Parte Zero

Eu achei que nunca ia escrever isso. A "Parte zero" do meu conto "O Filho do Chefe", mas eu fiz. Espero que curtam e, como sempre lembrem, é um texto humorístico!

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A reunião estava tensa. Todos os assessores tentavam, aparentemente em vão, dissuadi-lo da idéia...

- Senhor, por favor, escute. Não queremos, de modo algum, desmerecê-lo, mas ele é muito novo! – Era incrível como tentar convencer alguém como ele podia causar desconforto e todos ali estavam preocupados com sua ira. – Ele é um bom garoto, esperto e que tem demonstrado grande potencial mas...tão cedo?

Seu olhar era firme e sua atitude de sabe-tudo as vezes irritada, mas era o que colocava ordem na casa.

- Acredito que está tudo decidido. Não vamos mudar nossa opinião por causa de preocupações insignificantes – Todos ali concordavam que esta mania de falar na terceira pessoa era irritante. – Então estão todos dispensados!

Desanimados, preocupados e chateados, os membros da mesa saíram até que pouco tristes. Afinal, foram ali discordar do chefe e nada...

- Gabriel, você fica.

Bom... Nada é perfeito. (Ele que não escute isso) Os outros saíram rapidamente enquanto o coitado do Gabriel ia escutar.

Com a sala vazia, Gabriel sabia que podia sentar bem ao lado do chefe. Ninguém de dentro sabia que ele era o preferido do chefe.

- Meu Deus... Como explicar? – Gabriel começou. Afinal não existe melhor defesa do que o ataque. – Estamos conseguindo a tanto tempo desbancar a concorrência. A panfletagem e nossos homens de campo estão fazendo um papel formidável! Para que botar tudo a perder?

Após um suspiro longo, que parecia uma eternidade, veio a resposta:

- Está tudo em nosso plano. Está no momento de assumir uma campanha mais pró-ativa e agressiva. – Bateu a mão na mesa, estremecendo tudo.

– Se o povo quer sangue, suor e lágrimas, - Ele era chegado em uma frase de efeito - então é isso que eles terão! Se o povo quer ver dramalhão, vão ter todo o dramalhão que puderem suportar!

Gabriel estava apreensivo, não gostava de ver a ira dele, mas ainda assim precisava argumentar.

- Mas... Perdoe-me. –Engoliu em seco. – Não é muito arriscado? Principalmente quando se trata de arriscar tanto?

- Acalme-se Gabriel, tudo vai ser esclarecido em tempo.

O telefone toca. É a secretária. Ele chegou.

- Maravilha. Agora poderemos te explicar.

Uma fração de tempo antes Del entrar, Gabriel realmente achou que ia ver outra pessoa, mas no fim, o mesmo estilo largadão, de chinelos e cabelo comprido (que ele jurava que não havia sido lavado recentemente), ele chegou.

- E ai Gabe? Tudo beleza?

Gabriel abaixou a cabeça, engolindo o nervoso pelo apelido odiado, e resmungou;

- Ai meu Jesus... – e em voz alta – Está tudo perfeito comigo, obrigado.

- Sentem-se, por favor. – ele tentou parecer informal, mas não havia como esconder em seu sorriso carinhoso a preferência pelo recém-chegado.

- Bom. Agora podemos explicar “O Plano”. Gabriel, como você sabe, a tempos pretendo dar uma oportunidade a meu filho. – Importante ressaltar, quando era sobre o filho era sempre “eu” - Ele tem demonstrado iniciativa e não tem medo de arriscar, não se mantendo no velho método do falatório, que sempre nos deixa irado.

Sorridente, faz um gesto amplo para o filho:

- Agora é tua a palavra.

Gabriel respira fundo enquanto ele se ergue e começa a discursar empolgado.

- Bom, o plano é arriscado e envolve uma jogada de marketing jamais tentada. – Entrega uma pasta para Gabriel. – Dá uma olhadinha ai Gabe, os gráficos e as ilustrações falam por si próprias.

Orgulhoso, o filho do chefe senta-se, esperando que Gabriel termine de ler.

Infelizmente, para Gabriel, a leitura só fez com que sua gastrite lentamente voltasse a ativa, dando avisos de se tornar uma ulcera causticante. Realmente era um plano... bem... DOIDO. Ele não conseguia ver tal plano, sequer chegando perto de funcionar.

