Eu, professor

Tudo o que eu vejo, tudo o que ouço, tudo o que eu sinto traz para mim o conhecimento de que as pessoas nem desconfiam. Descobri ainda aos sete anos de idade que havia algo diferente em mim, algo que fazia com que alguns de meus amigos de infância sentissem inveja, e em outros despertasse o medo. Não era normal para uma época sem acesso a internet um garoto saber fazer as coisas que eu fazia. Uma vez ao comer banana na casa de minha avó, joguei a casca pela janela, minha mãe me chamou a atenção e disse que não era educado fazer isto, ela disse que era para recolher a casca e jogar no lixo. Percebi que a casca havia caído em um sapato velho de minha avó. Me chamou a atenção o fato de que onde a parte interna da casca tocou o velho sapato, de alguma forma ele havia mudado de aspecto. Curiosamente esfreguei o dedo sobre a região e verifiquei que o sapato ganhou vida novamente. Esfreguei a casca por toda a superfície do sapato, comparei com o outro, a diferença era notável. Mostrei a minha mãe, ela apenas sorriu e perguntou:

- Já jogou a casca no lixo?

Por toda uma vida tenho observado e aprendido coisas que simplesmente estão diante dos olhos de todos, mas estas mesmas coisas vem de encontro a mim, como se quisessem se revelar. Esta é a assombrosa vida de alguém a quem muitos chamam simplesmente de autodidata. E hoje eu entendi como o mundo está prestes a ser destruído, e como podemos evitar. Hoje eu estou aqui em uma sala cheia de oficiais e agentes do governo, eles me olham ávidos por respostas, me rodeiam e não fazem a menor ideia de que neste momento continuo a aprender e entender que o que querem e sair perdoados e ilesos pelos próprios crimes.

Foi na cinzenta manhã de 21 de abril de 2006 que pude presenciar um revoar diferente dos pássaros ao alvorecer, sempre os via em direção ao sudoeste, porém, por um motivo pelo qual eu ainda desconhecia até então, eles rumaram em direção ao leste. Não se tratava de mudança de estação do ano, o que podes estar pensando. Senti uma vibração bem fraca, quase imperceptível, e nesta mesma vibração percebi que havia um padrão, em poucas horas consegui desenvolver um algorítimo que me revelou a natureza desta vibração. Em um intervalo de 6 segundos a vibração se intensificava intercalado por períodos de 3 segundos e 2 segundos, nos quais a vibração oscilava mais espaçada e mais breve.

Com toda veemência o Capitão Euclides socou a mesa e disse:

- Por todos os santos! Como isto é possível?!

- Admita logo que você é um maldito espião, não nos faça perder tempo, não nos faça acabar de vez com seu tempo.

- Esta história para boi dormir não vai nos convencer seu verme miserável.

No que eu disse:

- Pare, se quiser viver.

- A julgar pela cor de sua pele, abertura de pupila e pulsação, vai sofrer um ataque cardíaco, o que levara a falência aguda de seu miocárdio.

Todos riram na sala menos o Capitão Euclides, com a mão em seu peito ele apenas se sentou e pediu um copo de água, quando pegou o copo com a mão esquerda, começou a tossir com rouquidão e morreu.

No que eu disse:

- Eu te disse.

Leandro Martins de Souza
Enviado por Leandro Martins de Souza em 21/11/2014
Reeditado em 24/11/2014
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