2038
 
12 de Março
 
   Chegamos ao Kentucky pela manhã, um dos meus estados preferidos, adorava passear pelas cidades e admirar a natureza. Por isso fiquei em silêncio grande parte do tempo em que passávamos por grandes florestas devastadas e paisagens destruídas.
   Franklin parecia bem comunicativo, gostava de demonstrar seu senso de humor e carisma. O vento aquela manhã estava forte e sentíamos isso contra a pele, o gás logo acabaria e descemos em Maysville.
-Christopher, o que acha de nos dividirmos para procurar alimentos e gás?
-É uma boa ideia, assim poupamos tempo.
   Ele demorou a voltar, encontrei gás eu um porão, junto de outro balão, apesar de estar um pouco danificado o trouxe até a praça da cidade, tentando enchê-lo. Uma hora depois Franklin apareceu, carregava um carrinho de comprar cheio de latas de atum e parecia surpreso ao meu ver tentando remendar todos os furos.
-Encontrei uma coisa.
-O que?
-No mercado, havia sangue, sangue fresco. Mas não consegui encontrar ninguém, deve haver alguém vivo nesta cidade e provavelmente muito ferido.
-Espere. Vamos amarrar o balão na igreja, assim caso alguém apareça não poderá roubá-lo.
   Franklin me acompanhou até o mercado, começamos a percorrer os corredores até encontrar o sangue. Havia sangue em algumas embalagens de cereais, me levantei e andei até próximo da escada para o escritório.
-Você olhou lá em cima? – perguntei.
-Não.
-Onde você procurou então? – tentei não me zangar com tanta incompetência. – Espere ai. – completei.
   Entrei sorrateiramente no escritório, havia uma mancha de sangue logo a minha frente, caminhei até a mesa onde haviam algumas embalagens abertas, um colchão esticado ao lado da porta do banheiro e lá dentro uma garota chorava com sua perna mutilada.
-Quem é você? – perguntei.
-A única sobrevivente deste diabo de cidade.
-O que aconteceu com sua perna?
-Eu estava caminhando no centro quando aquela tempestade aconteceu, um carro voou contra meu corpo e assim me arremessou contra a parede de casa, ele caiu sobre a minha perna e depois se virou de cabeça pra baixo.
-Você não pode continuar com esta dor, seu corpo pode sofrer hemorragia.
-Qual é cara, eu sei o que está acontecendo, já procurei por ajuda, mas não restou ninguém, não sei como sobrevivi a isto e para ser sincera queria estar morta, não que isto não vá acontecer logo mesmo.
-Precisamos amputar esta perna, é a única solução.
-Não! Eu não quero.
-Você precisa. Você vai precisar estar bem quando sairmos daqui.
-Sair? Pra onde eu iria? Estão todos mortos, minha família, meus amigos e todos aqueles que eu conhecia.
-Se eu pensasse assim nunca teria lhe encontrado, não teria encontrado Franklin e não iria encontrar mais pessoas além de nossas fronteiras.
-Franklin?
-Sim, ele está lá embaixo, o encontrei a oito dias no Tennessee.
-Por que está fazendo tudo isso?
-Não quero morrer sozinho, ainda há muito para fazermos, reconstruirmos. Qual seu nome?
-Geórgia.
-Muito prazer Geórgia, meu nome é Christopher. – estiquei minha mão até ela para que saísse logo daquele banheiro imundo.
-Vamos descer, está bem?
-Ok.
-Precisa de ajuda?
-Não. – ela pegou atrás da porta um pedaço de madeira que usava de bengala.
   Geórgia tinha alguns centímetros a menos que eu, provavelmente um metro e setenta. Usava uma calça jeans forrada de sangue e uma blusa amarelada florida, seus olhos castanhos eram misteriosos assim como seu jeito de prender os cabelos loiros.
Johan Henryque
Enviado por Johan Henryque em 23/02/2016
Reeditado em 23/02/2016
Código do texto: T5552635
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