Mirabela- O amargo sabor do destino

Continuação..

-" ... Para uma simples florista como eu, ganhar logo um cargo de chefe é muita coisa.

E mais uma vez, inocentemente ela encara o homem com uma certa dúvida no olhar: - Senhor! eu ainda não entendí, se o senhor nem me conhece, como pode me dar um cargo de chefe se eu sequer sei em que área irei trabalhar...

Baixando lentamente os olhos e novamente encarando D.Vaggio, ela pergunta: - O Santiago! ele está por trás de tudo isso não é? lembro-me muito bem quando aquele homem chegou lá em casa para me trazer para cá. Ele falou claramente no nome do Santiago, é ele não é?

D.Vaggio a segura delicadamente no queixo dizendo-lhe:

- Presta atenção menina: você vai terminar seus estudos, vai aprender a ler e a escrever corretamente e...

- Ih moço! cavalo velho não aprende mais nada não...

- Silencio! não me interrompa. Você vai estudar tudo o que tem direito, inclusive outros idiomas entende?

- Outros o quê?

- Outras linguas.

- Oh céus! moço eu mal sei falar portugues como vou aprender outras linguas?. Não! me desculpe, mas o senhor agora passou dos limites. O senhor é muito patético..

Mirabela termina a frase com uma incontrolável gargalhada e sem conseguir controlar aquele acesso de riso, o que deixa D.Vaggio cada vez mais irritado...

- Pare com isso!.. Você não sabe que precisará comunicar-se com os chefes de outras quadrilhas de outros países sua idiota..

- É isso mesmo moço! o senhor agora disse tudo. O senhor contratou para a sua empresa uma perfeita idiota.

O homem balança a cabeça sentindo-se rendido, achando quase impossivel um diálogo com aquela criaturinha tão singela e tão doce como o seu nome, Mirabela, doce Mirabela. Fruta madura, ameixa pequena, que nem de longe imaginava o amargo futuro que a esperava. Talvez porque toda a sua pureza e inocencia encobrissem com um gigantesco véu azul-dourado todas as agruras da vida.

Os dias passaram-se rápidos. A senhora Lázara e a senhora Albertina, assim como fizeram quando o senhor Ulisses desapareceu, anunciaram em todos os jornais, inclusive com as fotografias de Mirabela espalhadas por toda a cidade, mas foi tudo em vão. Santiago também estava desesperado. Passava a maior parte do tempo ao lado do telefone em busca de alguma noticia e quando este tocava, ele quase que pulava para cima, achando que talvez pudesse ser alguma noticia de Mirabela, da sua Mirabela.

Santiago não deixava ninguém atender ao telefone, nem os pais e nem os empregados. Muitas vezes gritava com os pais que teimavam em atender aos telefonemas. Ele estava agora quase que perdendo o prazer de viver. Já não levava tão a sério os serviços lá das panificadoras do pai. Não estava se alimentando bem e passava a maior parte do seu tempo trancado em seu quarto consumindo-se pela dor da ausencia de sua amada. O que estava causando uma grande preocupação aos pais.

- Flora, o Santiago precisa fazer uma viagem. Deste jeito ele não vai sobreviver, você já reparou como ele está definhando?

- É isso mesmo Manuel! e tudo por culpa daquela inútil. Até longe daqui ela consegue arruinar a nossa vida. Tomara que não apareça nunca mais.

A impressão que se tinha era a de que Santiago talvez estivesse ficando paranóico. Sentia-se zonzo e tinha a impressão de ver coisas e ouvir vozes.

Subitamente ouve-se um barulho vindo das escadas, era ele cambaleando, quase caindo.

- Quem é que está ao telefone? são vocês pai?

- Claro que não filho! ninguem aqui está ligando para lugar nenhum.

- Mas eu ouví lá da extensão. Um barulho de teclas como se alguém estivesse discando algum número. Eu já avisei; estão todos proibidos de mexerem neste telefone. Usem seus celulares. De repente alguém quer me dar noticias da Mirabela, ou ela mesma liga. O meu celular também está livre para quando a Mirabela ligar.

Usando de toda a sua maldade a senhora Flora se aproveita da situação para arruinar ainda mais a vida do filho:

- Para com esta paranóia meu filho. Será que você não entende que ela arranjou um jeito de se dar bem na vida? ora! encontrou algum milionário trouxa que não deve ter os pais que você tem para tomar conta do seu patrimônio e se mandou, nem pensou duas vezes.Estas mulheres são umas pistoleiras meu filho.. E você fica aí, se matando por alguém que a estas horas rir nas suas costas.

- Chega mãe! já destilou o seu veneno de mais. Como você é monstruosa e sem coração...

- Não fale assim com a sua mãe seu moleque!

- Deixa ele Manuel. Um dia você ainda vai me agradecer muito meu filho.

Os dois saem deixando Santiago arrasado. Ele cai no sofá chorando como um louco e gritando pelo nome de Mirabela. Seu rosto encontrava-se quase que desfigurado de tanto que chorou. De repente começa a gritar por Dina a empregada:

- Dina, Dina!

- Pois não, sr. Santiago.

- Alguma noticia de Mirabela?

- Não senhor, por enquanto nenhuma.

- Eu já lhe avisei; na minha ausencia você se encarrega dos telefonemas desta casa. Se souber alguma noticia de Mirabela me chame de onde quer que eu esteja, não importa o que estarei fazendo, virei correndo.

- sim senhor, mas não fique assim. Ela vai aparecer, o senhor aceita um chá calmante?

- Não Dina. Eu quero um copo de veneno

- Cruz credo seu Santiago, não diga isso.

- Eu sou mesmo um infeliz Dina, eu perdí a mulher da minha vida e não posso fazer nada para tê-la de volta.

- Bem, eu estou aqui na cozinha, se precisar de alguma coisa é só chamar.

greice
Enviado por greice em 19/09/2010
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