A cidade bolha capitulo 02

Os guetz tinham uma aparência que poderia facilmente ser confundida com humanos, exceto pelos olhos e orelhas felinos . As orelhas se destacavam em meio aos cabelos, na maioria das vezes os guetz as deixavam abaixadas e isso era o suficiente para se passarem por humanos, isso e um par de óculos escuros. Entretanto não era essa a diferença que preocupava os terráqueos, o pior era a velocidade e a agilidade em que se moviam, chegavam facilmente aos 70 quilômetros por hora em uma corrida, eram leves, saltavam sem dificuldade, 6 metros e se isso tudo não bastasse a noite para eles não era empecilho algum, enxergavam como se fosse dia. Eram predadores natos. Suas unhas eram retrateis e podiam cortar a garganta como uma navalha. Nasceram para matar. E gostavam disso.

O som de alerta ecoava em toda nave. Kichara seguia o fluxo de pessoas, corria pelo corredor cinza. Tremores começaram, seguidos pelos gritos agudos de terror que saíram de cada boca naquele corredor.

“Abandonar a nave”

O computador não parava de repedir, embora às vezes os gritos e as explosões sobrepujavam.

Kichara sentiu-se sem peso. Seus pés começaram a elevar-se, seu estomago reclamou, “gravidade falhando.” Pensou. Como odiava aquela sensação, sempre odiou perder o controle de seu próprio corpo. Tudo ficava mais difícil sem gravidade. Para a sua sorte a gravidade voltou. Sentiu o seu peso lhe ser devolvido de uma só vez. Sentiu o impacto de seus pés no metal da nave. Olhou em volta, corpos caindo, tendo a carne rasgada, ossos quebrados, aqueles que deixaram o pânico os dominar sangravam e choravam. Não sabiam o suficiente para sobreviver. E os que sabiam não os ajudariam. Todos fadados á morte, kichara sabia, e corria passando por eles, ignorando seus apelos por ajuda, seu sofrimento, seus lamentos.

Guetz eram assim, só ajudavam por interesse. Quando davam algo já pensavam em receber outra coisa em troca. Kichara era guetz, entretanto não era assim. Ela não ajudou. Sabia que tinha que sobreviver. Ela era o futuro de sua espécie. Uma espécie antes tão orgulhosa agora em franca decadência.

Chegou ao casulo de escape. Entrou. Poucos segundos depois de fechar a porta viu o rosto de um cadete jovem, batendo com a mão na pequena janela transparente. Não podia ouvir um único som, mas foi capaz de compreender cada palavra, carregada de desespero.

“não me deixe morrer aqui.”

Kichara não pensou duas vezes. Ejetou a capsula. Deixou-a para trás. Sim, havia espaço para ambas. Mas kichara não podia se dar ao luxo de correr o risco. Se algo desse errado, duas pessoas consomem o dobro de oxigênio. E esse ar era tão precioso. Assim como as informações que ela carregava.

Kichara sempre odiou guerras, mas sabia á muito que eram um mal necessário. Eram inevitáveis. O mundo, o universo, a grande mãe natureza, eram cruéis. Não perdoavam. Os mais fracos eram eliminados. Simples assim. E ela seria uma peça chave na virada dessa guerra. Seja para o bem ou para o mau.

Kichara entrara naquela nave não como todos ali: orgulhosos e empolgados. Entrara expurgando o resquício de duvida da tarefa que lhe incumbira. Iria trair e roubar sua espécie, mas não tinham eles feito o mesmo com ela?

Á 24 anos atrás, quando ela era só uma menina de 10 anos, lhe roubaram o futuro. Se não fosse por um humano teriam lhe roubado a vida. Ensinaram sobre Humanos:

“ eram uma espécie de praga, parasita. Proliferavam sem qualquer controle, usavam, sugavam tudo o que podiam do plante e o que sobrava davam um jeito de destruir. Cabia aos guetz dar um fim neles antes que acabassem com o planeta”.

Seus mestres sempre falavam:

- Só estamos adiantando o fim inevitável dessa espécie , eles selaram o seu destino com seu comportamento auto destrutivo.... Irracionais. Temos que para-los antes que consigam se alastrarem para outros mundos, e não falta muito para isso acontecer.

Porem foram esses seres irracionais, autodestrutivos que demonstraram uma compaixão desconhecidas para os guetz. Foram eles que salvaram kichara e seu irmão de sua própria espécie.

