Guerra Grande

Já em profundidade de periscópio, o Capitão acompanha o horizonte noturno onde navega o Paracatu, um vapor brasileiro de 7.000 toneladas. A tripulação do submarino paraguaio Humaytá trabalha com a precisão de um relógio naquela noite clara de lua cheia.

- Reduzir motores a 2/3 – diz o Capitão Hernandez– ajustar leme a bombordo em 15º e manter.

- Leme a bombordo em 15º e motores a 2/3, Capitão – responde o navegador.

O velho lobo do mar aguarda resoluto, a acompanhar o vapor brasileiro navegando à distância enquanto seu submarino nivela sob a água. O Paraguai havia se aliado aos alemães e japoneses contra os americanos, ingleses e soviéticos. Era a segunda guerra que seu país travava contra o Brasil. Na primeira venceram a muito custo e como prêmio de guerra anexaram as outrora províncias imperiais do Paraná e Rio Grande do Sul. Se modernizaram e industrializaram-se sob a liderança de Solano Lopez. O Brasil tornara-se um país menor, ainda escravocrata, de pouca importância, com a sua dinastia lusitana lutando para manter-se no poder ante as revoltas populares no interior do país. O monarca brasileiro, D. Pedro III, não teve muita escolha, foi forçado a apoiar com todos os seus recursos, o esforço de guerra norte-americano e britânico que desesperadamente tentava manter uma linha de suprimentos através do Atlântico. O soberano brasileiro havia entrado na guerra, a mesma guerra que o Paraguai lutava ao lado de Hitler, não por afinidades ideológicas, mas por interesses em comum. A guerra agora atingia todos os continentes do mundo, uma Segunda Guerra Mundial.

- Ajustar torpedos 1 e 3 para espoleta de impacto – ordena o Capitão.

- Torpedos 1 e 3 ajustados e prontos em espoleta de impacto, senhor – responde o tenente da sala de torpedos.

- Abrir tubos 1 e 3 e lançar! ordena o capitão.

A ordem é cumprida imediatamente na sala de torpedos. A tripulação continua em absoluto silêncio, apenas quebrado pelo som sibilante dos torpedos saindo a toda velocidade dos tubos alagados do submarino paraguaio. Instantes depois, duas explosões são ouvidas a distância. O Capitão Hernandez quebra sua seriedade com um leve sorriso no canto da boca.

- Os dois tiros acertaram o alvo! – afirma eufórico o operador de sonar.

- Navegador, inundar tanques de lastro, nivelar a 140 metros, motores à meia, curso 0-7-0 – ordena o capitão.

O navegador confirma as ordens. O submarino Humaytá, de modelo italiano e fabricado nos estaleiros paraguaios da cidade de Porto Alegre, segue silencioso ocultado pela escuridão do mar profundo.

Franco Bruno.