Contagem regressiva - Parte II

Os olhos azuis olhavam para os monitores instalados ao redor da sala. Por trás dos óculos, com lentes finas e armação leve, a Dra. Natacha Lemanov analisava atentamente os efeitos da queda do meteoro.

- Creio que não há nada para ser feito. A humanidade perecerá por sua frágil obediência à assuntos que não compete a ela. Triste...

Tirou os óculos colocando sobre a escrivaninha próxima à mesa de comando, da central espacial. Esfregou os olhos, em seguida forçou sua visão na direção da janela, olhou para o céu, onde tentava avistar algumas estrelas. Como as luzes da cidade já ocultavam parte do brilho, a atmosfera cada vez mais densa impedia o pouco que era visível.

- Engraçado... Desde a década 60 do século passado saem daqui vários astronautas para inúmeras viagens espaciais. Isto faz quase 100 anos já...

Deu um longo suspiro e olhou no canto da sala, o quadro do primeiro homem a ir ao espaço.

- É senhor, Yuri Gagarin... O seu sonho da conquista do espaço pela humanidade parece que não vai se realizar, mas creio que chegamos próximo, não?

A doutora Natacha voltou a colocar os óculos, tirou o jaleco pendurando-o em um mancebo no canto oposto da sala. Arrumou-se e com um leve passar de mão sobre os interruptores, a iluminação da peça cessou.

Todos os centros espaciais, nos mais diversos países, mantinham uma comunicação entre si muito grande. A reformulação de todo o sistema tinha sido acordada no ano de 2025, motivo de estudo dos visitantes, cientistas e técnicos eram mantidos em constante vigilância procurando captar alguma outra aparição, contudo a falta de vigilância para à nossa proteção deixou de prever a presença do inimigo responsável por causar o fim da humanidade.

A noite no Cabo Canaveral estava morna, e o Centro Kennedy funcionava preservando o máximo de silêncio que conseguia, o que não era possível de dia, mas, logo, seria eterno. Em uma das mesas de controle, Mark olhava com certo desdém aquelas luzes, gráficos e imagens dos monitores que o cercava. Resolveu analisar como as outras agências espaciais estavam reagindo ao desastre de Volgogrado. Consultou a Cidade das Estrelas. Observou planilhas com dados em 7 idiomas e concluiu que eram as mesmas que as das demais: Sem saída... Nada a ser feito... Desastre em proporções gigantescas...

- Natacha Lemanov? Quem é esta que eu nunca vi no Sistema Internacional Espacial?

Mark acessou o banco de dados com certa curiosidade, e observou quem seria a responsável pelas conclusões do relatório russo.

- Formada em Astrofísica pela Universidade de Moscou e Doutora em Estudos Espaciais pela Universidade de Londres. Primeiro lugar no ingresso para estudos e operações espaciais na Cidade das Estrelas. Uau! Mas o quê adianta formações, graduações e outros “ões”?! Brevemente tudo isto sumirá...

Mark pensou em suas diversas formações e no mérito por ingressar, também, em primeiro lugar. Riu baixinho, com certa tranquilidade rodopiou uma caneta sobre sua prancheta de dados. Levantou os olhos e visualizou a foto daquela mulher. Confirmou que o cabelo moreno contrastava com sua pele branca.

- Bem... Ela deve ser bonita. Acho.

Os dias passavam. A humanidade estava só apressando seu final. Guerras aconteciam por diversas cidades. Igrejas e templos estavam lotados de fiéis e pecadores que temiam não alcançar o paraíso. Dentro de uma semana, o ar estaria completamente esgotado. Quando isto acontecer, toda humanidade e suas construções estariam arruinadas. A poeira lançada por edifícios em todos os lugares do mundo formaria uma densa nuvem cobrindo qualquer resquício da existência humana.

Naquela mesma noite, várias luzes foram avistadas sobre Moscou e Cabo Canaveral. Os centros espaciais, antes silenciosos e “mortos”, voltaram a ter a vida agitada como era costume a quem trabalhava no local.

- Doutora?! Poderia retornar? Parece que “eles” querem estabelecer um contato conosco.

- Sim! Estou indo já!

Ela bateu o telefone e rapidamente se vestiu, pegou as chaves do carro e dirigiu apressadamente à Cidade das Estrelas. Pelo teto solar, Natacha olhava para o céu procurando visualizar as luzes das naves, sem sucesso conseguiu avistar apenas uma grande luz vermelha a leste, o planeta Marte.

Chronus
Enviado por Chronus em 23/06/2013
Reeditado em 23/06/2013
Código do texto: T4354164
Classificação de conteúdo: seguro