Vinte anos depois ocupava o posto de decodificadora numa sala pequena, onde ela e mais dois trabalhavam. Sentada atrás de computadores sua função ali era codificar. Ela não era nada de mais ali, uma funcionária padrão. Mais uma em meio á dezenas, isso tornaria seu trabalho muito mais fácil.

Logo após invadiram e atacarem o planeta terra, eles mesmos foram vitimas. Chamaram a atenção dos umbros. Logo os invasores se tornaram invadidos. Umbros conseguiram se apoderar de sua tecnologia. As maquinas que defendiam os guetz passaram a ataca-los. Quase perderam a guerra ate um novo código ser criado. O código dava novamente o controle das maquinas aos guetz. E a virada da guerra acontecia, á milhões de km de onde kichara se encontrara agora. A finalidade dessa nave era bem clara. Levar pessoal e material para implantar uma nova fabrica de maquinas na terra, que produziria a mais nova leva de androides, drones e armamento, com o novo código. E era isso que kichara impediria. Não por que queria ver a aniquilação de seu povo, mas por que uma nova fabrica na terra iria reavivar a invasão e o domínio do planeta. Massacrariam as cidades remanescentes. kichara queria que seu povo ganhasse a guerra, mas sem prejudicar outro planeta.

Inseriu o pen drive. Copiou os códigos.

Ela sorriu. “estamos pagando por nossos erros.”

Retirou-o inserindo um segundo pen drive . Uma caveira surge na tela. Fitava- a. Era a própria morte.

Olhou para aos outros 2 funcionários. Passara três dias ali naquela nave junto com eles. Eram guetz bons. Tinham uma família e carreira. Queria o melhor para eles.

Uma voz soou pela nave:

- Estamos entrando em orbita do planeta terra.

Os dois rostos se iluminaram. A viagem havia chegado ao fim.

Kichara ao menos lhe daria uma chance de sobreviver. Apertou o botão de instalação. Um aviso apareceu em sua tela:

“Tem certeza que deseja implantar o programa?”

Kichara confirmou. Logo sua tela ficou negra. Ela levantou-se antes de deixar a sala ouviu um dos funcionários falar:

- Ei cara olha só essa tela. Que coisa mais estranha.

O outro se aproximou e olhou a tela onde estava escrito em letras vermelhas contra o fundo negro:

“Aprendam a ter compaixão”

Em segundos se viu cercada pelo espaço. Olhou para as outras 3 janelas e viu uma chuva de capsulas, uma a uma sendo pega pela gravidade do planeta terra. Ela sabia que as baixas seriam maiores do que as que ela havia previsto. Teria que conviver com isso. Logo o negro deu lugar á atmosfera da terra seguida pelo fogo. Não pode evitar seu coração disparou, sua espiração ficou mais rápida e falou para si mesma:

- Vamos kichara, você já passou por isso antes, não á nada para ter medo. Logo o fogo passa e você caba descendo no lindo planeta terra.

Ela tinha razão o fogo passou, agora era só uma queda livre, ate poucos metros do chão onde os propulsores freariam a queda. Olhou o seu altímetro, caia rápido como de se esperar.

Estava á 10 metros do chão. Segurou-se e aguardou o choque dos propulsores. Nada aconteceu. Olhou para o altímetro, já passara dos metros de acionamento. Olhou para os indicadores de liberação dos propulsores, estavam verdes. Abriu o painel e puxou a alavanca onde dizia: “acionamento manual dos propulsores de pouso”. Uma luz amarela acendeu indicando erro.

- puta merda! Tó fodida!

Segurou-se o melhor que podia, prendeu-se com os cintos, e esperou o impacto. Fechou os olhos e viu o semblante do cadete que deixara para trás. Não estava mais desesperado, mas ria. Um sorriso de satisfação. De vingança.

O impacto foi tamanho que teve a sensação de ter seus ossos arrancados e sua carne esmaga. Não conseguia respirar, não conseguia se mexer. Usou toda a sua força para abrir um pouco os olhos e ver pela janela. Estranhou. Tudo o que viu foi fumaça branca. Concentrou-se a voltar a respirar. Suas costelas não queriam mover-se. Seus olhos negavam- se a ficar abertos. A escuridão apossou-se dela e com ela um sentimento de desespero.

valmi
Enviado por valmi em 27/07/2014
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