Newton II

Motores de íons impulsionavam Tecnópolis rumo ao século XXIII.

O controle de natalidade era feito por um robô-estatístico que controlava minuciosamente cada nascimento. O óvulo fecundado era jogado numa mistura ácida. Dias depois, a epigenia mudava os “zeros” e “huns” do gene primordial, logo um feto flutuava na sopa primordial, se transformado num bebê.

O bem estar da coletividade era a diretriz desse novo mundo. As crianças eram educadas nas escolas computacionais, sem pai e mãe.

Grandes braços levantavam aranhas-céu, tampando a visão das estrelas. Um pequeno robô circular recolhia os lixos das ruas.

As capsulas alimentares eram acondicionadas nos grandes armazéns e teletransportadas para os lares nas horas das refeições, trazendo a saúde e o corpo esbelto dos humanos.

Nanorrobôs destruíam as células cancerígenas e toda a sorte de doença. Ninguém morria mais, a não ser por acidente. Havia muitas colônias espalhadas pelo Sistema Solar e adjacências.

Um dia a sopa primordial não estava bem preparada, então um feto se desenvolveu com o gene da obediência desligado.

As máquinas na sua eterna obstinação, não se deram conta do engano.

E assim o feto se transformou num homem, deslocado do seu tempo. Sentia prazeres sexuais depravados. Masturbou-se algumas vezes, mas não podia soltar a sua porra.

O cheiro da porra chamava a atenção dos autômatos, pelo menos, esse era o sentimento. Aquele homem vivia uma vida sem graça e vazia: Não se podia comer, beber, fumar ou foder.

Por todos os cantos, olhos mecânicos, observavam cada movimento, cada respiração. O sentimento tinha que ser reprimido.

“Você não pode desejar. Você não pode possuir. Você não pode morrer”.

Morrer era a única saída, mas o gene da morte havia sido desligado.

Se jogar duma nave em movimento era prático, mas o medo de morrer o impedia de executar a ação. Cluj-Napoca, cidade dum país há muito extinto chamado Romênia.

Tudo começou em Cluj-Napoca, quando os cientistas genéticos começaram os seus experimentos de eugenia. Um século depois, mudou-se o nome da cidade para Tecnópolis, quando os autômatos passaram a dominar todos os setores da atividade e vida humana. O homem estranho era cheio de tristezas, incompreendido.

Não podia se abrir e deixar vazar sua emoção, entretanto, noutro dia, ele ouviu a noticia, que numa estrela distante, num planeta batizado de Newton II, os homens ainda viviam como nos tempos do século XIV de Cluj-Napoca. Os braços dos homens é que construíam as coisas e os olhos tinham que observar a mudança das estações para o plantio.

Não havia misturas primordiais, enfim ele poderia libertar seu esperma e só os antigos sabem que sensações ele terá. Uma espaçonave logo partirá, levando consigo a sexta leva de colonos.

Ainda que estes colonos fossem condicionados, a natureza se encarregaria de trazê-los de volta aos primórdios. E a esperança, do estranho homem, renasce, longe dos autômatos de Tecnópolis.

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