Bilhete para Marte - Parte II

Depois da turbulenta decolagem, com autorização para que desfrouxassem os cintos, a equipe Vida em Marte estava em pé diante do grande telão ao lado da cabine de comando. A imagem radiava felicidade das inúmeras partes do globo. No rodapé, letras anunciando o sucesso da missão rumo ao planeta vermelho passavam intercaladas com outras tantas felicitações de chefes de estados.

Vincent aparou as mãos nos bolsos do uniforme e com um sorriso triste não tirou os olhos daquelas informações.

- Sentirei falta das luzes da minha querida e bela Paris... Mas, nós franceses, temos histórico de vitória. Honrarei o nome do nosso povo com mais essa conquista.

- Concentração, caro Luc! Lembre-se que estamos aqui para o progresso da humanidade e não por interesses individualistas. Napoleão caiu de seu cavalo por ânsia de poder... lembre-se! – O formal inglês Jones deu dois leves tapas no ombro do companheiro.

Enquanto os dois astronautas se cumprimentavam cordialmente, com uma pitada de rivalidade dos séculos terráqueos passados, Fernando dirigia-se à pequena janela de vidro e acompanhava sua vida inteira se afastar sistematicamente.

- Realmente... a Terra é azul! – Sussurrou ao seu lado uma firme voz feminina. A figura loira com pele alva sorriu observando também aquele pálido ponto azul sumir.

- Sim... São tons coloridos bem diferentes do que em breve vamos ver. Mas creio que não sentirei falta desse planeta. – Franziu ambas sobrancelhas ao saber o que destino reservava.

Tundra encarou Fernando com o canto dos olhos, seguidamente voltou a visualizar o grande abismo do espaço sideral engolindo sua casa em Moscou. Elevou as mãos em um gesto de amizade.

- Tundra Vienesky... – Fernando sorriu e direcionou as suas à companheira russa. – Fernando Santos... O prazer é todo meu.

Tentando pronunciar alguns desajeitados cumprimentos em russo, fazia a bela loira rir pela fracassada tentativa.

Mais ao fundo da nave, prostrados diante de uma grande mesa translúcida, Samira e Saitou analisavam o mapa de navegação. Com os finos dedos deslizando sobre os pontos do mapa, a bela jovem de cabelos morenos e cacheados confirmava o que estudara por anos na Universidade de Astronomia de Beirute.

- Veja, Samira... Esses pontos próximos à Lua são os mais críticos. As chances de passarmos por uma perigosa turbulência são na proporção de 1 para 10, o que podemos considerar alta. – Afirmava creditando as orientações já explicitadas pelo chefe da missão Frank.

Samira fechava as mãos e falava sem olhar para o japonês; acompanhava apenas o trajeto das informações no mapa.

- Creio que o progresso tecnológico do homem pode salvá-lo como também pode destruí-lo. No interlúdio entre nosso planeta e a Lua, satélites abandonados e outros tantos lixos espaciais deixados em missões anteriores podem ir de encontro uns aos outros. O efeito vai muito além do colapso das comunicações na Terra... O efeito “chuva em cascata” sobre várias áreas do globo pode ocorrer.

Saitou confirmava com leve balançar de cabeça o possível desastre. Com certa paciência diante dos desastres sofridos pelo seu povo acrescentou sorrindo.

- Passaremos por essa. Treinamos e estudamos duros para isso. Não estamos aqui para desistirmos, não é?

Samira finalmente elevou o olhar discretamente para Kanishi.

- Sim... Passaremos e chegaremos a Marte para deixarmos o nosso lixo por lá também... – Ambos riram quando a já conhecida voz soou nas caixas de comunicação da espaçonave.

- Parabéns tripulação! Foi uma excelente decolagem. Todos aqui estão em festa pela coragem dos nossos destemidos homens e mulheres. Dentro de pouco tempo vocês passaram por uma das partes mais difíceis do nosso trajeto, o cinturão que divide a Terra da Lua.

Fernando olhou apreensivo para mesa de comando com suas várias luzes e medidores em pleno funcionamento. Voltou-se para caixa de som que anunciava o sucesso da missão.

- Vocês estão prontos para todos os percalços dessa viagem. Coloco-me à disposição para qualquer solicitação. Lembrem-se... Toda humanidade credita as fichas em vocês. Agora relaxem e aproveitem a bela paisagem que só as linhas aeroespaciais Frank podem lhes oferecer. Cambio.

A voz cerrou e o clima de silêncio voltou ao ambiente. Jones olhou para seu relógio batendo de leve no visor.

- Oh! Céus! São 5 horas em Londres... Hora do meu chá. – Caminhou à cozinha juntamente com Luc, esse se divertia com a formalidade do amigo.

- Vocês cavaleiros da rainha são sempre pontuais assim? Mon ami! No espaço não existem regras de formalidades. Aqui, tudo é um desafio.

Fernando, Tundra, Samira e Saitou observavam a dupla se digladiar para ver quem levava melhor nessa contenda histórica.

- Tenho um bom Bordeaux em meu quarto. Vamos celebrar o sucesso com uma boa bebida e não com um calmante. – Insistia Vincent na tentativa de irritar o inglês.

Fim da segunda parte

Chronus
Enviado por Chronus em 24/08/2014
Reeditado em 24/08/2014
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