Sem Rumo no Espaço

Dmitry Alekseev conferiu pela última vez a lista de procedimentos de segurança para atividades extraveiculares. Sabia que tinha que ser cauteloso, pois fora da nave, qualquer descuido poderia ser fatal. Verificou se todos os indicadores luminosos dentro do capacete do traje espacial estavam verdes, e entrou na câmara de descompressão. Fechada a escotilha interna, aguardou até que uma lâmpada vermelha e um sinal sonoro em seus auriculares lhe indicassem que o cubículo havia sido despressurizado. Só então, moveu uma alavanca e abriu a escotilha externa, movendo-se a passos cautelosos na ausência de gravidade. Embora estivesse usando botas com solado magnético que aderiam ao casco, um cabo de segurança o prendia à nave.

No lado de fora, a visão direta do hiperespaço era perturbadora. Em vez do costumeiro espaço negro pontilhado de estrelas, parecia estar voando no interior de um denso nevoeiro luminoso. Em todas as direções até onde sua vista alcançava, grandes massas disformes em tons de cinza e nácar revoluteavam, inchavam e se fundiam num balé tempestuoso, entrecortado aqui e ali por clarões azuis e púrpuras. Respirou fundo, e se pôs a caminhar em passos decididos rumo à seção intermediária da nave, onde estava localizado o transponder.

Quem colocara o dispositivo naquele local, não quisera facilitar as coisas, fosse para manutenção ou sabotagem. Foi necessário desativar dois circuitos principais, diretamente ligados ao sistema de navegação (o que significava dizer que a nave não poderia manobrar enquanto não fossem religados), antes de chegar ao transponder propriamente dito. Desligar o mesmo exigiu ainda a entrada de uma senha criptografada tão extensa quanto a exigida para uma autodestruição programada da nave. Finalmente, Dmitry Alekseev viu apagarem-se as duas lâmpadas-piloto que indicavam que o transponder estava operacional. O trabalho estava feito - e ele teria que desfazê-lo tão logo recebesse o sinal verde do Posto Avançado Novaya Zemlya 4; enquanto isso não ocorresse, ficaria à deriva no hiperespaço. "Burocratas", amaldiçoou mentalmente, enquanto caminhava de volta ao interior da nave.

Já dentro da câmara de descompressão, um vago pressentimento fez com que retirasse somente o capacete do traje espacial e desenganchasse o cabo de segurança. Com o capacete debaixo do braço, dirigiu-se à cabine de voo e após sentar-se na poltrona de pilotagem, transmitiu para o Posto Avançado o relatório do autoteste do transponder (negativo para defeitos) e do seu procedimento extraveicular, que desativara temporariamente o equipamento. Pelo menos mais duas horas transcorreriam até que recebesse alguma resposta, e nesse meio tempo, não havia muito o que pudesse fazer. Após preparar uma refeição ligeira no recompositor molecular, repassava as últimas informações de que dispunha sobre o planeta habitado para o qual se dirigia, quando uma campainha estridente soou no interior da nave. Era algo que ele só ouvira uma vez, durante o treinamento no modelo Ryba-Mech III.

Alguma coisa estava em curso de colisão com o "Mensageiro das Estrelas".

[14-03-2016]