Dádivas e maldições

Cofiando sua barba negra ponderava em quantos já havia destruído por ousarem desejar seu maior bem. A imortalidade. Seus castigos eram atrozes. Dizimou civilizações pela audácia de aspirarem um dom divino. Dominara sempre pelo medo. Seu nome inspirava terror.

Milhões de anos se passaram e sua barba e cabelos agora eram brancos. Mas sua face não era bondosa, ao contrário, era cruel. Sempre seguira suas ambições. Nunca se importara com as necessidades alheias. Afinal, ele era um Deus. Não apenas um Deus, mas o mais poderoso dos Deuses. Milênios de domínio sobre Deuses e homens. Mas outro sinal começava a tomar forma em sua face, o cansaço. A imortalidade é a mais pesada das dádivas.

Mais mil milênios se passaram e o cansaço acentuou-se. Civilizações, planetas e estrelas, nasceram e morreram. Não havia mais ferocidade, remorso ou anseios, apenas cansaço. Existem leis que os próprios Deuses não podem burlar. A imortalidade é a mais solitária das maldições.

Nilo Paraná
Enviado por Nilo Paraná em 22/01/2015
Reeditado em 11/07/2015
Código do texto: T5110972
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