OS INIMIGOS - PARTE 5 - FINAL

Jessica tratou de levar ao comando uma solicitação de investigação urgente. Uma das providências obviamente seria a comparação do DNA dos pais com o do bebê. Enquanto aguardava ela desdobrava-se entre atender as necessidades de Tehra e tentar consolar Hauk que nem conseguia comer de tão abatido que estava. Tehra também tentava consolar o companheiro. Deveria haver uma explicação e logo saberiam.

– Hauk! Não falei nada a você, mas não gosto daquele tal do doutor Igor. Tem alguma coisa nele que me incomoda.

Os dias se passaram e o resultado do DNA comprovou o que todos temiam. O bebê não era filho de Hauk. Isto causou uma convulsão interna no hospital. Como diabos alguém teria conseguido engravidar Tehra? Hauk já havia perdido o sossego e agora somava-se a incerteza. Tehra o teria traído? Mas como?

Diante das circunstâncias Jessica solicitou ao comando que fosse analisado o DNA de todos os membros masculinos com acesso as dependências do Hospital e que tivessem qualquer característica semelhante as do bebê. Uma das enfermeiras foi procurar Jessica. A doutora Jessica era uma espécie de coordenadora dos serviços sociais do exército. Concentravam-se nela todas as decisões que envolvessem o relacionamento social da entidade. Mandou que a enfermeira sentasse e obviamente ficou esperando alguma reclamação da funcionária.

– Doutora! Sobre este caso com os extraterrestres eu tenho uma suspeita e gostaria de lhe falar.

– Pois não! De que se trata?

– Do doutor Igor! Eu era a enfermeira encarregada da paciente Tehra e acho estranho o fato do doutor Igor passar horas no quarto da paciente, segundo ele para observações.

– Puxa! Você sabe o que isso significa? Esta é uma suspeita muito grave.

– Sei perfeitamente e sei que estou sujeita as leis militares. Mas, tem mais. Desde que foi pedido o exame do DNA dos homens, o Doutor Igor pediu uma licença e sumiu. – Está bem! Fique por perto! Vamos precisar de seu testemunho. Tem como relatar os dias em que ocorriam tais acontecimentos e os horários?

– Sim! Tenho tudo anotado na planilha de controle de serviços.

– Ótimo! Vou tomar providencias. Neste momento alguém bateu à porta de forma insistente.

Jessica abriu a porta e deparou-se com uma das enfermeiras ferida e já quase sem forças, mal conseguiu balbuciar.

– Tehra! Eles a levaram com o bebê!

– Eles quem?

– Dois militares usando toucas ninjas. Tentei impedi-los e um deles me deu uma coronhada.

– Há quanto tempo foi isso?

– Não sei! Eu desmaiei e assim que fiquei consciente vim procurá-la.

– Viu para onde a levaram?

– Não! O sangue tapou os meus olhos.

– Ok! Vá para a enfermaria tratar o ferimento.

Jessica ligou para o comando da polícia militar que mandou trancar tudo. Ninguém poderia sair da base. Mas seguramente era tarde eles já tinham deixado o local. Um funcionário da cozinha do hospital viu quando os dois homens a colocaram em um carro preto oficial e saíram. Passaram pelo portão utilizando credenciais do serviço de operações especiais sem serem incomodados. Era gente do Igor. Certamente ele iria usá-los como refém ou para barganhar alguma troca, já que acabava de revelar-se como culpado. Agora era necessário descobrir para onde teriam ido. As barreiras nas estradas não surtiram efeito. Eles deveriam estar em algum local não muito distante dali. Mas onde?

Igor sentado em sua cadeira de couro, observava sua presa algemada. Agora ele a teria só para ele.

– Um dos homens perguntou.

– O bebê, o que fazemos com ele?

– Levem-no. Vocês sabem o que fazer. Tehra tentava inutilmente desfazer-se da mordaça que lhe tapava a boca. As lágrimas escorriam por seu rosto e ela era impotente para tentar qualquer reação. Os homens saíram e ele aplicou-lhe novamente uma injeção.

– Agora você está onde eu quero. Meiga e submissa. Posso até soltar suas mãos e levá-la para o meu quarto. Vai ser uma noite bem interessante.

Dois dias depois um agricultor localizou um carro preto com chapas brancas dentro do açude do seu sítio. Chamou a policia que já ajudava nas investigações colaborando com a policia militar.

Durante a fuga do quartel Tehra conseguira mesmo algemada, tirar a carteira de um dos raptores que estava no bolso direito do paletó. Tehra sabia que eles iriam abandonar o carro então jogou a carteira sob o banco em que estava o dono da carteira. Para a polícia foi difícil localizá-los quando tentavam embarcar em um vôo para fora do país. A casa do doutor Igor possuía um subsolo com um sofisticado sistema de calefação e uma decoração moderna e igualmente sofisticada. Ele foi preso ao voltar do supermercado do bairro. Os cúmplices prisioneiros haviam contado tudo. Tinham medo do Coronel que conduzia o inquérito por sua fama de homem duro. Eles contariam de qualquer maneira. Júlio o mais moço dos dois quando perguntado sobre o bebê, mostrou-se até humano.

– Eu não o matei. Está com minha esposa na casa dos pais dela em Mato Grosso.

Jéssica tomou as providências para ir buscar o bebê e encaminhou Tehra para tratamento de desintoxicação das drogas aplicadas por Igor. Mas naquela noite Hauk tinha planos diferentes. Utilizando toda a sua capacidade de homem treinado para enfrentar qualquer adversidade. Esgueirou-se como uma sombra até o prédio onde estava a cela de Igor. Rendeu o sentinela e fez com que o levasse até a cela de Igor. Chegando lá falou em um português meio tosco.

– Tenho um presente pra você. Foi apenas um tiro. Certeiro no meio da testa. Então ele entregou a arma ao guarda e rendeu-se. Sabia que seria punido. Tehra veio vê-lo no dia seguinte. Conseguiu permissão para ficar a sós com o companheiro.

– O bebê? Como está? Perguntou a Tehra.

– Não sei! Jessica viajou, mas não chegou a falar comigo.

Terminada a hora da visita o guarda veio abrir a cela e deparou com um quadro terrível. O casal estava morto. Ela deitada sobre seu peito estirados na cama e de suas bocas corria um pequeno filete de uma substância verde. A cápsula jogada ao chão não deixava dúvidas. Um veneno letal. Jessica voltou com o bebê na manhã seguinte, pretendia fazer uma surpresa ao casal. Mas o guarda lhe entregou um bilhete escrito em esperanto que dizia. Amiga, cuide bem de nosso filho se estiver vivo. Não tivemos sorte em nossa busca de um lugar onde pudéssemos sobreviver. Vocês são muito estranhos. Parece que usam de seus semelhantes como escravos ou subalternos de suas mais estranhas obsessões. Parece que em seu planeta a vida não tem nenhum valor e nem existe um sentimento de lealdade para com seus semelhantes. Somos gratos a você pelo que tem feito por nós. Mas não temos condições de viver segundo suas normas. Não nos queira mal, se nossa atitude causar-lhe algum contratempo. Adeus.

Jessica olhou para o rostinho tranqüilo do bebê que agora seria seu compromisso. Torná-lo um homem de bem. Iria chamá-lo Daniel por ter sobrevivido a sanha das feras assassinas que se escondem em seres humanos.

FIM

Lauro Winck
Enviado por Lauro Winck em 18/07/2010
Código do texto: T2385499
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