A invenção da mulher
- Quanto mais convivo com ele, menos desejo que leve sua ideia adiante - disse-lhe Raniva-Sur com inesperada franqueza. - Mas irei ajudá-la em tudo o que for possível. Conte comigo como se fosse sua irmã mais velha. Eu já passei por isso, e sei como é difícil!
- Senti que podia confiar em você. Chame isso de "intuição feminina" - respondeu Zorava-Hava, a voz transmitindo a emoção que seu rosto de metal era incapaz de expressar.
- Creio que a intuição feminina lhe diria para não confiar em mim - riu-se a secretária. - Eu quero exatamente o que você quer. Talvez até com mais intensidade.
E fazendo um gesto para indicar todo o seu corpo exuberante:
- Eu já tenho o que falta a você... irmã! E os hormônios me deixam louca!
- Ainda assim não consigo lhe ver como uma ameaça. Você é sincera, é honesta...
- Acha que Malakor também me vê dessa maneira? Apenas como uma boa colega de trabalho?
Zorava-Hava fez uma pausa de cinco segundos para analisar o que lhe havia sido dito.
- Você é bonita. Creio que Malakor poderia lhe apreciar também por isso.
- Quer dizer... apreciar o meu corpo?
- Sim... também isso.
- E o meu amor?
- Você nunca me disse que o amava.
- Lembra quando disse que a sua intuição lhe deveria dizer para não confiar em mim?
- Você não é uma ameaça para mim - respondeu serenamente Zorava-Hava.
- E se eu lhe dissesse que irei ajudá-la apenas para tirá-la do meu caminho e ter tempo livre para conquistar Malakor? - Provocou a secretária.
- Ainda assim eu confiaria em você.
Raniva-Sur balançou lentamente a cabeça, com ar de incredulidade.
- Você não existe, minha irmã.
- Se eu não existo, - respondeu Zorava-Hava num tom divertido - talvez esteja na hora de me inventar.
[12-04-2014]