Bem-vindos à Marte!

Na cabine circular mergulhada em luz sangrenta, o major Greenwood anunciou, talvez desnecessariamente:

- Preparem-se. Vai começar a sacudir.

O restante da tripulação, dois homens e três mulheres, atados como ele em suas poltronas anatômicas, grunhiram alguma coisa dentro de seus trajes espaciais fechados.

Greenwood ergueu duas travas no painel à sua frente. Ouviu-se uma pancada surda na lateral da cabine, quando o módulo de descida da Ares-IV separou-se do módulo orbital, que os levara da Terra até ali, e os levaria de volta para casa, após uma estadia de dois meses em Marte. Os Estados Unidos da América já haviam pousado, com sucesso, três módulos de carga às margens do Dao Vallis, no hemisfério sul marciano, e esta seria a primeira missão tripulada a descer no planeta.

O módulo de descida girou sobre seu eixo, de modo que o escudo térmico apontasse para baixo. Durante alguns quilômetros, numa lenta órbita em espiral, acompanharam de perto o módulo orbital. Depois, a distância foi gradualmente aumentando, à medida que se aproximavam do ponto de entrada na tênue atmosfera marciana.

- Altitude: 200 km. Sete minutos para o pouso - disse Greenwood.

Um brilho avermelhado vislumbrado fora da pequena escotilha de observação blindada confirmou que o escudo térmico já começava a sofrer o atrito com os gases atmosféricos. Em mais alguns instantes, a temperatura externa subiu para 1.600º C. Felizmente, a passagem por aquele inferno não durou mais que 30 segundos.

- Mach 12 - comentou o major, olhando um mostrador no painel. - Agora Mach 10... estamos indo bem!

Greenwood sentiu a pressão sobre seu corpo aumentar gradualmente, enquanto a massa imensa do módulo de pouso era frenada pela atmosfera marciana.

- Mach 6 - anunciou. Pela escotilha blindada, já era possível agora ver um céu pardo-alaranjado e lampejos de solo avermelhado mais abaixo.

- Mach 4. Abertura dos paraquedas em 60 segundos!

Instantes depois, todos sentiram-se subitamente puxados para cima contra os cintos de segurança que os prendiam às poltronas quando os imensos paraquedas supersônicos se abriram. Vinte segundos depois, ouviu-se um estrondo assinalando que o pesado escudo térmico havia sido ejetado da base do módulo de descida.

- Mach 3. Retrofoquetes em 3... 2... 1!

O disparo dos retrofoguetes, a 5 km de distância da superfície, pressionou novamente os tripulantes contra suas poltronas anatômicas.

- Mach 2. Altitude 4... 3... 2... 1 km. Passando para o controle manual!

O rugido dos retrofoguetes continuou, enquanto Greenwood ajustava a trajetória da nave para as coordenadas de pouso. Naquele momento, a descida era acompanhada de um deslocamento horizontal, visto que o objetivo era chegar o mais próximo possível das três Ares de carga em Dao Vallis.

- Trinta segundos para o pouso!

A superfície aproximava-se velozmente. Uma vasta planície alaranjada pontilhada aqui e ali por crateras, e ao longe o leito sinuoso do Dao Vallis, que em priscas eras conduzira água de degelo ao longo de seus mais de 800 km de extensão.

- Dez segundos para o pouso!

Uma nuvem de pó ergueu-se, envolvendo totalmente o módulo de descida. Era impossível ver qualquer coisa lá fora. Finalmente, uma pancada surda demonstrou que os trens de pouso haviam tocado em segurança o solo marciano.

- Chegamos, pessoal! - Exultou Greenwood. - Todos estão bem?

Um murmúrio confuso de alívio ecoou nos fones de ouvido do traje espacial. Sim, todos estavam bem, e haviam pousado com perfeição em Marte.

Lá fora, a poeira havia baixado o suficiente para que pudesse finalmente ver a paisagem circundante. O sol estava baixo no horizonte pardo-alaranjado, e as três Ares de carga podiam ser vistas próximas, num raio de 200 metros a partir do módulo de descida. Pareciam estar em perfeito estado, considerando que haviam chegado ali alguns meses antes deles.

E foi então que percebeu, vindo do poente, uma nuvenzinha de poeira levantada junto à superfície, seguindo velozmente na direção exata do ponto onde estavam. Não era um fenômeno natural, reconheceu de imediato. Nenhum dos redemoinhos de poeira típicos do planeta.

- Pessoal... - disse Greenwood.

Cinco pares de olhos voltaram-se para ele.

- Temos companhia - informou.

Um brilho prateado emergiu da nuvem de pó. Um veículo 4X4, de cabine aberta, parou a poucas dezenas de metros da Ares-IV. Dentro dele, haviam dois ocupantes, envergando trajes espaciais leves, próprios para uso na superfície marciana. Ambos desembarcaram, e um deles acenou amistosamente.

Greenwood apertou um botão no painel à sua frente e disse algo que só seria ouvido na Terra oito minutos depois:

- Controle da Missão? Fala o major Greenwood. Pousamos em Marte...

E, em tom cauteloso:

- ...mas temos um problema.

Imediatamente, um alto-falante estalou dentro da cabine circular, e uma voz bem-humorada exclamou:

- Bem-vindos à Marte! Esperamos que estejam com seus passaportes e certificados de vacinação a mão!

[01-10-2015]