Mirabela-O amargo sabor do destino

Agora a senhora Lázara estava inconformada e não queria consôlo. Nada do que lhe dissessem iría arrancar-lhe tamanha dor de seu peito. A senhora Albertina naquele momento não cabendo em sí de tanta angústia, caminha desesperada até a janela, olha para o céu e como num sinal de protesto ou de refúgio para toda a dor que despedaçava-lhe o peito, grita desesperadamente: - Eu quero a minha filha de volta!!-Não!!meu Deus, a minha filha não...

Depois cai de joelhos, puxando os próprios cabelos com tamanha força enquanto que aplicava-lhe tapas no próprio rosto, como se estivesse se culpando pelo triste acontecimento. E como que vencida pela fraqueza, levanta-se e vai até a cadeira da mãe, ajoelha-se e apoia a cabeça em seu peito chorando copiosamente.

- É definitivo mãe! levaram a nossa Mirabela, e assim como o pai, ela jamais voltará. Nós jamais tornaremos a ver nossa menina...

- Não diga bobagens Albertina, é claro que veremos Mirabela outra vez.

Já passava das dez da manhã, Mirabela ainda permanecia desacordada, enquanto que a sua volta, como num bando de abutres toda a quadrilha de D.Vaggio esperavam que acordasse, inclusive ele, o próprio.

- Veja chefe! ela está acordando...

- Silencio, idiota...

Mirabela acorda sobressaltada, senta-se e olha para os lados com a visão ainda embassada. Ela encontrava-se em meio a um imenso salão, que mais parecia uma quadra de escola de samba. Esfrega os olhos, baixa a cabeça tentando recobrar os sentidos. Permance em silencio por alguns segundos, depois, encarando aqueles homens um a um pergunta assustada: - Onde estou? que lugar é este?

E quando levanta-se e tenta sair correndo, é barrada por D.Vaggio que lhe diz: - Calma menina! ninguem aqui quer lhe fazer nenhum mal

[ depois ele dá meia volta e acrescenta]: - Isto é, se você cooperar...

- Cooperar com o quê? quem são vocês? eu quero ir para minha casa e onde estão minha mãe e minha avó?

O homem a segura levemente pelo braço, senta-a num único banquinho que havia ali e pedindo-lhe calma mais uma vez ordena que todos os homens retirem-se. E depois que todos saem ele então começa a confabular com ela, acende um charuto, põe as mãos no bolso. Dá uma longa pausa antes de começar a falar-lhe, o que contribui para deixá-la ainda mais apavorada. Ele caminha lentamente pelo salão e depois de uma boa baforada de fumaça encara-a de perto.

- Olha menina; você não precisa me encarar desta forma, como se estivesse vendo um fantasma. Porque se tem alguem aqui que vai se dar muito bem, este alguem é você.

- Como assim? o senhor me sequestrou! olha moço eu sou burra, mas entendo muito bem o que é um sequestro. Só tem uma coisa: sequestrados são pessoas que têm muito dinheiro, o senhor pegou a pessoa errada, eu não tenho dinheiro moço...

Depois de dizer isso, ela não se contém e ao invés de chorar começa a soltar inúmeras gargalhadas e ironiza a sí mesma:

- Coitado do senhor! não poderia ter sequestrado alguém melhor? acho que vou ter que lhe dar as minhas flores para pagar o resgate.

Muito irritado o homem grita alto: - CHEGA!!! não faça brincadeiras. Tudo isso é muito sério mocinha. Se você soubesse com quem está falando tremeria na base.

- Desculpa moço! é que é muito engraçado. Com tanta gente cheia de dinheiro por aí, o senhor vai sequestrar justamente uma vendedora de flores, que tem nome de fruta, que mora numa cidade que nem existe no mapa e ainda por cima, mal sabe ler e escrever. Sabe.. as cartas que eu escrevia para o Santiago eram copiadas cinco, dez vezes para dar certo...

greice
Enviado por greice em 13/09/2010
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