A invasão

Finalmente o povo da Terra teve certeza de algo sobre o Universo: não estamos sós. Afinal não era um desperdício de espaço, algo que as pessoas mais espirituosas alegavam. Outras formas de vida existem e isso é mais do que uma certeza científica, como os quarks e bosóns. A pessoa comum pode vê-los, não só através de duvidosas fotos borradas. Algumas teorias e conspirações se acabaram no dia em que a nave deles foi detectada próximo ao nosso planeta.

Inicialmente foi um pouco complicado, pois significava para algumas pessoas que o que elas acreditava não era uma verdade. Roswell era realmente um balão atmosférico. Em Varginha, o que as pessoas viram como um extraterrestre era um homem com problemas físicos e mentais. Área 51? Chata e maçante. Bom, é uma base secreta, mas nunca existiram Discos Voadores desmontados lá dentro. Nunca antes o mote “Eu quero acreditar” foi tão irônico. Este foi o choque inicial. Depois tivemos problemas com os religiosos. Os Cristãos ficaram um pouco confusos quando o Papa disse que isso não era incompatível para a fé católica. Jesus servia para todos, humano ou marciano verde. Já pentecostais não gostaram muito da ideia, pois eram demônios criados para tentar a humanidade. O Islã aceitou pacificamente, por incrível que pareça, apesar de alguns acharem que Extraterrestres são infiéis. Os Budistas não deram muita atenção, isso não era nenhuma novidade.

Então as Nações Unidas fez um plano para receber os visitantes. Obviamente os norte-americanos queriam ser os anfitriões, o que gerou uma certa disputa interna. A China achava um absurdo, a Europa dizia que era o berço da civilização, Putin fez suas costumeiras ameaças e a Coréia do Norte disse que tinha uma arma nuclear, caso os Visitantes não cooperassem. Por fim, resolveram por um local neutro, no caso, a Bolívia. Foi construído um aeroporto espacial nos Andes. O local tinha uma altitude consideráve,l além de ser praticamente despovoado. O acontecimento era histórico, a balbúrdia já estava acontecendo, imagina uma chegada de tais Visitantes em uma cidade grande. E depois de engolir certos orgulhos, uma missão internacional foi formada. A nave demoraria um pouco para chegar, estava ainda a passar por Marte. Daria tempo para se construir, pelos cálculos feitos a partir da velocidade atual da espaçonave.

Porém, com todo o entusiasmo na Terra, os ilustres visitantes não eram um povo tão cortês assim. Esqueça tudo sobre reptilianos de David Icke, Grays, Zeta-Reticuli e Ashtar Sheran. Não passam de bobagens para se vender livros, documentários e estátuas de ETs. Estamos falando de realidade. O seu planeta nunca foi detectado aqui na Terra, por simples falta de interesse em um certo local do Universo. Pois bem, esses aliens chamam seu planeta/lua natal de Arrth, de acordo com o alfabeto terráqueo. São uma raça guerreira, tal como os espartanos, porém eles tem um pequeno defeito de achar que são espertos demais. Não que eles sejam burros ou que lhes falte capacidade científica, muito pelo contrário. São engenheiros magníficos, resultado de um conhecimento que só uma raça mais antiga possuiria. Mas diferente de livros e filmes, não são iluminados e nem vilões. Apenas querem viver e conquistar. Só que são tão confiantes em sua tecnologia e raça que não pensam direito em certos detalhes. Não possuem um apreço por detalhe, o que acaba diminuindo a qualidade dos produtos e tecnologia Arrtheniana. É comum que produtos de suas fábricas durem poucos meses, raramente tem alta durabilidade. O que os levou a um pequeno erro de cálculo.

Diferente do que se imagina, suas intenções não são muito pacíficas. Eles gostam da batalha e dominar outros povos. Porém, até hoje só conseguiram escravizar os habitantes do planeta P’Thang. Que é populado por animais de grande porte, como os nossos extintos dinossauros. O que significa que não possuíam uma inteligência refinada, eram movidos pelo instinto. Os militares Arrthenianos tentaram subjulgar estes animais, confiando em tecnologia. Muitos morreram nessa conquista, que demorou em tempo terrestre, 20 anos. Após matar e destruir os habitantes do planeta, conseguiram o que queriam, o que gerou festividades no planeta natal. Estavam se expandindo para o universo, apesar de tudo. Mas que levaram uma surra de um Tetrassauro P’thangiano, levaram. E foi bem feia.

