O Protótipo

Naquela manhã, de mais uma semana angustiante, o senhor Morfazz foi surpreendido

pela presença da polícia em sua residência, ao estar carregando a sua arma com

cartuchos de grosso calibre.Tenso, travou o seguinte diálogo com os agentes da lei:

- O que querem aqui? Foi o maldito do meu vizinho, o bisbilhoteiro que me denunciou,

não foi?

Calados, porém, surpresos pela posse da arma de grosso calibre por parte do

transloucado homem, os agentes da lei sacaram de suas armas e se posicionaram para

o combate, talvez, uma tragédia, ali se desenhasse. Os policiais não tiveram

tempo,pois, o homem, nervoso e quase louco balbuciou gritando na sua retórica:

- Dessa vez você quebrou a cara. Eu tenho P-O-S-S-EEEEEEEEEE de arma.

Um dos policiais, destemido se aproximou e berrou:

- Baixe a arma senhor Morfazz,e quero ver os seus documentos.

Este policial era o mais velho da equipe, habituado a situações de conflitos extremos.

Os policiais tinham dificuldades em se locomover, diante do amontoado de lixo que

havia na porta da casa e nas laterais da mesma. O que antes era grama, tinha virado

um matagal quase intransponível. Tinha ali o relaxamento,talvez, de um solteirão.

- Eu estou em minha casa. Vocês têm um mandado de busca e apreensão?

Mostrem-me a ordem judicial...

- Não, senhor Morfazz, não temos.

- Então, dêem o F-O-R-AAAAAAAAAAAAAAAAA.

Minutos de preciosos de silêncio. Os policiais reuniram-se, de armas em punho e de

olho na porta-estavam nervosos.

O tenente resolve ajudar o capitão, e berra:

- Senhor Morfazz não estamos aqui por causa da arma, mas ja que fomos

surpreendidos pela sua posse de uma -e de grosso calibre -, como sabe, precisa exibir

para um agente da lei os documentos - queremos a licença da arma e o parecer

psicológico.

- Não tentem entrar, vou buscar os documentos, lacaios.

- Não tente nos enganar,temos dois homens nos fundos da sua residência.

O senhor Morfazz esboçou uma furiosa carranca em seu rosto, deu meia-volta e berrou:

- Mas, quem diabos pensa que eu sou? Um bandido perigoso? Um marginal?

- Senhor, Morfazz não complique, por favor. Somos agentes da lei.

A vizinhança foi se aglomerando em volta da casa do bravo homem. Até mesmo as

crianças interromperam as suas brincadeiras, e ficaram observando - alguns se

escondiam atrás de árvores, cercas de madeira e de automóveis.

- Eu tenho os documentos, não sou um mentiroso.

Os documentos foram jogados por uma das janelas. O capitão os avaliou, conferiu as

datas,carimbos. O laudo médico tinha um parecer interessante. O tenente olhou e deu

um risadinha.

- Guardem as armas, entrem.

- Não vamos guardar as nossas armas, senhor Morfazz. peço que guarde o seu canhão.

Não queremos uma tragédia, temos ordens para atirar.

- Crianças saiam daqui...

Gritou um dos policiais.

- Todos saiam daqui..

Berrou o tenente. As pessoas foram se dispersando, aos poucos.

- Entrem, guardei a minha arma...

Ralhou, o senhor Morfazz, abrindo a porta.

O sol estava rubro na abóbada celestial. Podia se ouvir cantos diversificados dos

pássaros que pairavam, por breves momentos nos galhos das árvores frondosas que

cercavam a sua residência. Um cheiro de chá inundou o ambiente, o mesmo foi servido

aos homens da lei. O tenente Bulle foi quem primeiro tomou a palavra:

- Viemos aqui para falar a respeito do seu vizinho...

- O senhor Donadonni..

- Ele mesmo.

Completou o capitão. O senhor Morfazz,com fúria,de olhos esbugalhados e cuspindo

berrava para o tenente e para o capitão:

- Ele é um cão sarnento repleto de pulgas. Eu o odeio. vejo-o sempre de

sobre-tudo,chapéu e óculos escuros. Mantenho-me distante daquela pessoa asquerosa,

pois, ele fede. O tenente sem tirar os olhos do enfurecido homem, tirou de um dos

bolsos uma cigarrilha, acendeu, tirou uma baforada e sorveu mais uma dose de chá.

Indagou:

- Sente-se perseguido pelo senhor Donadonni?

- Como se sentiria ao ter como vizinho um sujeito que se diverte observando a vida

alheia. ja o vi várias vezes observando-me, até mesmo quando escovo os meus dentes.

Liga o som qualquer hora da madrugada. E quando bebe diz palavrões, mexe com a

mulher dos outros, e ja o vi até observando de forma maldosa as adolescentes daqui.

Não apara a grama de sua casa, e deixa o lixo amontoar na porta de sua casa. Faz

grosserias com o carteiro e com os vendedores que se apresentam em sua porta. Ja o vi

berrando com as crianças - ele se incomoda com tudo e com todos - e incomoda, e

muito à vizinhança. Imagine, que na madrugada, vez ou outra fica dando marteladas em

se sabe la o que fazendo um barulho dos infernos.

- Sei..

- Além do mais ,como se sentiria ao ter um vizinho que vive falando mal de você para a

vizinhança..?

- Quer dizer, que ele é um sujeito perseguidor,adido de observar a ida alheia, um

péssimo vizinho.

- Sim..

