COLONIZAÇÃO DA LUA

COLONIZAÇÃO DA LUA

Meu nome é Smith, John Smith e moro em Chicago, sou ex-policial e trabalhava como segurança na estação espacial da (LEM), desde que cheguei do espaço me sinto estranho, meio deprimido,deslocado. No contexto geral o mundo em 2039, continua a sua marcha em direção ao futuro como sempre fez. Os noticiários na TV são sempre as mesmas coisas, quase nada mudou - Miséria na África com suas epidemias, suas guerras tribais e étnicas continuam sem solução, aquecimento global e desmatamento, políticas de sustentabilidade e tratados internacionais que não se cumprem, guerra no oriente médio com judeus e palestinos que jamais se entendem, terrorismo e fundamentalismo religioso, a China se estabelecendo definitivamente como uma nova superpotência, desemprego e desaquecimento da economia na Europa com protestos e xenofobia, Cuba se transformou numa economia aberta capitalista e virou uma colônia de férias dos norte-americanos, os países da América do Sul, atolados no atraso da política bolivariana e novamente uma guerra fria entre Estados Unidos e Rússia pela corrida de colonização da lua. Ah... Por último a ONU fazendo o seu eterno papel de figurante nas questões dos conflitos ao redor do planeta. Esse é o cenário político internacional, ou seja, o caos!

No mais a vida segue no seu cotidiano normal, cada um na sua, trabalhando, estudando, casando e tendo filhos, viajando... Partidos políticos, sindicatos, greves, protestos, drogas, sexo e rock and roll, violência urbana, os campeonatos de futebol, MMA... Enfim os problemas continuam os mesmos desde quando o homem começou a viver em sociedade. Em síntese os mais fortes explorando os mais fracos, isso é a essência do capitalismo! Digo (riso). As leis e o estado democrático de direito na verdade na verdade, são duas tremendas enganações, conversa pra boi dormir. Tudo se resume a um jogo de interesse. Por incrível que pareça, desde que voltei do espaço, eu vivo nesse mundo louco e sem sentido, seguindo a marcha, esperando o dia do juízo final... Que tédio! Podia ter aceitado convite de Jack! Tô me sentindo vazio! Quando minha mulher me abandonou, me disse que eu era e sempre seria um cara errado, torto, um perdedor que nunca iria conseguir construir uma família, que eu só vivia para o trabalho. Talvez se tivéssemos tido aquele filho que ela queria, poderíamos estar juntos! Acho que ela tinha razão! Comecei a beber demais e fazer um monte de besteiras. Tanto é que fui expulso da polícia, por achar que havia muitas coisas erradas, não me enquadrava e agia de forma emocional, por impulso, extrapolava as minhas funções, o sistema era injusto! Por causa disso criei muitas confusões que só me trouxeram problemas, se tivesse sido um pouco mais político e tivesse feito o jogo deles, estaria lá até hoje, mas esse meu temperamento...O que posso fazer sou assim!

Preciso parar em algum bar e tomar um porre. O bar mexicano do Ramon é uma boa – Eh garçom me dá uma marguerita! Preciso afogar as minhas mágoas e pensar, refletir sobre a minha vida nestes últimos anos. O que tenho feito? Fui para o espaço! Voltei e agora? Gastei quase todo o meu dinheiro nesses puteiros! Preciso parar de beber e arrumar um emprego! Fala sério! Isso é uma piada!

Recordo-me de quando começaram na internet, nos sites de notícias e nas redes sociais as primeiras ofertas de trabalho no espaço em 2034, os anúncios apareciam assim: - A empresa espacial “Luna Explorer Minerium Corp.” anuncia: Há quem possa se interessar, estamos selecionando pessoas de ambos os sexos, de qualquer nacionalidade, que queiram ir morar e trabalhar na lua. Ótima oportunidade de trabalho e crescimento profissional, plano de carreira e salário compatível com a função. Com ou sem experiência. Escolaridade: Nível médio e superior, idade vinte um a quarenta e cinco anos. É necessário que seja solteiro e não tenha filhos. A empresa oferece plano de saúde, seguro trabalhista, assistência social e aposentadoria. Nesta época estava desempregado, havia sido expulso da polícia e pensei com meus botões... Tai minha oportunidade de trabalho! Precisa-se de profissionais especializados, para pilotar e comandar naves de transporte de minério lunar e de ônibus espacial para levar e buscar operários das minas no setor norte, do lado escuro da lua. Exigência: (nível superior e dominar o idioma russo) experiência com formação técnica em aeronaves. Operários com especificação técnica em operar máquinas robôs de escavação, tratores e caminhões lunares. Seguranças, mecânicos e técnicos em robótica serão treinados e capacitados dentro do padrão de normas técnicas da empresa. Novatos e aprendizes começarão trabalhar em serviços gerais, com possibilidades de serem promovidos. Os interessados deverão comparecer nos escritórios representantes da “Lunar Explorer Minerium Corp.” nos seus respectivos países, munidos de cartão magnético que contenha todos os seus documentos de identificação, curriculum vitae e situação médica/ biológica que informe de modo preciso a sua real condição de saúde física, mental e psicológica. O contrato será a princípio de cinco anos e não será permitida a volta, sob nenhuma hipótese, seja de ordem emocional/física ou de qualquer natureza estranha ao regulamento.