Então detectaram a Terra. Azulzinha, com muita floresta. Observaram que havia vida inteligente, homem e mulheres em cidades. Eles viram as cidades européias, no ano de 1316. Perceberam que não era um povo adiantado tecnologicamente, pela construção das cidades. Não conseguiam ver detalhes, mas tiraram a conclusão de que não tinham nada movido a motores. Nenhuma mecânica avançada poderia ser observada. Haviam grandes casas de pedra e em alguns lugares, nem isso. Alguns povos moravam no meio do mato. O que levou ao equivalente de gargalhadas e muitas chacotas. Seria mais fácil dominar esse povo. Não haviam Tetrassauros e muito menos Galhórfidos, com suas mãos cheias de lâminas cortantes. Ia ser fácil.

E começaram a organizar mais uma árdua expedição. Porém, na tradição Arrtheniana de não observar detalhes e apenas construir, nunca descobriram que a luz chega em um ponto com atraso, por causa da distância. Para eles a luz era instântanea, um fato científico amplamente aceito. É por esse método de detecção que hoje sabemos como o universo era a bilhões de anos, pois observamos luz muito antiga. Eles detectaram uma faixa de luz que correspondia a 1316 na Terra. Ou seja, enxergaram os cavaleiros na Baixa Idade Média, mas na verdade era 1976 de acordo com calendário terráqueo. Nunca tiveram um Einstein para explicar a relatividade. O que gerou um certo pânico depois.

Porém sabiam construir motores. Realmente eram bons nisso. Utilizavam uma tecnologia muito superior, baseada na captação de energia gerada pelos Ventos Solares. Tinham a capacidade de chegar na Terra em torno de 40 anos, saindo de seu planeta, que está aproximadamente a 700 anos-luz. Chegariam em 2016, porém não tinha ideia disso. Um detalhe: as bestas de P’Thang foram tão difíceis de conquistar pois os Arrthenianos nunca criaram boas armas de longo alcance. Utilizavam um sabre tecnológico, mas que requeria chegar perto de qualquer um para utilizar. Seus projéteis tendiam a emperrar as armas ou simplesmente explodir na mão do atirador. E a Terra, em 2016, estava muito mais adiantada, belicamente falando. E assim, sem dar muita atenção seguiram em diante.

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Já estavam no fim da Missão, e a Terra estava cada vez mais perto. Era muito mais bonita daquela distância, mas havia algo de diferente. Nas imagens captadas mais de 30 anos atrás, havia muito mais verde. Mas olhando atentamente, não parecia tão verde assim. A tecnologia de refinamento de imagem era tão boa que os permitiam a ver alguns detalhes, chegando ao ponto de ver claramente pessoas utilizando tecnologia mais avançada do que eles esperavam. Havia um certo ar de confusão na nave.

O Almirante, do alto de seus 1,40m era o maior Arrtheniano da nave. Em média eles tinham 1,30m. Eram baixos, porém musculosos em seus braços e ombros. Como nós eram humanoides, um par de braços, um par de pernas e cabeça em cima do tronco. E pernas comicamente finas. O Almirante olhava seus subalternos de cima para baixo, julgando-os. Ele mesmo não sabia o que fazer, mas não podia transparecer. Foram anos e anos nesse mesmo ambiente, com vários soldados e sargentos e capitães. Ele mal esperava para sair da nave e andar em algo que não fosse artificial. Porém, estava feliz em estar lá, apesar de tudo. Seu nome estaria nos livros de história. Sua família ia ser famosa como nenhuma outra foi. Nem quando eles povoaram aquele outro planeta. Mas esse aqui, ah, é diferente. São seres inteligentes, um pouco burros, mas inteligentes. Queria ser o primeiro a pisar no Planeta Azul. Iria ser um Deus para os habitantes, ser seu Imperador, ser tudo para eles. Que glória estava destinada a ele. Em meio de seus devaneios, veio o Tenente.

