N-19 (Parte 5)

À medida que a floresta nos provém esconderijo, ela também esconde muitas outras coisas. Estávamos instalados no novo acampamento a pelo menos um mês. Construímos barricadas, aperfeiçoamos o armazenamento de água do poço, iniciamos o plantio de alguns vegetais. Estávamos mantendo um bom nível de sobrevivência, já que a incidência de infectados e a ameaça de clãs humanos ainda não haviam assolado aquele lugar. Mas algo de estranho estava acontecendo. Durante as patrulhas no perímetro, sons estranhos de movimento dentro dos arbustos pareciam nos seguir e muitos de nós sentíamos a sensação de estar sendo observados. A tensão era grande. As criaturas não agiam assim. Quando nos detectavam, em cem por cento das vezes, partiam para o ataque. O clima de apreensão se elevou entre os membros do grupo. A atenção foi redobrada. Os sentinelas noturnos agora não cochilavam mais. Fizemos uma reunião para definir qual seria o plano de ação a respeito da situação. Foi resolvido que instalaríamos pontos de observação na mata em locais estratégicos e montaríamos armadilhas nas trilhas e clareiras. Depois do aparato pronto, nos posicionávamos diariamente nesses pontos, nos revezando sempre em horários com menos luz e de forma silenciosa. Criamos um mapa com marcações de onde estavam instaladas as armadilhas, para não sermos surpreendidos com nossa própria engenharia. Agora nós é que estávamos à espreita. Passados cinco dias nessa rotina, alguns já demonstravam cansaço e começavam a desacreditar da possibilidade de estarmos sendo observados, quando de repente se escutaram os estalos do desarmar de uma das armadilhas de laço que fora posta há alguns metros adentro da mata. Os patrulheiros que estavam no turno se dirigiram correndo para o ponto e enviaram um mensageiro para alertar o resto do pessoal. Estávamos prestes a descobrir quem ou o que andava nos espionando. A ansiedade do esclarecimento nos dava energia para corrermos até a clareira. Quando chegamos ao local o laço da armadilha tinha sido arrebentado e havia sangue no chão logo abaixo da corda. Não tinha nenhum infectado por perto, nenhuma pessoa também, mas a coisa que escapou deixou um rastro de gotas de sangue que sumia em um arbusto. Continuamos perseguindo o rastro e ouvimos um gemido na mata. Nos aproximamos devagar, com as armas empunhadas e apontadas para a direção de onde ouvimos o gemido, até que uma figura humanóide foi vista deitada. Parecia um humano que sofreu os sintomas do N-19, mas que de alguma forma, não evoluiu a mutação para o estágio final. A criatura estava ferida e foi devidamente amarrada e levada para o acampamento. Os humanos infectados que se transformavam, costumavam passar dias a fio sem se alimentar e sem demonstrar sinais de fraqueza por conta disso. Mas essa criatura parecia estar fraca por falta de alimento e com sede. Resolvemos alimentá-la e dar-lhe água, mas a mantemos em cárcere, pois não sabíamos ao certo com o que estávamos lidando. Entre nós não existiam cientistas para identificar de que se tratava aquele ser anômalo, então o único jeito de descobrir seria sair em busca de alguém que tivesse conhecimento necessário. Ouvimos falar uma vez que para o lado leste existia uma comunidade grande, onde médicos, cientistas e muitos outros profissionais se reuniram para tentar dar continuidade às pesquisas de controle do vírus. Após trocar muitas opiniões, decidimos tentar levar essa criatura até lá. Um grande risco a ser corrido apenas por respostas, mas talvez essas respostas poderiam mudar nossa realidade.

Max Machado
Enviado por Max Machado em 15/04/2015
Código do texto: T5208042
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