Honra e Sacrifício

Havia tomado a sua decisão, por isso ativou o alarme de evacuação. O seu imediato percebeu suas intenções e tentou tirá-lo a força da cadeira do piloto, mas um painel explodiu perto dele o fazendo perder a consciência. O segundo oficial o segurou por um braço, fitando por um momento o seu capitão. Conhecia bem aquele homem para saber que nada o tiraria de onde estava quando estava determinado. Foi por isso que, cheio de orgulho de ter um capitão como aquele, o oficial fez continência e foi embora da ponte, carregando o superior ferido.

O nome dela era Longinus e, na teoria, poderia entrar dentro de uma frota inimiga rapidamente e sair ilesa. E agora iria colocar isso a prova. Quando o computador avisou que todos os botes salva vidas haviam saído, iniciou o seu plano. Primeiro ligou os geradores na sobrecarga, depois ligou os campos de força na potencia máxima e por último ativou os motores, exigindo tudo deles. Com isso a nave voava loucamente no meio dos inimigos. A velocidade da nave era tanta que os tiros quase não o acertavam. Sua mente então focou em duas palavras.

Honra e Sacrifício.

Os seres humanos haviam regredido muito. Políticos e comandantes de alta patente eram corruptos. Homens que nada faziam para melhorar os planetas habitados pela humanidade. Apenas abusavam dos seus recursos em busca de lucro. Honra foi um sentimento que ficou deixado de lado. Seu pai desde criança lhe ensina o profundo significado dessa palavra, um esquecido por muitos. “Sem honra um homem não pode continuar. Não honrar o juramento que fez era um erro grave. Todos deveriam segui-lo mesmo que isso os levem para o tumulo.” Era isso que ele sempre lhe dizia, e era isso que pretendia fazer agora. O seu juramento o ordenava morrer pelo povo que protegia, o mesmo que todos da Frota fazem assim que colocam a farda pela primeira vez. Muitos o considerariam louco por fazer esse tipo de coisa, mas via que não tinha outra escolha. Até o reforço chegar estariam todos mortos, isso sem falar que a meio caminho da Terra, lugar onde sua esposa e o seu futuro filho estavam. Precisavam vencer ou pelo menos retarda-los, mesmo que isso significa-se a sua morte. Derrota estava fora de questão. Se perdessem ali, as chances do planeta natal da humanidade deixar de existir eram grandes.

Muitos ali naquela frota se perguntavam o que deviam proteger. O povo estava se degenerando aos poucos. As pessoas eram egoístas e mesquinhas ao extremo. Pessoas morriam de fome por causa da ganancia de outras. Alguns diziam que uma humanidade assim merecia ser mesmo destruída ou subjugada. O capitão não ficava pensando nesse tipo de coisa. Acreditava que nem sempre seria assim. Tinha fé que a humanidade se tornaria melhor, ajudando tanto os seus semelhantes como também outras raças da galáxia, se tornando aquilo que estava destinada a ser. Era por isso que acreditava que o seu sacrifício não seria em vão. De repente o comunicador da nave ligou. Alguém o estava chamando. Reconhecia aquela voz de longe. Era a voz do almirante.

- Você ficou louco? O que pensa que está fazendo!? Deixe de tolices e volte! Morto você não terá nenhuma serventia.

- Talvez tenha. Se minha morte puder ajudar vocês, então não será em vão.

- Espere! Vamos pensar em outra solução.

- O senhor sabe que não tem. Eu farei aquilo que é necessário para proteger o meu mundo e as pessoas que vivem nele. Esse é o meu dever como um membro da Frota Espacial. Além disso, com a destruição da nave capitania do inimigo, eles ficaram confusos o suficiente para o senhor destroça-los. Sabemos como ficam perdidos os insetos sem orientação superior. Diga a minha esposa e ao meu filho que ainda vai nascer que eu os amo muito. Que faço isso pensando no futuro deles. O senhor pode fazer isso, pai?

O almirante se esforçou para não chorar. O seu único filho estava indo na direção da morte certa. Era claro que dentro de em breve estaria morto. E faria isso para salvar a todos. O almirante não sabia se chorava de tristeza ou se sorria de orgulho. Havia criado bem o seu filho. Via nele um oficial honrado da Frota, um que seria imortalizado pela sua coragem. Os oficias da ponde da El Cid não olhavam sequer para o lado, além de estarem focados nos seus postos, sabiam que o almirante estava em uma situação difícil.

- Eu direi pessoalmente para eles, meu filho.

- Obrigado, pai. E Adeus.

Ele desligou o comunicador. Não havia mais nada para ser dito. A nave viajou desviando de naves inimigas de todos os tipos e tamanhos até finalmente chegar ao destino. Era a enorme nave capitania dos tsall. Uma nave na forma que lembrava um grande inseto de metal. Ela era duas vezes maior que a El Cid, talvez até mais. Por sorte deviam ter pensando que a sua pequena nave não conseguira passar pelas inúmeras naves, por isso não ligaram os campos de força. Estava na hora. Concentrou toda a energia restante no campo de força da proa e nos motores. Os insetos confiaram em suas armas, por isso perceberam tarde demais quais eram as intenções do capitão. Longinus entrou fundo na nave inimiga, destruindo tudo o que estava na sua frente. Não demorou muito para a nave finalmente parar no que parecia ser algum tipo de hangar, com pequenas embarcações de vários tipos e tamanhos. Foi bem a tempo, pois o reator havia chegado ao limite da sobrecarga. O capitão então fechou os olhos e esperou o inevitável acontecer. Ele então começou a pensar em como queria ter visto o seu filho nascer. “Pelo menos assim vou lhe dar um futuro”, pensou ele. Sentiu tudo ficar branco ao seu redor e um intenso calor o cobrir. Estava tudo acabado.

De longe o almirante só soube o que aconteceu pelos sensores. Pelo que viu a nave capitania dos tsall fora destruída. Com isso os insetos começaram a ficar confusos. Graças a isso pode criar rapidamente um plano de ataque. El Cid avançou com as poucas naves que tinha, destruindo as naves inimigas confusas. Dessa forma conseguiram aquilo que achavam ser impossível: vencer!

Rodrigo Magalhães
Enviado por Rodrigo Magalhães em 29/08/2016
Código do texto: T5743906
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