Quando era policial nas ruas de Chicago enfrentei muitas barras pesadas, então ficar cinco anos no espaço para mim, não era nada. Não tinha medo, pensava foda-se! Os candidatos passarão por uma prévia seleção, para constatar os requisitos básicos, elementares e necessários, para assim averiguar o perfil e as qualidades pessoais de cada um. Os selecionados passarão por um teste psicológico e treinamento específico a cada função, durante um período de três meses. -Três meses? Penso eu! Antigamente o treinamento de um astronauta para ir numa missão ao espaço era de dois a três anos! Hoje devido ao avanço tecnológico e aos modernos trajes espaciais, isso mudou muito!

A primeira fase do programa de treinamento de dois meses será feita na terra e seguirá um cronograma rígido de disciplinas técnicas e intelectuais e condicionamentos físico e mental. A segunda e última fase do programa de treinamento será concluída no espaço, mais precisamente na estação espacial da companhia “Lunar Explorer Minerium” (LEM). Esse treinamento também seguirá um rígido cronograma de procedimentos de adaptação ao espaço. - Me lembro que esse período de adaptação ficou sendo conhecido como “Síndrome de adaptação ao espaço” ou “doença do espaço”.- Nas primeiras viagens espaciais os antigos astronautas sentiram demais o impacto da microgravidade, vários sintomas foram relatados como náuseas, tonturas, desconforto e dores de cabeça.- Descobriu-se mais tarde que isso era causado pela sensação de movimentar-se livremente em todas as direções (Doença do movimento) e que logo o organismo se adaptaria ao ambiente com pouca gravidade. Meu único problema é o medo de altura – Acho que vou vomitar pra caralho!

O programa foi elaborado para atender as exigências de uma real situação de trabalho lunar e a sua dura rotina nas minas. Desde alimentação à microgravidade, passando pelos aspectos psicológicos e emocionais, abordando regras e disciplinas, ética e código de sobrevivência. Após todo esse procedimento burocrático, técnico e operacional, aqueles que conseguirem obter o nível satisfatório exigido estarão aptos para desenvolverem os trabalhos e poderão assinar o contrato. Pessoas de todo o planeta se candidataram aos cargos e muitos foram selecionados, inclusive eu. Consegui burlar o sistema com informações falsas, era policial,quero dizer ex-policial e sabia como fazer.

Com os recursos naturais e as fontes de energia não renováveis chegando perto do fim, o mundo viu a real possibilidade de um colapso energético, catastrófico e novamente ressurgiu o cenário político da guerra fria. (na verdade só estava camuflado).

A partir do momento em que a nova corrida espacial recomeçou com as superpotências Rússia e Estados Unidos brigando pela hegemonia da conquista do território lunar, potências emergentes como China, Índia e Canadá também entraram no páreo, juntamente com a Comunidade Europeia para a grande colonização da lua. O acordo feito no passado em que se dizia que o território lunar pertencia a toda a humanidade foi totalmente esquecido, o que se vê é uma corrida em busca de território e suas riquezas. Todos querendo explorar a principio a extração de ferro, alumínio, silício, titânio, crômio, e magnésio do regolito lunar e como derivação obter oxigênio, hidrogênio e água. Mas a maior ambição de todos é conseguir o hélio-3 um combustível termonuclear que não existe na terra, mas que há em abundância na lua. A dificuldade é que ainda não se domina a “síntese termonuclear”, mas se está muito próximo disso. O país que dominar a tecnologia da síntese termonuclear do hélio-3, certamente estará na frente de todos. Eis ai o grande interesse na colonização lunar. Isso fez com os governos abrissem concorrências públicas para capitais privados e assim grandes empresas entraram de forma definitiva nesse vasto mercado e investissem bilhões de dólares em pesquisas e tecnologias de ponta para o desenvolvimento de estações espaciais e naves que pudessem transportar máquinas, equipamentos e pessoas.

