Supernova

Alfa de Orion?

Sim, Alpha Orionis, melhor dizendo Betelgeuse.

Você tá maluco, uma estrela a 131 parsecs de nosso sol?

Sim, uma supergigante vermelha mais de 800 vezes o diâmetro de nosso sol

vai se tornar uma supernova e aí meu amigo, nossa pequena Terra já era!

Uma estrela que se fosse colocada no lugar de nosso Sol se estenderia até a órbita de Saturno! O fato é que já pode até ter virado uma supernova e a qualquer momento sejamos atingidos por sua energia. Para isso bastariam 10 massas solares e essa supergigante ultrapassa em muito essa característica.

De repente lembrei, foram muitas as noites que ficamos observando essa estrela, ao lado direito das Três Marias, com seu brilho vermelho pálido e a esquerda do outro lado, a supergigante azul Rigel, esta a 237 parsecs de distância.

No meio das duas, a Nebulosa de Orion longe de nós quase o dobro da distância dessas estrelas gigantes, com uma extensão de 24 anos-luz (quase 9 parsecs).

Agora essa, poderíamos ser atingidos por sua energia de supernova e aí, adeus vida!

Mas será mesmo?

II

O entorno de onde ficava o enorme observatório era deserto e frio, porém era o melhor ponto do planeta Terra para se observar o espaço em vista da limpidez do ar, quase nunca nebuloso.

Já eram bem depois das duas da madrugada e na Sala de Análises era possível ver o famosíssimo Professor Igor Profkansnya, um dos maiores cosmólogos da atualidade, olhando o enorme painel de leds que projetava uma parte de nossa Galáxia.

Aqui, e aqui, talvez aqui, dizia apontando com sua minúscula caneta laser pontos no mapa estelar. Podemos prever que as primeiras evidências da energia da supernova atingiram estes pontos, e que em seguida, num espaço de dois ou três anos, nos atingiriam também.

O Professor ficou fitando em silêncio os pontos que apontava ao término de sua frase e os outros astrônomos presentes engoliram em seco seu silêncio. Todos lembraram da última evidencia de supernova ocorrida em 1987 na Grande Nuvem de Magalhães que embora tenha mantido seu brilho máximo por pouco tempo, afetou sobremaneira as telecomunicações em nosso planeta e vejam que esta foi a uma distância quase 235 vezes maior!

III

O fóton não possui massa, é uma partícula subatômica, como todos sabemos. E pior, segundo Einstein, comporta-se como onda e como partícula, a falada dualidade da matéria. Propaga-se no vácuo na velocidade C, ou seja, 300.000 Km/segundos, porém, na verdade, para o fóton não existe lapso de tempo ou distância, tudo para ele é simultâneo, o que para nós leva 131 parsecs (distância Sol-Betelgeuse)para ser percorrido nessa velocidade, para o fóton é imediato, ou seja, a luz, onda ou partícula, na realidade não se propaga no vácuo do espaço, e sim ocupa ao mesmo tempo (nosso tempo) todos os sítios de sua trajetória no espaço-tempo. Isso equivale e dizer que para o fóton não existe movimento e consequentemente, seu tempo é sempre imediato ou igual a zero. Como vocês podem perceber caros ouvintes o filósofo grego Zenon não estava tão errado assim....

Assim dizia, com grande simpatia, o erudito Professor aos discípulos atônitos que o escutavam naquela sala fria, rodeada de computadores e monitores de leds informando a todo momento os dados captados pelas enormes antenas do sistema de observação radioastronômica daquelas instalações. E continuou…

Sabemos que no espaço de mil anos, nesse lado visível de nossa Galáxia, podem ocorrer até três eventos de supernova, no caso presente as evidências observacionais indicam uma alteração no espectro de emissão na faixa infravermelha de Betelgeuse indicando que os elétrons em degenerescência de seu núcleo sofreram ou estão sofrendo enorme expansão. Embora sua luz demore quase 500 anos para nos atingir, nesse momento pode ser que essa estrela há muito já se tornou uma supernova e sua enorme energia expandida viaja no espaço na velocidade C em nossa direção.

O Professor falava e um silêncio palpável ocupava o ambiente…

Todavia como o fóton é simultâneo como expliquei anteriormente, é possível que a energia avassaladora já esteja entre nós… e defendo a hipótese de que os grandes terremotos, tsunamis, alterações climáticas, aquecimento da superfície global, derretimento das calotas polares, secas em regiões antes férteis e crises hídricas que estamos vivenciando, sejam efeitos da energia da supernova. Vejam que ao contrário de muitos, não acredito num impacto de proporções imediatas em nosso planeta, mas no encadeamento de sucessivas alterações no ecossistema, vivemos talvez uma era de mudanças na conformação de nosso planeta e de sua evolução natural.

