O fruto da esperança

Cansado de andar, Gotjar, o astronauta sobrevivente, descansa à sombra de uma estranha árvore. Sua nave caiu em um planeta desértico e, exausto, adormece. Seus sonhos são mesclados de lembranças, daqueles dias que vivia no planeta Terra, antes de viajar pelo espaço com mais três companheiros em busca de metais extraterrenos. Puro fracasso admite e agora se entrega ao adormecer resignado, ciente que talvez não volte a abrir os olhos.

Tudo que ele queria era voltar para casa. Porque aceitou essa desastrosa missão? Neste momento poderia estar com sua amada, Celle. Seus projetos inacabados o esperavam. Seu legado como artista, obras musicais inéditas, estão trancafiados para sempre em seu computador pessoal cuja senha só ele sabia.

A árvore acolhe o homem adormecido, parece querer abraça-lo. O sono é profundo. Sem água, sem comida, sem chances, seria melhor não acordar jamais. A árvore observa o homem.

Existem outras árvores naquele estranho mundo , todas estranhamente idênticas. O vento uivante parece fazer com que o balançar de suas folhas possibilite uma comunicação entre as mesmas.

A árvore toca o homem, o paralisa, o envolve, o prepara, ...., o absorve!

Vejam que estranho cenário. Um planeta de areia roxa, sem fauna, com espessa neblina, pântanos intercalados por clareiras com estranha vegetação. Uma nave destruída. Seu último sobrevivente acabou de sucumbir ao destino.

50 órbitas se passaram. Mudaremos o cenário. Planeta Terra. A calmaria da fazenda dos Sturdsons só é interrompida pela pequena bola que risca o céu, percorre um longo arco antes de cair, abrindo um buraco de 40 centímetros de diâmetro.

- É uma estranha semente - disse a mulher.

- Jogue isso fora, Adella! Coisas orgânicas vindas do espaço não podem ser coisa boa - Livic Sturdson nunca escondeu seu medo pelo desconhecido.

A semente foi largada no bosque de onde caiu. Após o casal retornar para suas atividades normais, a semente recolheu-se ao ventre do solo.

Quatro dias depois...

- Essa árvore não estava aqui, Adella e é muito esquisita.

- Olhe, meu velho, acima! Aquele estranho fruto...

Era verde, oval, gosmento e com uma membrana semi-transparente. Parecia ter algo dentro.

Súbito, o fruto alienígena cai. O casal foge. A membrana se rompe. Um bebê de aspecto comum se liberta. Deitado, seus olhos observam tudo a sua volta. Seus lábios se abrem, seus pulmões expiram, suas cordas vocais vibram, seus lábios articulam-se, mas não tem ninguém para ouvir...

- Celle...

Teixeira de Fortal
Enviado por Teixeira de Fortal em 17/04/2016
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