindo a velocidade ideal. Programei o piloto automático e sentei-me junto a Maira em uma mesa central. A cabine onde estávamos era redonda com portas em ângulos de 45° que davam para 4 corredores.

– Muito bem! Como afinal é seu nome? Perguntei ao travesti. Carlo, mas pode me chamar de cacá.

– Ok! O que vocês faziam em Even 2, é esse o nome do planeta não?

– Sim respondeu ele. Nós estamos montando um complexo de hotéis e cassinos. Participamos de um consórcio interplanetário. Minha mãe é sócia no empreendimento.

– Boates também? Perguntou Maira.

– Claro querida, cassinos sem boates não tem muito sentido não acha? Maira olhou-me com um trejeito desconfiado. Claro que ela estava pensando o mesmo que eu. Teríamos que ficar de lhos abertos.

– Bem! Perguntei, de onde trazem as mulheres?

– Hora querido, nos temos gente especializada na contratação delas, espalhadas por toda a galáxia. Contratação? Seqüestro seria o mais apropriado.

– Há! Com certeza é um bom negócio, falei como alguém apenas curioso. Teria que tratar o assunto com cautela.

– Sim! Respondeu Carlo, nem imagina a grana que alguns viajantes deixam em cassinos, principalmente se tiver bastante mulher bonita. Então me veio a cabeça que de repente nós havíamos caído numa cilada. E se este travesti fosse do grupo de seqüestradores e tivesse ido ao nosso encontro propositalmente? Isto na minha mente era uma hipótese cada vez mais forte e não tardaríamos a descobrir. Uma luz verde começou a piscar sobre a mesinha ao lado de Carlo no que deveria ser um fone. Ele atendeu.

– Oi! Querida! Sim! Sim!. Você que manda, quando quiser... Antes que ele largasse o fone, as portas dos corredores abriram-se e Homens uniformizados e fortemente armados surgiram com armas apontadas em nossa direção. Qualquer tentativa de reação seria inútil, eram muitos e estrategicamente éramos alvos fáceis. Colocamos vagarosamente nossas armas sobre a mesa e erguemos os braços.

– Bem! Queridos, agora vocês irão conhecer Mira a nossa comandante suprema. Carlo tinha um sorriso irônico no rosto e uma expressão de altivez. Um dos soldados falou.

– Acompanhem-nos. Guiaram-nos através de um dos corredores e chegamos a uma sala ampla com uma cadeira parecendo um trono dos contos medievais. Mira era uma mulher muito bonita, com olhos estranhos, alaranjados, quase vermelhos. Sentada com ares de rainha encarou-nos com frieza e sem dizer uma palavra, fez um gesto com a mão espalmada em direção a um dos soldados. Ele começou a contorcer-se e gritar de dor e aos poucos seus joelhos dobraram-se e ele caiu sobre o tapete agonizando. Com um último estremecimento seus olhos arregalaram-se e ficou imóvel.

– Isto é para que vocês saibam com quem estão lidando. Estou muito aborrecida porque andam xeretando meus negócios. Isto acontecerá com sua companheira se não fizerem o que vou mandar. Levem a moça para a cela ao lado de meus aposentos. Deixem-me a sós com o bonitão quero falar com ele. Os homens obedeceram e fiquei só com a estranha mulher.

– Rodrigo! Falou olhando-me de cima abaixo.

– Hei! Como sabe meu nome? Perguntei.

– Sei muitas coisas e o que você viu é apenas uma das coisas que posso fazer. Sua companheira será morta caso não traga até mim, os diamantes que ela roubou. Você terá uma nave e um acompanhante para voltar a Even 2 e trazer os diamantes. Feito isso eu liberto sua companheira, mas tenho planos especiais para você. Fez um gesto estalando os dedos e um dos homens apresentou-se na sala.

– Acompanhe o nosso amigo, quero aqueles diamantes o mais rápido possível. Agora vão! Dizendo isso retirou-se. Seguimos por um dos corredores até uma área central onde uma nave de combate estava pronta para partir. Acomodamo-nos nos acentos e uma voz familiar chegou aos meus ouvidos.

– Calma, companheiro, não fale apenas ouça. Estou acompanhando tudo, apenas precisava de mais detalhes. Por enquanto faça o que pedem, eu estarei de olho. Mira tem muito poder. Assim como nós usamos nossa capacidade para construir, existem forças que agem para destruir e pensam somente em si mesmos. Era a voz de Rogério, mais conhecido agora por Adan 8 o apelido herdado desde que assumira o posto substituindo Adan 7.

A escotilha abriu-se a saímos para o espaço.

Lauro Winck
Enviado por Lauro Winck em 08/05/2010
Código do texto: T2244797
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