Terra árida e infértil - #02

Dentro do apertado cockpit a voz do computador de bordo dizia: - Falha no núcleo de salto interestelar, destino final desconhecido.

Os instrumentos no painel de controle não exibiam dados consistentes e luzes vermelhas piscavam por toda parte, mas ele não precisava de instrumentos para constatar que os dois inimigos ainda o perseguiam, estavam tão próximos que era possível ver o branco dos olhos, talvez por isso conseguiram adentrar na fenda espaço-tempo que sua espaçonave abriu, e talvez, algum disparo anterior tenha danificado o núcleo de salto.

De qualquer forma, em trinta anos pilotando caças, ele nunca, se quer tinha ouvido falar de um caso parecido, já ouvira relatos de saltos falhos que acabaram dentro de uma super-nova ou dentro do núcleo de um planeta gigante, aqueles pobres pilotos não tiveram nem tempo de perceber a própria morte.

Mas um salto errado acabar na atmosfera de um planeta desconhecido e aparentemente habitável? Isso era absolutamente improvável, mas ao que tudo indica não impossível, pois ali estava ele, protagonizando tal feito.

Mas a despeito de toda improbabilidade do acontecimento não podia se dar ao luxo de filosofar sobre isso naquele momento, voar no vácuo do espaço sideral era muito fácil, você não precisa se preocupar com muitas limitações físicas impostas pela gravidade e pelo atrito com o ar, mas voar na atmosfera de um planeta era bem diferente e poucos pilotos sabem como se comportar num dogfight nessas condições, por sorte, ele era um desses raros pilotos.

A primeira regra do dogfight na atmosfera é, voe baixo e você é um homem morto, então ele puxou o manche com toda força de encontro ao seu corpo e guinou o nariz do caça em direção a estrela, ou, a uma das estrelas, quase a 90º em relação ao solo, força total nos propulsores, sentiu o sangue subir diretamente para o seu cérebro, a visão ficou turva, respirou...

Olhou o visor traseiro, lá estavam eles, com sorte sofrendo um pouco mais que ele com a força-g, o céu começou a ficar escuro, ok, aqui é suficiente, desligou os motores...

Aquele silêncio que precede a tempestade pairou, por uma fração de segundos ficou ali parado no ar como um alvo fácil, mas os inimigos perseguiam de muito perto e aconteceu o que ele esperava, os dois passaram por ele a mais de 3x a velocidade do som deixando para traz apenas a explosão supersônica, e em meio a essa nuvem de condensação, ele sumiu em direção ao solo, agora muito mais veloz.

Esse era o truque, voar alto, altitude é igual a energia, a velocidade de queda somada a propulsão dos motores fazia com que ele se movesse 2x mais rápido e com a vantagem de largar na frente já tinha obtido uma grande distância dos inimigos.

Agora sim, estabilizou o caça, rapidamente rolou para a esquerda para não perder a velocidade e atacou com o sol nas suas costas eles nem puderam ver de onde vieram os disparos, deu três rápidas rajadas e lá se foi um deles, se tornou uma grande bola de fogo no céu, subiu um pouco, olhou por cima do ombro e viu o outro tentando desviar do que restou de seu ala, mais um mergulho e.....VOUSH....Como um raio, estava tudo acabado.

(continua...)