O Sobrevivente

Ele caminhava pelo grande deserto. O lugar antes fora uma estrada para carros e pessoas passagem, agora era um local seco e que cheirava a morte. Era assim em praticamente todos os lugares planeta. Seu corpo estava todo coberto por panos sujos. Essa era a sua única proteção contra os mortíferos raios de sol. A atmosfera que filtrava os raios já não era mais a mesma. Na sua mochila havia comida concentrada em uma boa quantidade, porém não havia muito daquilo que era mais importante. A coisa que sem não iria sobreviver muito tempo.

Água.

Seu cantil estava quase vazio. Sua boca estava ressecada e seus lábios quebrados. Fazia muito tempo ele não bebia o liquido precioso. Fazia isso para poupar. Sem comida poderia viver bastante, mas sem água não. Bebia apenas um gole ou dois por dia. Era o suficiente para sobreviver. Colocou a palma da mão sobre os olhos buscando enxergar mais longe. Sua única esperança era encontrar uma cidade. Elas eram os únicos lugares na Terra onde se poderia sentir-se seguro. Pensar muito em água lhe fazia relembrar as histórias que ouviu quando criança. Elas diziam que, no passado, a Terra era conhecida como “Planeta Azul”. Diziam que a maior parte do planeta era coberta por água. Que o precioso liquida existia em praticamente todos os lugares do planeta. O que mais impressionava nessa historia era que as pessoas se banhavam com ele. Relembrar essa parte da lenda o fazia rir. Não acreditava que algum idiota pudesse desperdiçar uma coisa tão importante.

O andarilho riu ao avistar aquilo que queria. Depois de tantos anos viajando, conseguia diferenciar uma miragem de uma coisa real. A alguns quilômetros a frente estava uma cidade. Podia se ver o que era por causa da construção abobada de metal. Lá dentro o ambiente era climatizado artificialmente. Os humanos de lá estavam tão dependentes disso que não conseguiam mais viver em ambiente aberto. A simples idéia de ficar em um lugar totalmente aberto lhes dava náuseas. E era por isso que ele preferia viver no deserto. Isso e também por um outro motivo. Existiam leis dentro das cidades. Estava certo que, sem elas, tudo seria um caos. Ele sabia disso, mas mesmo assim não gostava delas. Preferia a liberdade que apenas as areias lhe davam. Mesmo que essa liberdade tivesse os seus riscos.

Demorou cerca de três horas para chegar ao seu destino. A abobada media cerca de dez quilômetros de diâmetro. Na precisou caminhar muito para encontrar uma porta. Esta media cinco metro de altura por três de diâmetro. Ao lado desta havia um pequeno painel que era ligado diretamente ao centro de controle. Ele colocou a palma da sua mão em cima de uma placa de vidro ao lado do painel. Esta foi lida pelo sistema que o reconheceu no mesmo instante. Ele sabia o porquê isso era necessário. Existiam muitos bandidos no deserto. Pessoas que fariam de tudo para entrar em uma cidade e pilhar. Como não conseguiam decidiam roubar água de andarilhos como ele, ou de vilas subterrâneas. Estas eram muito raras e extremamente difíceis de encontrar. Elas eram formadas por poucas famílias que viviam as margens dos lagos subterrâneos. Estes eram diferentes dos oásis porque, além de serem muito pequenos, a água não era de boa qualidade. Os últimos goles que tinha dentro de seu cantil era de um desses lagos. O gosto era horrível, mas servia.

Um apito soou e uma voz humana surgiu pelo comunicador.

- O que você quer aqui?- disse a voz secamente.

- Eu sou um andarilho e busco apenas água, descanso e se possível um bom banho.

O comunicador ficou calado por um momento. De repente a porta se abriu entrando na parede ao lado. Ele respirou fundo e entrou. Seu corpo logo pode sentir a enorme diferença de temperatura. Enquanto que do lado de fora fazia 57 graus, ali na cidade fazia 25. Tirou os panos que cobriam o seu rosto mostrando os seus traços orientais. Sua cabeça estava totalmente raspada e toda sua pele ressecada. Isso mostrava o quanto seu corpo precisava ser hidratado. Em uma época remota teriam feito de tudo para que fosse bem tratado, mas agora não era bem assim, os tempos eram outros.

O andarilho olhou para os dois homens que o fitavam. Cada um trazia uma pistola paralisante em punho. Isso mostrava o quanto ele era querido dentro da cidade. Eles usavam um uniforme azul claro. No lado direito do peito havia o desenho de uma abobada prateada. Um deles era um negro alto com uma cicatriz do lado direito do rosto. O outro era um homem baixo e de cabelo loiro.

