IMPRESSÕES PARALELAS

IMPRESSÕES PARALELAS

Sempre fico pensando nos impressionistas, naquelas pinceladas que traduz o soslaio, é tudo tão rápido que o olhar não capta devidamente a realidade e tudo parece uma transparência fugidia que engana os nossos sentidos. Às vezes tenho a impressão de que capto algumas sombras que se confundem com a luz do sol que explode em flashes por entre as folhas das árvores do bosque do parque, onde estou sentado disfarçadamente lendo um livro proibido de estórias fantásticas. Lord Byron me inspira o medo, que me leva até o século dezenove repleto de paisagens góticas e assustadoras, chego a escutar o badalar de sinos tocando ao longe, o que me faz fechar o livro e olhar as horas no celular e perceber o quanto estou atrasado para o retorno ao trabalho. – Puta que o pariu! O meu chefe vai pegar no meu pé! - Meu Deus por que sou assim? Devia ser mais centrado no trabalho e não perder a noção do tempo lendo livros e ouvindo música. Outro dia já me atrasei ouvindo Prélude à l`après-midi d´um Faune (Prelúdio à tarde de um fauno) de Claude Debussy e nem me dei conta do horário! Preciso prestar mais atenção! – “Os meus inimigos estão no poder” dizia Cazuza, um antigo poeta!

Assim era Brian, um garoto de alma boa e simples, sem grandes complicações. Trazia no olhar a marca da sinceridade, uma naturalidade nos gestos que o diferenciava dos demais e isso sempre lhe causou problemas, embora não soubesse disso – “O porquê de que sempre fatos desagradáveis teimavam em acompanha-lo ao longo da sua vida?”. No cotidiano, sempre observou alguns episódios no mínimo curiosos, por exemplos: Enfrentava uma longa fila no supermercado, quando chegava à sua vez, acabava a fita de papel do caixa, quando chovia e tinha que atravessar a rua, sempre surgia do nada, um carro nas poças d água e o molhava todo. Mas levava numa boa e até sorria, ás vezes escutava-o dizendo – Cadê você? Ta dormindo? Não! Não estou dormindo! Só estou impossibilitado! Seria um azarado? Não! Definitivamente não era! Era só um simples herói lutando contra as forças do mal! Na verdade Brian possuía luz própria, era talentoso e carismático isso incomodava os invejosos. Não tinha muitos amigos, era quase um solitário, um impressionista, vivia na dele sem incomodar as pessoas, falava pouco, era tímido e introspectivo. Tinha uma paixão secreta por Angelina, sua amiga de infância. Gostava mesmo era de música e literatura, às vezes passava horas e horas no parque, sentado sob as árvores lendo Edgar Allan Poe, Baudelaire, Oscar Wilde (escritores proibidos) e ouvindo música, principalmente os impressionistas Debussy e Ravel (proibidos) de quem era fã confesso. Embora seu tempo presente fosse o século vinte e um, sua cabeça estava no passado, principalmente no século dezenove. Não se adaptava muito as novas tecnologias, sentia-se anacrônico, deslocado no seu tempo. A net, o celular, o face book, o tweeter, o instagram, embora soubesse da importância dessas novas ferramentas de comunicação da era pós-moderna, cyberpunk, nada disso o impressionava. Olhava a sua volta e via que o mundo estava se diluindo em plásticos e acrílicos coloridos, sentia tudo se desmanchando a sua volta, feito bolhas de sabão, numa decadência sem volta. Porém, quando a noite chegava, como que por encanto Brian sofria uma transformação, por detrás daquela calma aparente morava um coração valente, um dragão adormecido que quando acordava expelia o fogo da revolta, como num brado rock and roll, o uivo do lobo atravessava a madrugada. Brian se transformava no líder de uma gangue, que se autodenominava de “Coragem e Audácia”, o lema da resistência e da luta contra a tirania e a falta de liberdade imposta por um grupo político, supostamente religioso, preconceituoso e intolerante. Não admitia a diversidade étnica, racial, sexual, cultural e de credo.