- E faz isso com frequência?

- Sim, sem pudores...

- O que mais, senhor Morfazz?

- Dizem que apesar de ter tido uma vida reta, hoje em dia, mantém relações curtas com

o crime, até tráfico de drogas faz para manter um projeto ambicioso.Perdeu as

estribeiras, e hoje passa por cima da lei. Tem amizade com alguns sujeitos do

Bronx-II,de procedência duvidosa.Ele está poluindo esse bairro com assaltantes e com

os pequenos traficantes. Não trabalha, vive o tempo todo dentro de casa. Investiguem,

ele é um marginal. Dizem que compra coisas furtadas:carros,motos,pequenos objetos

para revenda...

Os policias se entreolharam. O capitão perguntou:

- Senhor Morfazz conhece um tal de doutro Octupuss?

- O neozelandês que é metido a cientista? Quem não o conhece? É famoso,um homem

da mídia cintífica...Ele mora aqui no bairro, vez ou outra eu o vejo descansando no

jardim de sua casa consultando montanhas de livros - não é um homem de navegar na

internet,consulta livros antigos.parece ser uma pessoa decente, não cresceu xingando a

mãe e se divertndo no baixo meretrício, como aquele sujeitinho.

- O senhor Morfazz sabe tudo a respeito do senhor Donadonni,posso ver...

- Ele é um sujeitinho incômodo. Tem todas as características de um mau vizinho.Podem

ver como fica a varanda da casa dele, repleta de lixo, é do tipo que toma um refrigerante

e joga a latinha pela janela...Fala palavrões aos berros,aborrece-se facilmente com as

crianças. Bebe aos borbotões-não quero mais falar disso.

Os policiais ficaram, por alguns segundos em silêncio.

- Senhor Morfazz viemos aqui para lhe informar de que o doutro Octopuss encontra-se

recolhido numa das dependências da nossa central. Precisamos que nos acompanhe.

- Eu? mas eu nada fiz, eu não irei.

Disse assim, erguendo-se bruscamente da cadeira, e quase ameaçou ir buscar a sua

arma de caçar alces nos alpes.

- O senhor vai,sim.

Redarguiu o tenente, algemando-o,com uma habilidade sensacional. Ele não resistiu. A

vizinhança o viu sair da casa,capisbaixo. Colocaram-o na viatura. Seguiram pela

grande avenida.

- Por quê estão me levando, ele é que me importuna, atiraria nele se invadisse o meu

território,partisse para a agressão, ou tentasse contra a minha vida com os seus asseclas

de má reputação. Tenho um vizinho perigoso..

- Precisamos levá-lo, conosco, saberá o por quê. Pessoas cometem crimes, e para que

a justiça aja, precisamos de provas cabais para que o criminoso possa pagar pelas

suas faltas e possa passar um longo período atrás das grades.

- Mas, não viram os documentos? Tenho porte de arma e nunca efetuei um disparo em

região urbana..

- Calma, confie nesse tenente, aqui, senhor Morfazz.,nada farei para prejudicá-lo.

Minutos depois, numa mesa ampla da Central de Polícia. estavam à mesa um

representante da Guarda Federal, que era delegado para assuntos especiais. O capitão

mais o tenente. O chefe da polícia local e um representante do alto escalão do governo

especializado em cibernética, robótica e nanotecnologia.

- Tragam a réplica e tragam o reú.

Entraram com um homem vestido de sobre-tudo,chapéu e de óculos escuros. estava

algemado. O outro era baixinho,gordinho,careca.usava um óculos fundo de garrafa.

Ostentava fartos cabelos brancos e um bigode enorme.

- Dr. Octopuss, sabe do que está sendo acusado?

Indagava assim o representante do governo, o especialista. Tinha um ar interrogativo, e

ironia no olhar.

- Não sou um criminoso, sou um brilhante cientista, é o que tenho a dizer.

- Pois, está sendo acusado de realizar experiência secretas num laboratório que fica no

porão de uma de suas casas que fica no Bronx-I. sabe que o governo não tolera as

existências de laboratórios clandestinos, principalmente para pessoas do seu porte de

conhecimentos científicos extraordinários, e por ter sido ex-funcionário público de um

dos mais secretos setores governamentais ligados á robótica, a reengenharia e á

nanoteconologia.

- Não podem me proibir de trabalhar, um cientista vive de experimentos e busca-se

novidades para revolucionar o mundo. Fui despedido injustamente.

- A sua dispensa foi resultado de sua inclinação para o mal. Os seus projetos são frutos

de uma mente doentia,com distorções na personalidade.

Para surpresa, do senhor Morfazz, um dos agentes tirou o chapéu e os óculos que

cobriam a face do senhor Donadonni. os olhos do raivoso Morfazz saltaram das órbitas.

- Mas, o que se passa, alguém pode me explicar o que é isso?

O agente do governo retomou a retórica:

- O doutro Octopuss vinha realizando experiências secretas com seres humanos. Criava

protótipos em seu laboratório clandestino.

- Mas ele sou eu.

Disse apontando para o seu protótiopo, o senhor Morfazz.

- É a sua alma gêmea, em carne e osso, hábitos e costumes.

Disse o Tenente,o capitão riu. O doutor Octopuss permanecia em silêncio, mas

sussurrava baixinho: “ perfeitos,perfeitos...”

Leônidas Grego
Enviado por Leônidas Grego em 26/05/2013
Reeditado em 15/10/2013
Código do texto: T4310109
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