Uma Estrela Cadente

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Cerrado Sertanejo – Paraíba, Brasil

O Sol brilhava forte aquela tarde e o calor desenhava ondas no horizonte. Até então, nada diferente da maioria dos dias naquelas terras. Juca cortava os arbustos baixos e espinhosos que pareciam tentar agarrá-lo e arrastá-lo até as profundezas da terra, reflexos de um local esquecido por Deus e castigado pelo demônio. As costas nuas ardiam como em chamas. Volta e meia, um ou outro espinho fisgava essa pele nua, mas ela, já acostumada com essa dor, não respondia nem sequer com uma gota de sangue.

Era esse o cenário que se delineava naquele dia fatídico em que Juca Pereira levava o pesado balde d’água do ribeirão ali perto até seu casebre sujo e decrépito. A água era escassa e os pequenos rios iam e vinham ao longo dos meses, como se dançassem, mudando de lugar, enlouquecendo a mente do homem comum, mas não do homem sertanejo.

A noite caia lentamente, como se preguiçosa, o tempo, ainda se mantinha quente, mas o Sol não estava mais a pelar as costas. Demorariam mais algumas horas até que chegasse a temperatura levemente mais amena, ou “frescura da noite” como era comumente chamada pelos caboclos.

Já em sua casa, depois de beber o precioso líquido e contar “causos” com a sua esposa e filhos, Juca se retira para a varanda, à mascar seu pedaço de cana e arrancar fatias de um pequeno toco de madeira, como se aquela fosse a atividade mais divertida do mundo.

Era nesse momento que Juca olhava para as estrelas, não tentava contá-las, sabia que eram muitas. Para ele, isto bastava. Entretanto, mesmo sem contá-las, Juca soube que havia uma estrela a mais no céu aquela noite, uma estrela diferente...

Uma estrela cadente.

Juca havia ouvido há muitos anos, de um antigo coronel, que as estrelas cadentes atendiam desejos. Naquele momento, Juca pensou em pedir por dinheiro, pensou em pedir pela proteção de sua família, e pensou até em pedir por água.

Mas não pediu nada disso. Ele pediu algo bem diferente, algo terrível...

Ele pediu para saber o que havia lá fora, entre as estrelas. Esperou por algum tipo de iluminação na qual ficaria sabendo a resposta. Como ela não veio, desistiu de mascar sua cana e foi-se deitar.

Lá no alto, a estrela cadente brilhava no céu, Juca não poderia imaginar, mas seu desejo estava muito próximo de se realizar. Pobre Juca, se soubesse que terrível desejo havia feito...

Pois naquela noite, a estrela pôs-se a descer, lentamente, com sua luz a iluminar os campos desérticos. Um disco turvo parecia envolvê-la, negro como a noite. Dentro dele, uma criatura esperava. Um viajante de galáxias, uma figura hostil que vinha estudar este novo planeta recentemente descoberto.

Ah, se Juca soubesse o que havia desejado...

Gabriel Valeriolete
Enviado por Gabriel Valeriolete em 02/02/2012
Reeditado em 25/06/2012
Código do texto: T3475555
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