Entretanto, os dois já olhavam para ele ansioso. O Pai, esperando um elogio, o Filho, desejando um sorriso e Gabriel sabia que teria que ser o Espírito Santo que ia ter que fazer:

- Realmente, muito interessante este plano! – Abriu um sorriso, sabendo que isso manteria seu emprego (e o fato de ser preferido do chefe) por muito tempo. – Posso somente tentar entender alguns pontos em que eu fiquei com dúvidas?

O garoto só faltou pular da cadeira de empolgação em responder.

- Claro! Por favor! Diga!

- Eu ainda não entendi a parte dos 12 propagandistas. Porque 12? Sempre correu muito bem só com um por vez e além do mais, desta vez teremos um marketing tão... – ele procurou palavras para insano. – Incomum, que eu acredito que um investimento tão pesado talvez não tenha o retorno esperado.

- Ah Gabe. Deixa de ser velho. – Ele exitou, podia jurar que Gabriel ia pular em seu pescoço e decidiu pegar mais leve. – O que eu quero dizer é que está na hora que pegarmos o mercado de surpresa. Englobar o mundo de tal forma, que o que oferecemos não seja contestada pela concorrência. O que, diga-se de passagem, está no fim de sua glória.

Ele tomou fôlego, realmente o garoto estava empolgado.

- Imagine, uma conquista de mercado que não poderá ser questionada NUNCA e de uma forma IMPECÁVEL. É isso que eu proponho e é por isso e pela parte “1.d”, que eu espero sua ajuda.

Gabriel travou. Parte “1.d”? Correu ler e ficou mais pálido;

- Você espera que vá e...

- Sim! Claro Gabe! Eu sei que você é bom nisso e além do mais, já foi providenciado que tudo se dê na calada da noite e sem testemunhas. – Ele deu uma risadinha. – Dá um ar mais interessante a tudo!

- Só mais uma coisa. E essa história do parágrafo “14.b”? Ninguém mais tem isso! É muito arriscado! Jesus querido, pensa bem nesta proposta!

Jesus riu.

- Eu sei, eu sei, mas veja, o que vai acontecer? Eles vão ter tudo de mão beijada e vão poder viver calmamente, sem preocupação. Com isso, não vão ter que perder tempo com banalidades, podendo assim alcançar novos graus de avanço em pouquíssimo tempo!

Ele deu um tapinha no ombro de Gabriel:

- E ai... eu tenho que começar os preparativos. Posso contar contigo, cara?

Gabriel sorriu o menos amarelado que pode. Ele sentiu que era uma fria, mas o chefe queria e o garoto estava empolgado. No fim só pode dizer, com falsa empolgação;

- Mal posso esperar! Mãos a obra!

- Isso!

Pegando a papelada, o garoto se despediu do pai e depois um abraço em Gabriel, saindo correndo da sala. Logo depois, ele precisou falar com o chefe:

- Ah meu Deus... Não me diz que isso é sério? Não podemos perder o mercado!!! – Gabriel sabia que podia falar assim com o chefe, mas não podia abusar, afinal era o chefe e o criador da empresa...

- Gabriel... – Ele assumiu um ar mais calmo. – Entendemos sua preocupação. Inicialmente ficamos sem dormir por causa do plano, mas no fim, vai dar certo. O mercado já é nosso, meu caro. Nós já colocamos a concorrência em uma queda impossível de ser detida. O plano dele só vai ser um pouco mais de circo. O tão necessário circo!

Gabriel gemeu. Ele temia pela empreitada. O pior foi que Ele percebeu.

- Quantas vezes precisamos dizer. Temos tudo sobre controle. Já sei. Faço uma aposta contigo.

Gabriel ia comentar sobre apostas e como ultimamente Ele estava encrencado com elas, mas preferiu esperar.

- Se meu filho, meu menino, não conseguir, a gente volta aos métodos antigos e eu te promovo, muito em breve, ao cargo de vice-presidente executivo.

Gabriel sorriu. “Vice-presidente executivo” soava bem.

- Muito bem. O Senhor sempre está certo mesmo – Levantou. – Vou esperar para ver. Posso ir?

- Claro Gabriel, vá.

Depois que Gabriel saiu, Ele sorriu. Não havia como dar errado. A Terra não tinha como se perder. Afinal, tudo se baseava na ajuda, na compreensão, no amor ao próximo e na boa-vontade. Para completar o próprio filho se sacrificaria por eles. Seriam os primeiros, em toda criação, a ter a facilidade do perdão imediato! Era perfeito, Simplesmente perfeito!

Nem mesmo os humanos poderiam estragar isso!