“Senhor, estamos praticamente no Planeta Azul. Em 1 mês entraremos em sua órbita, Senhor.”

“Ótimo Tenente! Vamos nos preparar para mais uma vitória.”

“Senhor, existe um problema”, olhou para baixo e suspirou. “Tivemos mais imagens. As casas de pedra ainda estão lá, mas parecem muito velhas. Quero dizer extremamente velhas. E estão no meio de uma cidade. Existem estruturas gigantes nessa cidade, maiores do que estas casas de Pedra que conhecíamos, Senhor. Na verdade, encontramos uma estrutura maior do que temos em nosso planeta. Senhor.”

O Almirante coçou seu queixo pontiagudo, com um de seus 3 dedos. Pensou um pouco. Realmente não sabia o que falar. “Vocês realmente têm certeza? Não quero saber de erros. Vocês sabem muito bem o que penso sobre isso.”. E deu um soco na mesa, o que gerou uma leve dor na mão. Ele era bom em não transparecer sentimentos reais. O Tenente ficou na defensiva, “Senhor, temos certeza disso. Toda que podemos ter. Pelo nome da Imperatriz, venha no Observatório.”

Seguiram então para o Observatório. Lá dentro estavam os cientistas. Todos baixinhos, pensou o Almirante. Riu para si mesmo. “Me monstrem essas imagens. Agora.”. E deu outro soco na mesa. Apesar de doer, era bom para criar respeito. Porém não sabia que os soldados rasos o chamavam de Almirante Soquinho. Ele olhou para a tela e lá estavam várias imagens do Planeta Azul, altamente detalhadas. As Casas de Pedra pareciam muito velhas. Tinha uma cidade perto, nada igual das imagens originais, que estavam ao lado para comparação. Foram exibidos outros locais do Planeta Azul, que estava cheio de gente e cidades enormes. Lembrava um pouco Arrth, naquela bagunça que eram as cidades. Os habitantes eram visivelmente mais altos, até os que eram mais baixos. Ele franziu a testa enquanto olhava para as imagens.

“Somos quantos nessa Frota?”

“200 mil na ativa, 800 mil hibernando. A outra Frota é maior, com o total de 3 milhões. Somos 4 milhões no total, Senhor.”

Ele pensou por um momento e coçou novamente o queixo, o que era um ato genuíno. “Somos 8 milhões. Um homem nosso possui ferocidade e destreza, de modo que vale por dois. Temos armas, temos a tecnologia. Finalmente conseguimos estabilizar nossos projéteis. Agora conseguimos dar um tiro por vez e sem explodir a arma.”, falou sorrindo. Os cientistas conversaram entre si, felizes com o progresso bélico. Ia ser um passeio, concordaram todos. Menos o Tenente, que aceitou a ideia apenas por ser um mero soldado.

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Novamente a arma do Tenente travou, no meio do campo de batalha. Os habitantes desse planeta possuiam armas que nunca travavam. E cuspiam balas, como se fosse o canto de um Artrópito. Eles não conseguiam chegar perto o bastante para usar os sabres, o que virou uma peça decorativa inútil no cinto. E era verdade, a arma não explodia mais, o que diminuiu muito as baixas. Porém travava o tempo todo. E sempre que ele dava um tiro, tinha que recarregar. Raramente um Nativo era morto, e quando era morto, acontecia uma festa entre os Arrthenianos. O Tenente olhava ao redor, todos seus soldados mortos, com várias balas no corpo. Ele fez o equivalente terráqueo de chorar. Se encolheu no canto e chorou como se fosse um pequeno Arr.

