Contagem regressiva - Parte I

- Nossas armas, nossa tecnologia, nossa proteção não foram suficientes para nos proteger deste mal. Não fomos capazes de prever este mal. Nosso destino está traçado. Que Deus tenha piedade de nossas almas.

Eram praticamente as mesmas observações feitas em noticiários de rádios e TVS ao redor do que ainda podemos chamar de Terra. Um simples apertar de tecla e o canal da TV mudou, agora, com os resultados dos estragos.

- As principais capitais asiáticas, Tóquio, Pequim e Nova Délhi estão praticamente às escuras. Faltam suprimentos, os hospitais estão lotados e saques a supermercados e bancos ocorrem a cada minuto. E acaba de chegar uma nova informação... O governo de Moscou, neste momento, decreta Estado de Defesa e Sítio. Nenhum cidadão poderá passar pelas fronteiras, nem para dentro ou fora do país. Escolas e edifícios do governo estão sendo desocupados para servir como abrigo. Voltaremos em alguns instantes com mais notícias sobre o impacto em Volgogrado.

A sala do governo ficara em silêncio. Oficiais, cientistas e diversos políticos estavam presentes no recinto. O presidente norte-americano olhou fixamente para o chefe da Nasa e suspirou.

- Tem certeza que este meteoro não foi perceptível aos nossos radares? Não poderíamos ter evitado o impacto?

O técnico-chefe arqueou um pouco os ombros e se sentou pesadamente na cadeira.

- Não senhor! Não conseguimos perceber sua presença em nossa órbita. E mesmo que fosse identificado, nossa tecnologia e nossas armas eram insuficientes para à sua total destruição. O tempo avançou, mas nossa sociedade não. Ficamos tão encantados com a vinda deles que cientistas do planeta não se preocuparam em estudar outra coisa a não ser sua aparição. Todos os estudos e esforços mentais foram direcionados para os visitantes do espaço. Desculpe, senhor. Estamos pagando um preço caro por isto.

O presidente fechara os olhos e visualizava por debaixo de suas pálpebras cerradas aquela aparição que deixou a humanidade em êxtase por anos. Há 30 anos, no ano de 2018, uma nave desceu no deserto de Atacama e seus tripulantes apareceram diante das lentes e olhos de milhões de curiosos. Pouco tempo antes desta formalidade, observatórios conseguiram manter uma comunicação que confirmava o interesse dos alienígenas em nos visitar. Formalidades foram preparadas até que o grande dia chegou.

- Eu tinha 20 anos nesta época! Nunca imaginei que a mensagem, que todos acreditaram vinda de seres anos luz à frente com propósito de nossa preservação como humanidade, fosse o derradeiro apocalipse.

O chefe da nação olhava o painel à sua frente com dados de todas as naturezas de várias partes do globo. Batia levemente na testa e voltava a olhar os rostos de seu corpo administrativo, rostos pálidos de preocupação.

- Sua mensagem dita debaixo daquele sol, diante de toda a humanidade, uma mensagem de paz e ajuda. Para conseguir a permanência dos humanos neste planeta era preciso descartar o armamento de todas as mãos que estivessem ao alcance. A violência deveria ser direcionada para o controle através mecanismos psicológicos-placebo, ou seja, sem precisar de armas, mas com a presença de pessoas de boa vontade. A fome, miséria, e a criminalidade sumiram. Nossa sociedade poderia viver a utopia mencionada nos versos pelos poetas.

O painel mostrava o visor com a contagem regressiva para que todo o ar da Terra ficasse saturado e a densa nuvem de poeira formasse uma barreira contra a luz do sol. John continuava sua fala.

- Seguimos seu conselho. Confiamos neles. Hoje, estamos condenados à destruição da espécie. Mas eles têm certa razão.

O desconsolado técnico-chefe levantara um pouco sua cabeça e olhava para o presidente que estava próximo ao painel.

- Eles não usaram nenhuma arma contra nós. A ingenuidade foi nosso calcanhar de Aquiles. Esquecemos de que para se obter o padrão perfeito de vida, precisamos olhar para dentro, para à Terra. E não ficarmos preso para sempre no espaço. Um lugar onde não há pessoas. O atraso de nossa tecnologia impediu nossa presença nestes mundos. Estudamos bem para a prova, contudo o exame era outra matéria.

Houve silêncio e a TV instalada ao fundo da peça noticiava que o governo brasileiro, juntamente com outros países da América do Sul, ordenou aos seus respectivos exércitos abrir fogo a qualquer cidadão que colaborasse com o clima de desordem. Imagens do exército atirando nas pessoas na Avenida Paulista eram mostradas por um helicóptero.

O cientista com seus óculos na ponta do nariz vendo aquelas cenas, e em tom seco e irônico, sibilou para si.

- Com armas ou sem armas... De que adianta prorrogar algo que estava certo?

Chronus
Enviado por Chronus em 31/05/2013
Reeditado em 31/05/2013
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