A colonização da lua começou efetivamente em 2030, com a poeira lunar sendo transformada numa espécie de camada protetora. Essa poeira cobriria um habitat inflável. Em três meses mais ou menos o habitat inflável já estaria pronto em condições de abrigar e proteger da radiação os colonos humanos. Esse sistema mostrou-se o mais barato e o mais eficiente de todos os protótipos. Existem hoje varias colonias de humanos vivendo e trabalhando em solo lunar. Assim como diversas estações espaciais dando suporte técnico e científico a vários governos e empreendimentos comerciais de exploração lunar. Empresas transnacionais fundiram seus ativos e se transformaram em grandes corporações mineradoras como é o caso da “Lunar Explorer Minerium”. Isso fez com que suas ações triplicassem na bolsa global. Na verdade a colonização da lua é só o primeiro passo, para se conquistar Marte e o espaço sideral, “a fronteira final”. Empresas e governos estão de olho nesse mercado infinito.

– Garçom, me traga mais uma marguerita! Acho que já tomei quantas? Tô ficando bêbado, vejo o tempo passando translúcido, lentamente, por entre copos e garrafas de tequila e a solidão dos meus pensamentos, que me levam até Jack.

-Jack era um cara que conheci na estação espacial, sujeito muito gente fina, educado e de bom coração. Jack era filho único de um casal de refugiados políticos brasileiros que migrou para a América, fugindo do golpe de estado, que levou o Brasil a mais uma ditadura militar que instituiu a repressão à liberdade de imprensa, fechou o congresso, alegando o golpe ser um ato político legal em face à grande roubalheira e corrupção que se instalou nos três níveis de poder: O executivo, o legislativo e o judiciário. Grande parte de tudo isso foi que a maior empresa petrolífera brasileira se afundou em dívidas e mais dívidas provocada por má gestão de seus diretores corruptos que recebiam propinas de empreiteiras, que não cumpriam os contratos e recebiam bilhões de dólares e a companhia acabou por pedir falência e deixou seus investidores a ver navios e o sonho brasileiro de também entrar no grande mercado de exploração lunar afundou junto com a empresa. Esse fato talvez tenha sido a gota d’água para que ocorresse o golpe. Os pais de Jack eram professores universitários e pertenciam ao partido que sofreu impeachment e foi deposto, na verdade um golpe de estado, revestido na legalidade de um “impeachment” eram intelectuais idealistas, que atuavam na comissão de ética do partido e não comungavam com a linha política que o partido adotou, foram expulsos, mas mesmo assim a caça as bruxas não os perdoaram. Tiveram que pedir asilo político, não conseguiram e fugiram para á América como clandestinos. Jack ainda era ainda praticamente um bebê e foi uma benção para os pais que já não eram jovens. Na América tiveram muitas dificuldades de adaptação, de trabalho, de discriminação e foi uma luta muito grande para se conseguir os direitos da cidadania americana. Foram persistentes, sofreram, mas conseguiram com que Jack fosse para a universidade e estudasse ciência médica e tecnologia. Brilhante conseguiu se formar com mérito, entre os melhores. Os pais de Jack ficaram muito orgulhosos do filho e Jack amava-os muito. Era uma família feliz!

Jack começou a trabalhar num laboratório de pesquisas com células tronco. Elaborou um programa de computador que fazia diagnóstico em células troncos compatíveis em diferentes órgãos. Estava indo muito bem no seu trabalho no laboratório de pesquisas de células tronco, quando seu chefe entrou na sua sala e disse:

- Bom dia, Jack!

-Bom dia, Dr George!

- Tenho uma proposta para você!

- Do que se trata Dr George? Perguntou Jack curioso.

- Ontem à noite recebi um telefonema do Dr Nelson Akira, chefe do laboratório da estação espacial LEM, dizendo que estava precisando de alguém jovem e competente, para ser seu assistente e trabalhar com ele no laboratório de pesquisa de células tronco na estação espacial! O trabalho é muito parecido com esse que você desenvolve aqui! Com uma diferença salarial enorme e a grande chance de se destacar na sua carreira, podendo publicar artigos e ensaios nas mais respeitadas revistas científicas do mundo! Na hora pensei em você, o seu perfil é adequado ao que eles estão precisando! Você é jovem, solteiro, não tem filhos e pode ficar cinco anos no espaço e ganhar muita experiência profissional.