Aquilo era um erro desde do início. O Almirante tentou atacar de surpresa o planeta, achando que iria conseguir assustar os Nativos. Mas o atacar envolvia descer todos e usar os sabres. A nave maior pairou em uma estrutura extremamente iluminada em cima de montanhas muito altas, que podia ser vista bem do alto. Todos vestiam verde, o que era bem estranho para um Arrtheniano. A nave desceu lentamente, soprando poeira para todos os lados, e uma das portas se abriu. Uma Comitiva e alguns soldados desceram, indo em direção aos Nativos. Os Nativos pareciam cordiais e um deles fez um gesto de dar a mão. Esse primeiro homem perdeu a mão, após um golpe de sabre Arrtheniano. Todos gargalharam. E o ataque começou. De início conseguiram exterminar alguns Nativos, pelo fator surpresa. E de repente as balas começaram a zunir em direção à Comitiva. E do nada vieram explosões. Muitas explosões. Os Athenianos nunca viram aquilo, naquela escala. Tentaram usar bombas há muitos anos, mas desistiram, pois era difícil estabiliza-la. Muita gente morreu as utilizando ou simplesmente fabricando. Mas essas bombas terráqueas eram boas, muito boas.

E quando os Arrthenianos acharam que tinham visto tudo, veio uma uma bomba maior ainda. Gigante. Enorme. A usaram na espaçonave de descida, destruindo-a. Nem todos os soldados tinham descido ainda, morreram sem sequer pisar na Terra e levantar seus sabres. Ela caiu no chão como se fosse uma bola de fogo, jogando destroços para todos os lados. Quarenta mil soldados morreram assim. O Tenente deu sorte de descer junto com a comitiva. Ele e mal 150 ou 200 soldados.

Desse dia catastrófico para hoje já se passaram dois dias. O Tenente perdeu contato com as outras espaçonaves de descida. Algumas foram destruídas, tentando pousar. Porém, não paravam de tentar descer. “Eu não compreendo”, pensou, “muito já se perdeu, para que insistir?”

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Estou em um lugar escuro. Quero dizer, é iluminado, mas não o bastante. Eles me pegaram chorando. Eu estava apavorado encolhido. Os humanos não me olharam com raiva ou com chacota, mas com pena. Tanto que me trouxeram pra cá e me deram alimento. Não é bem o que gosto, mas estou com fome. Eles pegaram minha mochila, que tinha algumas latas de comida. Conseguiram imitar mais ou menos a ração do meu Exército. Imagino que acham que a comida terrestre pode ser venenosa para mim. Me olham extremamente curiosos e tentam comunicação. Eu já consigo entender algumas coisas, mas não tudo. Obrigado, olá, boa tarde, boa noite. Eles me olham meio que sorrindo, como se achassem graça da minha tentativa de falar terrestrês. Não sei o porque. Não consigo saber o que está acontecendo do lado de fora e eu não tenho nenhuma comunicação com meu Exército. Não sei o que fazer.

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Já se passaram dois anos desde minha chegada desastrosa. Falo bem melhor uma das línguas da Terra, que é o inglês. Descobri porque acham graça quando falo. De acordo com os terrestres, tenho uma voz de adolescente, que fica grave e fina ao mesmo tempo. E pensar que no meu planeta minha voz era extremamente máscula. Eu gosto da Terra. O clima é melhor do que do meu planeta. A tecnologia local é melhor em certos aspectos, como os computadores. Eu fiquei impressionado com a Internet. Mas eles ainda não conseguiram criar um modo de cortar o Universo como os Arrthenianos. E pizza não me faz mal.

Meu povo nunca mais veio para cá, eu fiquei preso. Eu e mais outros soldados sobreviventes. Todos nós trabalhamos para o Exército terrestre, continuamos soldados. Eles tentam tirar informações de nós, mas desistiram no momento que perceberam que não somos tão importantes assim. É claro que contamos histórias de nosso planeta e tecnologia, um pouco das nossa fracas táticas militares. Somos monitorados e sempre estamos acompanhados de algum humano, pois nossa presença chama muito a atenção. Ainda estou me adaptando a este local e digo que estou gostando. Tenho saudades de meu planeta, família e comida, infelizmente creio que nunca sairei daqui. Os humanos me disseram que as espaçonaves que sobraram deram meia volta. Não que tenham sobrado muitas. Eu soube que andam as desmontando, para descobrir seus segredos. Temo em pensar que se os terráqueos descubram meu Planeta e os escravos seremos nós. Agora meu nome é Jack e eu sou Tenente do Exército dos Estados Unidos da América.

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