IV

Na saída da aula Frank e Allison astrônomos do observatório dirigem-se a pequena vila do povoado em que fica localizado o observatório para descontraírem no pequeno e tranquilo bar local, ponto de encontro de todos os pesquisadores que ali trabalham, já que ficava aberto durante a noite toda.

Cada um com seu copo de Pale Ale bem gelada, vão conversando sobre o que ouviram na explanação do Professor.

É possível Frank que o Professor esteja certo ?

Acredito que sim, o velho sempre está certo. Lembra aquele caso da órbita irregular do asteroide Osunu? Só ele calculou e previu que não era elíptica. E aquele do avião que desapareceu em pleno voo com 255 passageiros e nunca mais foi visto ? O homem provou que foi atravessado por um microburaco negro, como previsto na Teoria Hawking, o cara é fera mesmo.

Mas aquela ideia do fóton sem movimento, ocupando todos os locais ao mesmo tempo, me pareceu ficção mesmo, mas depois que ele falou das alterações que nosso planeta vem experimentando, comecei a acreditar…

Além de detentor do Nobel de Física o homem faturou a Medalha Willard de Matemática com apenas 20 anos de idade meu chapa, você vai duvidar dele? Sem falar que é uma grande figura humana, amado e respeitado por todos.

O Professor também era visto muitas vezes nesse bar, numa mesinha de canto tomando seu bourbon tranquilo e ouvindo música folk que adorava, nesses momentos, sempre que via algum colaborador convidava para sua mesa e aí eram horas de conversas sobre música, literatura, arte. Dizia rindo pra si mesmo que a Comissão do Nobel havia lhe conferido o prêmio devido a não existir mais ninguém melhor. Era um humanista na pele de um grande pesquisador.

V

No dia seguinte logo cedo, se dirigiram ao auditório do observatório onde o Professor rodeado por outros cientistas gesticulava sobre um monitor de computador.

Houve uma alteração nas raias espectrais da análise da luz de Betelgeuse que parecem apontar para um aumento no seu desvio para o vermelho, fato curioso, pois indica um afastamento de nós, quando antes e sempre, essa análise mostrava o oposto, uma velocidade radial de aproximação, assim como M31 e outras galáxias do Grupo Local.

Dizia o Professor em meio as expressões de dúvida e apreensão dos demais ouvintes.

Ora, se essa estrela estiver se afastando de nós nessa taxa apontada pelo espectometro de fase, e já tiver se transformado numa supernova como de fato presumo e até acredito, então sua taxa de energia a nos atingir será paulatina e não total o que corrobora a teoria das mudanças ambientais em nosso ecossistema. Sendo assim torna-se urgente medidas de âmbito governamentais em todos os países no sentido de adaptarmos nosso mundo para as mudanças que virão. Não podemos perder de vista que o fluxo de energia vindo de Betelgeuse deve durar no mínimo 500 anos.

Mais uma vez esse homem extraordinário tinha achado a resposta, o mundo nosso mundo, não seria destruído por uma supernova e sim ela nos dá a chance de mudarmos o tratamento dado a nosso sofrido planeta para adentrar numa nova era de seu ecossistema maravilhoso, estava na mãos da humanidade a chave para a sua própria sobrevivência.

Assim como do interior das estrelas colapsadas em supernovas se originaram os elementos pesados que compõe todos os corpos do universo inclusive nós, agora mais uma vez, sua energia de dissipação seria fator de renascimento de nossa civilização.

VI

Fora do observatório fitando a noite clara, que mostrava todo esplendor da Via Láctea naquele local cuja visibilidade era suprema, Frank fitava maravilhado o céu. Lá estava, a direita de Orion, a supergigante vermelha Betelgeuse, ainda um ponto pálido, mas logo, hoje, amanhã, daqui um século quem sabe quando, uma supernova, que mesmo agora, já causa em nosso mundo os efeitos iniciais de sua incomensurável energia de expansão. Quantas outras existirão em nossa Galáxia? Milhares certamente e todas influindo diretamente no curso evolutivo de nosso planeta.

Fitou-a ainda um momento e lentamente foi caminhado para dentro do edifício do observatório.