Perplexo Jack ficou boquiaberto, aquela era uma oportunidade de ouro, única na vida. Porém na hora Jack pensou nos pais, na sua ligação com eles, deixa-los aqui na terra e passar cinco anos no espaço não podendo voltar seria complicado demais. Eles já estavam velhinhos e a possibilidade de não mais vê-los pesou na sua consciência. Por outro lado Jack pensava na grande oportunidade de trabalhar num laboratório na estação espacial, não tinha esposa, nem namorada, nem filhos, sempre foi um sujeito solitário e que tinha sérias dificuldades com as mulheres, não que não gostasse delas, gostava e muito, certa vez ficou apaixonado pela colega de classe, que o esnobou e acabou depois se casando com o zagueiro do time de futebol da universidade. Não era um sujeito boa pinta do tipo que as mulheres desejam, (mesmo que seja um grande idiota), mas não era feio, era normal por assim dizer, só não sabia lidar com as mulheres, sua excessiva timidez o atrapalhava, ficava nervoso, isso o levava cada dia mais para dentro do universo dos livros, dos estudos e da pesquisa.

- Dr George, vou ter que pensar a respeito! Conversar com meus pais e ver o que eles acham! Ouvir a opinião deles!

- Okay! Mas você precisa me dar à resposta até o final da semana! Até logo Jack!

Até logo Dr. George!

No final da tarde Jack chegou em casa, chamou os pais e disse:

- Recebi uma proposta para ir trabalhar no espaço!

- Trabalhar onde? Perguntou seu pai.

- Na estação espacial! É uma grande oportunidade profissional! E vou ganhar muito bem, um ótimo salário!

- Sua mãe disse: Filho pense bem! Você tá indo muito bem aqui! É muito arriscado e perigoso trabalhar no espaço!

- É verdade filho! Disse o pai. Sua mãe tem razão, não há necessidade de você ir trabalhar no espaço!

Jack sabia que os pais seriam contra e que não concordariam, mas no fundo ele sentia o desejo de outras coisas, de ficar independente financeiramente, de arrumar uma namorada, de não ter hora pra voltar, enfim de ser um sujeito como outro qualquer, afinal de contas ele era jovem e precisava começar a viver por si próprio, sair um pouco da barra da saia da mãe. Seus pais sempre o superprotegeram e o educaram para ser um sujeito certinho, estudioso, pois assim ele se daria bem na vida e estaria seguro assim, quando não estivessem mais por aqui, principalmente no país da meritocracia, pensavam eles. Jack sempre foi um bom filho e amava os pais, mas sentia que estava chegando a hora de voar sozinho.

- Tô cansado, vou dormir um pouco e pensar mais sobre isso! Disse Jack.

- Preciso dar a resposta até o final da semana! – Boa noite pai... Boa noite mãe!

-Boa noite filho, durma bem! Disse a mãe. –Boa noite, filho! Disse o pai!

A semana passou muito rápido, na sexta-feira o Dr. George o chamou.

- Então Jack, pensou na proposta?- Falou com seus pais?

- Sim Dr. George! Pensei bem e vou aceitar a proposta!

- Muito bem Jack, você não vai se arrepender! Vamos brindar a isso! Uma nova vida no espaço! Se fosse mais jovem eu iria também... Mas já estou velho para isso! Boa sorte Jack!

No sábado Jack chamou os pais e disse que aceitou a proposta de trabalho e que iria partir. A mãe chorou e o pai conformado disse: Tá bom filho você tá escolhendo o seu destino! Que Deus o proteja.

E assim Jack fez todo o procedimento de treinamento da empresa, assinou o contrato e no dia marcado embarcou no ônibus espacial junto com técnicos, mecânicos, operários, seguranças e pesquisadores. A maioria foi pra a lua. Foi assim que conheci Jack. Ficamos amigos na estação espacial.

Jack era um importante e jovem cientista eu era apenas um ex-policial que trabalhava de segurança. No primeiro ano no espaço, Jack estava animado, entusiasmado com o novo trabalho e teve a sorte de encontrar Tracy, uma bióloga da Califórnia que ficou sendo sua assistente. Tracy era uma garota bonita, alegre e muito gente boa, a garota que Jack sempre sonhou estava ali, eram feitos um para o outro. Nas horas de lazer faziam planos pra quando eles voltassem para a terra, ele iria apresenta-la aos pais e se casariam numa pequena igreja com poucos convidados e depois viajariam para o nordeste brasileiro em lua de mel.

