Sucata - Parte 5

PPY-313, vulgo Popeye... era meu nome! E eu estava preparado para a briga! Mas ela nunca aconteceu! Procurei um corpo novo, primeiro para me garantir a sobrevivência básica, depois para uma vida mais decente, e por fim para poder lutar. Mas nunca precisei lutar!

Os guardiões da nave? Depois de 4 ou 5 visitas, eu já me sentia à vontade. Não mais me desviava, ou tentava parecer inerte, pois era inútil. Eles não eram mesmo inteligentes, nunca fariam nada! Robôs burros programados para fiscalizar as montanhas de sucata, nada mais. Realmente não parecia existir nenhuma inteligência mais complexa conduzindo aquilo tudo...

Mercúrio se aproximava pouco a pouco nas janelas. Estava claro agora que o destino não era mesmo Marte! Mas, à medida em que me aproximava aquele ponto esférico, comparando com minhas memórias dele, ia ficando cada vez mais estranho... Que brilho era aquele? O planeta parecia, de forma inimaginável, coberto de uma gigantesca capa metálica prateada! Não era o Mercúrio que eu, Popeye, possuía armazenado em seus registros...

"Vida inteligente a bordo?", perguntava sem parar pelas minhas redes sem fio. O fantasma da culpa ainda me asombrava, por ter sido obrigado a eliminar a última inteligência parcial que, muito pesarosamente, precisei desativar. Nenhuma resposta! Aquilo era mesmo um cemitério de carcaças robóticas empilhadas, sem atividade.

Sob a luz laranja dos fiscalizadores eu caminhava, sem nada temer daqueles robôs que voavam sobre as montanhas de sucata automáticas, sem cérebro algum para lhes guiar os próximos passos.

- Vocês não tem mesmo a mínima idéia de nossos destinos, não é, suas moscas voadoras imbecis... - não tinha mais medo do robôs repressores, tinha certeza absoluta que eles nada fariam; não estavam PROGRAMADOS para reagir, isto me era bem claro! Não havia nenhuma inteligência mais complexa que eu próprio dentro daquele cargueiro automático.

Me divertia com aquelas moscas sem cérebro, mas ao mesmo tempo estava ansioso: alguma coisa me esperava naquele destino, não é? Alguém me esperava em Mercúrio! Ah, a ansiedade mata!

*** continua ***