Daqui do meu lado, no meu paralelo, gosto de vê-lo lutar bravamente contra as injustiças, sempre tomando o partido dos fracos e oprimidos, admiro a sua coragem e lealdade em defender aquilo em que acredita me sinto conectado de alguma forma com a sua causa, pode parecer meio piegas, mas é justamente ai que mora a verdade, é onde são forjados os heróis que dão a sua vida para que ocorram as transformações e a liberdade é conquistada com sangue e lágrimas, que é a marca das grandes batalhas. Fui incumbido de guarda-lo e protege-lo. Desde que nasceu acompanho seus passos e muitas vezes já lancei mão de sacar a minha espada flamejante para ajuda-lo, pois as forças do mal alimentadas pelos sentimentos sombrios dos seus inimigos ocultos, traiçoeiros, travestidos de ovelhas, podiam feri-lo. Às vezes me sinto enfraquecido pelas quedas e ferido pelas batalhas travadas, vejo que ele fica a mercê da sua própria sorte. Quando isso acontece Brian sente na pele o furor do mal olhado e da maldição do imponderável. Às vezes sopro em seu ouvido através da sua prece matinal, ou quando adormece por meio de sonhos, assim como uma espécie de sexto sentido: - “Cuidado, tome muito cuidado, estão te observando e querem caça-lo como a um animal, esteja atento”. No seu paralelo, como num milagre ele compreende e sente a minha presença, sorri e agradece, isso é inacreditável para um anjo. Às vezes não compreendo, porque posso vê-lo e ele não? Meu paralelo pode mudar interferir na história? Não sei se deveria estar pensando isso! O universo é regido por leis que movem essa infinita engrenagem para além de todas as galáxias. Não compreendemos a dimensão disso. Quem sabe um dia poderei apertar a sua mão e dizer: - Olá Brian, tudo bem? Você não me conhece, mas eu te conheço de longa data! E surpreso, Brian dirá: - Tudo bem! Sinto que te conheço também! Qual o seu nome? Quando vou dizer meu nome desperto do meu sono sideral e me vejo acordado no meu paralelo. Então percebo que temos limites, o livre arbítrio de vocês nos impede de interferir na história, não podemos mudar aquilo que foi a sua opção a sua liberdade de escolha, as escolhas irão determinar o rumo, e o destino de cada um, para o bem ou para o mal, embora no caminho possa haver armadilhas, pois o mal está sempre na espreita, armando emboscadas. Assim está lançada a sorte e o destino. Brian sim é daqueles sujeitos predestinados a mudar a história.

O mundo tornou-se um lugar sombrio, dominado por um falso profeta de nome “Rider” líder fanático de uma seita chamada “Sonho do Paraíso” que criou um partido político chamado de “Partido da Fé” o (PF) e ascendeu ao poder através de um discurso político-religioso, conseguiu por meio de propaganda ideológica com o slogan “fé e pecado”, ganhar a consciência da população que vivia descrente de tudo, pois a sociedade estava fragilizada, sem esperança, com os valores ético-morais em decadência, muita corrupção e politicagem, violência, sexo, drogas e prostituição se alastrando pelas famílias e desestruturando as regras básicas de convivência social. Diante desse cenário catastrófico e apocalíptico, sempre surge essas figuras dizendo ser a salvação do mundo e vendem essa ideia e muitos acreditam e se deixam levar por esses falsos profetas. Através da contribuição do dízimo dos fiéis ele conseguiu comprar um canal aberto de televisão que foi usado para manipular e induzir as pessoas através da propaganda política-religiosa a votarem no “partido da fé”, que prometia felicidade eterna a quem se entregasse de corpo e alma aos preceitos da seita. Dessa forma ascendeu ao poder e estabeleceu uma ditadura política-religiosa e instituiu o terror e a intolerância religiosa. Outras religiões foram caçadas e a liberdade de imprensa não mais existe e decretos foram instituídos proibindo as mulheres de usarem determinados tipos de vestuários, os homens deveriam sempre usar terno e gravata, cortar os cabelos e nenhum tipo de droga, bebida alcoólica ou cigarros era permitido a pena imposta aos infratores era a morte. Tudo era controlado por esse estado opressor e intolerante, o estado de direito democrático havia ficado no passado Em nome de Deus cometiam atrocidades absurdas e o abuso de autoridade estava instituído, a “polícia moral”, como era chamada, caçava homossexuais, prostitutas e drogados numa espécie de limpeza moral. Essa distopia religiosa imposta por esses fanáticos precisava ser combatida. É ai que Brian e sua gangue entram em ação, articulando a “Coragem e Audácia” como uma base política de rebeldes que lutam para desarticular os aparelhos do estado, usando técnicas de guerrilha urbana, assim como também se infiltrando no cyberespaço declarando uma guerra cibernética contra “Power” o computador central que fica na sede da seita “Sonho do Paraíso” que controla toda a vida política, econômica, cultural e religiosa da metrópole. Os jornais, os sites de notícias, assim como as redes sociais, toda a imprensa sofria intervenção e as informações filtradas e censuradas, somente o que interessava ao sistema podia ser noticiado. O estado tinha o controle absoluto de tudo e de todos e todos vigiavam a todos através do comportamento religioso em que pertencer a um templo da seita “Sonho do Paraíso” e orar em nome de “Rider” era estar adaptado ao bom convívio social. Isso era boa cidadania e sendo assim a prosperidade e a felicidade estariam sempre com você. Com esse discurso fizeram uma lavagem cerebral coletiva e como robôs, eram todos controlados e manipulados.

- “Terroristas atacam o sistema do metrô prejudicando trabalhadores”. Quem souber de algo, será recompensado por essa informação. Isso era a manchete dos jornais e dos sites de notícias, sobre o ataque da resistência a pontos estratégicos da engrenagem de poder. Assim começa a saga de Brian e sua gangue “Coragem e Audácia” (a resistência) para desestabilizar o sistema político do “Partido da Fé” e assim poder derrotar a ideologia imposta pelo grande líder fanático religioso o pastor “Rider”, que era visto e venerado como o salvador da humanidade. Será que nosso herói irá vencer essa batalha? Não perca o próximo capítulo dessa saga!

Roman Kane 01/07/15