Às vezes Jack me chamava a sua sala para tomar cerveja (space beer/space cup) para matarmos a saudade da terra. Ficávamos conversando e olhando a extraordinária paisagem espacial através da enorme janela a nossa frente.

- Olha o nosso planetinha azul como é lindo, Smith!

- Pois é Dr. Jack, e pensar que ali estão todos os nossos sonhos, anseios, esperanças, egoísmo, vaidades, guerras, poder, religião, civilizações...

- A raça humana, o destino da raça humana é o espaço! Disse Jack.

- Sem dúvidas, estamos matando o nosso lindo planetinha azul!

-É verdade Jack, isso é uma verdade!

-Vamos descansar amigo, que a jornada é longa!

A vida na estação espacial seguia na sua rotina de trabalho intercalada com momentos de lazer, acompanhávamos os campeonatos nacionais, víamos os concertos de rock, no terceiro ano, estávamos totalmente adaptados ao espaço.

Jack sempre conversava com os pais pelo telefone e sua mãe sempre dizia:

- Filho se cuida, se agasalhe e não passe frio, pra não ficar resfriado!

- Tá Bom mãezinha, pode deixar! Saudades, beijo

- Boa noite filho, seu pai manda lembranças! O pai de Jack estava doente.

Num dia desses Jack recebeu uma má notícia. - Dr Jack, informamos que seu pai faleceu hoje no Mercy Hospital! – As nossas condolências!

Jack ficou muito mal, sentiu demais a morte do pai, sentia-se culpado e não se conformava. Tracy o consolava, estava sempre do seu lado, mas a vida continua e Jack foi se conformando, mas no fundo ele sabia que sua mãe não aguentaria viver sem o pai e logo morreria também. Seis meses depois a mãe de Jack também morre. Jack ficou mais triste ainda, olhava pela janela e contemplava a terra e a vastidão do infinito, sentia um vazio profundo, lembrava-se da vida na terra, quando os pais o levavam para brincar nos parques, naquelas férias na praia em Miami, os hot-dogs dos aniversários que sua mãe fazia, seu pai enchendo os balões coloridos e todos cantando “happy birthday”. Era triste vê-lo assim, mas não podíamos fazer nada, só o tempo fecharia essa ferida.

Chegamos ao quarto ano no espaço e Jack desenvolveu várias pesquisas e publicaram seus trabalhos nas revistas mais conceituadas de ciência, esses trabalhos foram utilizados pela NASA em vários projetos.

Mas o destino pode-se dizer assim, sempre estava de olho em Jack e mais uma vez, o levou pra longe, dessa vez longe de tudo. Tracy precisou ir a lua concluir um trabalho que estava desenvolvendo e na volta à nave em que estava deu pane e explodiu. Novamente Jack sofreu a dor da perda. Todas as pessoas que amava estavam mortas, como prosseguir? Como ir em frente agora? Nada tinha mais sentido pra ele. Eu como amigo procurava consola-lo e incentiva-lo, mas sabia que era difícil.

Chegamos ao final do quinto ano no espaço e podíamos finalmente voltar pra casa.Um dia antes de voltarmos, Jack me chamou na sua sala e disse:

- Recebi uma proposta da NASA e vou chefiar um projeto no laboratório da “AMÉRICAN SPACE CONQUEST”. A Estação espacial americana rumo a marte.

Olhei para ele e vi um homem com um brilho nos olhos e me lembrei daquele garoto tímido e introspectivo, que conheci cinco anos atrás e que agora havia se transformado num “space man”, um conquistador do espaço.

- Não quer voltar pra terra? Já faz muito tempo que você está no espaço!

- Não Smith, nada mais me prende a terra! Só as minhas lembranças! Se você quiser ir comigo, arranjo uma colocação pra você!

- Não meu amigo! Preciso voltar pra terra, quero morrer lá!

- Então boa sorte! Me de um abraço nos vemos por ai! Olhou-me nos olhos deu um sorriso e saiu.

Foi à última vez que vi meu amigo Jack! Olho pro lado e vejo os garçons virando as cadeiras sobre as mesas e dizendo: - O Smith levanta os pés vamos limpar o bar! Com a minha cara amassada de bêbado, virei e vi o sol refletindo na janela, estava amanhecendo mais um dia. Peguei meu velho paletó amarrotado e sai caminhando pela rua quase deserta, sentindo o vento suave batendo no meu rosto e fui cruzando com crianças indo pra escola e velhas senhoras indo para a igreja... Parei e olhei para o céu que estava azul e disse: Bom dia planeta terra!

Roman Kane 21/02/15

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