Sucata - parte 7

Outros sinais eletromagnéticos ao fundo, próximos à atual frequência que eu utilizava, me mostrava existirem outras "Rainhas" distribuídas pela superfície do planeta. Mas esta com que agora falava era a mais próxima, e pretendia descobrir qual era a localização do seu emissor de ondas. Tinha uma ideia da direção, ao apontar o ponto de recepção ótimo com uma antena direcional. E alguma noção da distância, baseando-me na intensidade do sinal captado. Mas era bem impreciso, poderia estar atravessando alguma barreira rochosa, ou mesmo refletida por alguma parede de metal abundante por lá. Precisava de amostragem em outros pontos para determinar a origem com mais precisão, para realizar cálculos de triangulação. E, ao mesmo tempo, também não gostaria de ser detectado da mesma forma. Por este motivo mudava intencionalmente a potência de meu transmissor de rádio, ora diminuindo, ora aumentando a intensidade do sinal que eu emitia. Se era difícil esconder minha direção atual, ao menos eu tentaria confundir ofuscando minha real distância da Rainha.

"Não é razoável supor que um corpo de massa tão gigantesca gire em torno de uma pequena esfera de rocha como este planeta... Todos sabem que Metalo, como todos os demais planetas, giram ao redor do sol."

"Não é razoável, caro PPY-331, é supor que nossa esfera (Metalo, é como você a chama?) esteja em movimento, uma vez que movimento nenhum é detectado pelos inúmeros acelerômetros espalhados pela nossa superfície."

"De fato não, uma vez que a resultante é nula! A aceleração não é percebida. A forca centrípeta do planeta percorrendo sua órbita se iguala à atração gravitacional que o sol exerce sobre ele, anulando-a."

"Força o quê? Atração de quê? Quem registrou estas fantasmagorias em suas células de memória? Certamente não foi algo registrado por Nosso MetalGod..."

Não podia ser pior! De fato não encontraria lá robôs escravos trabalhando cegamente para seres humanos, seguindo à risca as três leis da robótica que Asimov havia criado como piada em seus famosos contos. Porém estava diante de computadores fundamentalistas, que ignoravam princípios astrofísicos básicos e pareciam não mais ter a mínima noção de que foram criados, originalmente, por seres orgânicos. Muito provavelmente nem deveriam ser capazes de entender este conceito de "vida orgânica", por falta de exemplos em seu mundo. Abandonei de vez estas discussões, tentando entender melhor a estrutura daquela sociedade robótica que acabava de conhecer.

"Estes autômatos espalhados pelo planeta, não me parecem..." - tentei dizer aquilo sem ofender, mas não havia outra maneira. - "Eles não são muito inteligentes, não é? Nem aqueles discos voadores que fiscalizavam a sucata no cargueiro. "

"Nossas células não precisam ser muito inteligentes para executar suas funções."

"Elas possuem algum... cérebro eletrônico?"

"Certamente sim, mas apenas com o básico para exercerem suas funções. Não há lugar aqui para o desperdício de material."

"Entendo, entendo... Mas me estranha muito vocês não saberem nada dos Humanos! Se a sua matéria prima vem de lá..."

"Do planeta azul? As Rainhas Voadoras nunca mencionaram nada a este respeito..."

"Talvez porque VOCÊ não precisasse saber disto para exercer sua função...", me arrisquei sendo sarcástico, conceito que aquela Rainha parecia ser completamente incapaz de compreender.

"Certamente elas não nos aborreceriam com informações inúteis. Se assim está programado no Grande Software Operacional de MetalGod, é assim que deve ser."

"É deste planeta que são os Humanos."

"De novo você e estes seus 'Humanos'... Como pode existir vida metálica num planeta recoberto de água salgada e envolto numa atmosfera com 20% de oxigênio? Degradação corrosiva com certeza! Metais oxidados, inúteis! Por isso as Rainhas Voadoras tentam trazer de lá todo o valioso metal que encontram. Para aquele ambiente hostil não corroer toda esta matéria prima da qual necessitamos tanto!"

"Você está certa, Rainha! Você está certa..."

Percebi a inutilidade de qualquer discussão mais profunda. De qualquer forma, prolonguei a conversa o suficiente para conseguir sua localização. Caminhei quilômetros sobre a superfície recoberta de placas metálicas tentando entender melhor como funcionava aquilo tudo.

*** continua ***