2050 - Parte I

Seis da manhã. Despertei-me quando Cyber, o robô disse em cinco idiomas: "Hora de acordar. O que deseja para o café, senhorita?". Apenas disse em voz alta o que queria, e rapidamente uma bandeja saiu de dentro da barriga de Cyber com o meu pedido.

Mari ainda dormia ao meu lado. Despertei-a com um beijo, lembrando-me da noite anterior: "Foi tudo perfeito", pensei.

Havíamos nos casado oficialmente ontem, em São Paulo, onde morávamos. Nunca me esquecerei do ano do nosso casamento, 2050.

Nós duas estávamos muito excitadas, pois hoje iríamos finalmente para a nossa tão esperada lua-de-mel. Tomamos um café, pegamos as malas e entramos no teletransportador, que ficava na parte debaixo da casa. É como um elevador que se transporta debaixo da terra. Mari falou o endereço em voz alta e em poucos minutos já estávamos na Estação Espacial Central.

Mari havia ganhado a viagem do pessoal de seu trabalho. Ela trabalhava na NASA. Alguns meses antes da viagem, tivemos que fazer vários exames, e para embarcar, passamos por uma série de revistas e perguntas, também por vários meios de identificação, tais como leitura dos olhos e digitais. Tudo era muito sigiloso, e eu sabia que muitas pessoas gostariam de estar em nosso lugar.

"É uma viagem única, Gaby!", foi o que Mari me disse.

Um foguete imenso nos esperava. Comportava aproximadamente mil pessoas e tinha trinta andares. Quando subi, me senti nas nuvens antes da hora. Nosso andar era VIP, nos instalamos no vigésimo terceiro andar. Em cada poltrona havia um pequeno quadrado de vidro, que nos permitia admirar a vista espacial. Fora do foguete fazia um calor infernal. Nunca ficara tão quente como este dia. Porém, lá dentro a temperatura estava fresca.

Olhei para Mari do meu lado. Ela parecia angustiada e em partes, eu também. Mas não havia motivos, era a nossa lua-de-mel. Peguei em sua mão e ela sorriu pra mim.

"Senhores passageiros, atenção à contagem regressiva para o lançamento do foguete. Pedimos à todos para que apertem os cintos... Dez... Nove..." - Eu estava muito excitada - "Seis... Cinco..." - Um gelo na barriga... - "Três... Dois... Um... Lançando foguete!"

A viagem foi realmente inesquecível. Quando olhei para a Terra e a medi entre meu polegar e indicador, me senti insignificante, O espaço ia muito além do que qualquer um pudesse imaginar. Chegamos à Lua uma hora depois.

Quando coloquei meus pés em contato com o solo lunar pela primeira vez, sorri para a Terra. Ela agora tinha o tamanho da Lua. O solo rochoso era cheio de crateras, grandes e pequenas, em forma de cuia. Também havia muita poeira, ambos produzidos por crateras de impacto. Consegui ver várias montanhas que pareciam estar muito perto, mas na verdade estavam bem longe. Isso se dava pelo fato da ausência de atmosfera na Lua, o que fazia com que o horizonte parecesse mais perto do que realmente estava. Era tudo muito incrível.

Ouvi então um som se propagar através de aparelhos e me virei. Atrás de uma das montanhas, não havia apenas um, mais pelo menos cinquenta foguetes iguais ao nosso, estacionados na Lua. Pessoas falavam em vários idiomas através do microfone espacial. Olhei para Mari sem entender, e ela tinha uma expressão preocupada e triste. Não havia tanta excitação nas pessoas e muitas delas choravam. Eu estava ficando com medo de tudo aquilo.

- "Mari, o que está acontecendo?"

- "Me desculpe, Gaby! Me desculpe por não poder te contar antes, meu amor!" - Ela chorava como uma criança.

Uma nave espacial flutuava em cima das pessoas. Um homem anunciava em diversos idiomas: "Senhoras e senhores, informamos que ainda restam vinte e dois foguetes para chegar. Partiremos em aproximadamente vinte e quatro horas para o planeta Marte. Lamentamos profundamente por qualquer perda que tenham tido, mas agora, construiremos um mundo novo e melhorado. Lembrem-se: O futuro está em nossas mãos!"

Entrei em choque. Não soube o que dizer. Mari chorava desesperadamente ao meu lado, mas não consegui dar-lhe um abraço sequer.

A nossa volta, muitas pessoas abraçavam seus familiares. Crianças sem entender nada, flutuavam e se divertiam com a falta de gravidade.

Comecei a sentir um mal estar e senti o oxigênio sair do meu corpo. Senti muita água sair da minha língua, e tive a sensação de que ela estava fervendo. Olhei em meu relógio e me dei conta de que precisava de mais uma dose de pó-astronáutico. Esse pó foi desenvolvido pela NASA e permitia que as pessoas usassem roupas normais fora da Terra. Nada daquelas roupas de astronautas antigas, que incomodavam muito. Coloquei um pouco de pó embaixo da língua e esperei que meu corpo o absorvesse por completo. Em segundos, me senti mais disposta e meu corpo voltou ao normal.

Quando me recuperei bem, voltei a olhar para as pessoas ao meu redor. Reconheci algumas, como o ex-presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, o ator Johnny Depp, Mark Zuckerberg entre outros.

Percebi então que todos os privilegiados eram pessoas de alguma forma, bem sucedidas.

E agora? O que farei? Algo terrível vai acontecer no planeta Terra. Todas as pessoas que amo estão lá, meus amigos, minhas lembranças...

(continua)