- Qual é o nome do senhor?- perguntou o homem loiro. Ele sabia qual era o nome do andarilho. Havia feito a pergunta apenas por cortesia.

- Eu sou Sushiriro Kazuki. E eu não sou um bandido do deserto. Sou apenas um andarilho, conforme os seus computadores devem ter dito. Essa não é a primeira vez que entro em uma cidade.

Dentre as cidades existia comunicação. Havia alguns antigos satélites que ainda transmitiam informações. Kazuki sabia disso, pois era o que haviam lhe dito quando se registrou pela primeira vez. Todas as cidades o reconheceriam como um andarilho, lhe abrindo suas portas e lhe auxiliando. Receber esse titulo era uma coisa que muitos queriam, mas poucos conseguiam. Ele se lembra do que teve que passar para conseguir o seu. Uma lembrança nada agradável.

O homem loiro parou de falar e colocou a mão no ouvido. Kazuki sabia que ele estava recebendo uma mensagem do centro de comunicação. Era lá que eles tinham os nomes de todos os procurados, foragidos e dos andarilhos. Logo a seguir ele se virou para o visitante.

- Peço desculpas, mas essas medidas de segurança são necessárias. Ultimamente os ataques de bandidos tem sido cada vez mais freqüente em todas as cidades. Há pouco tempo tivemos um ataque que nos deixou pesadas baixas.

- Entendo perfeitamente. Desculpas não são necessárias.

- Pessoas sensatas como o senhor estão cada vez mais difíceis.- disse o homem sorrindo e guardando a arma. O homem negro ao seu lado fez a mesma coisa.- Eu sou o tenente Raiven e este e o sargento T’chato. Somos da equipe de recepção. Viemos ver o que o senhor tem para oferecer para a gente.

- Eu tenho isso.

Kazuki disse isso colocando calmamente uma das mãos dentro de uma bolsa de pano. De dentro dela tirou uma cabeça humana. Raiven olhou assustado para ele, já o sargento abriu um sorriso.

- Eu conheço o antigo dono dessa cabeça, senhor- disse T’chato.- Ele se chamava Cortez e era o líder de um bando de bandidos. Foi ele que me fez essa marca no meu rosto. Ele e os seus homens mataram muitos de nós. O senhor nos fez um favor, andarilho. Obrigado.

- De nada, agora preciso da minha recompensa. Meu corpo precisa de um pouco de água.

O tenente olhou para o sargento e este levou o andarilho para uma sala. Nela havia uma cama e um banheiro, mas o que mais chamou a atenção de Kazuki foi o copo de água. Ela estava em cima da mesa e não era muita coisa, mas para quem estava desesperado era mais do que o suficiente. Foi até esta e sorveu rapidamente todo o liquido. Pode sentir cada parte do seu corpo absorvendo cada gota.

- Acredito que isto será o suficiente para lhe satisfazer por enquanto.- disse T’chato.- Lhe trarei em breve o resto da sua recompensa.

Kazuki respondeu com um gesto com a cabeça. A porta se fechou e este tirou a roupa. Seu corpo estava coberto por cicatrizes de diferentes tipos. Havia lutado muito no mundo externo e se tornou um sobrevivente. Entrou no banheiro rumo a câmara de limpeza. Nela era passado um forte produto de limpeza na pele, onde limparia todas as impurezas do corpo. Enquanto estava no processo, Kazuki se lembrou de uma lenda que ouviu quando criança. Segundo ela uma grande barca saiu daquele mundo maldito levando os humanos escolhidos por Deus. Havia saído para evitar a extinção da humanidade. Ele não sabia dizer se esta lenda era verdadeira ou não, e também não se importava. O que importava era viver mais um dia.

Lembrava-se de como ficou imaginando, quando criança, o que aconteceria se essa barca volta-se. Ou se Deus escolhe-se a sal família para tira-los daquele inferno. Quando cresceu se esqueceu dessas coisas. Ficou pensando o que havia feito voltar a lembrar dessas coisas? Um tremor de Terra o fez voltar para a realidade. Nunca em sua vida havia sentido algo assim. Saiu correndo da câmara e colocou o mais rápido possível a sua roupa. Estava um pouco sujo com o produto de limpeza, mas não se importou com isso. Do lado de fora, viu o tenente e o seu sargento – que estava com um barril de plástico contendo água nas mãos – olhando assustados para uma tela. Kazuki parou ao lado deles e viu um grande objeto em forma de cilindro cravado no chão. Em todas as suas caminhadas nunca havia visto nada parecido. E não era para menos, pois esse cilindro não pertencia a aquele mundo, mas sim a outro. Era uma tecnologia muito antiga que outros humanos haviam dominado.

A Tecnologia dos pristians...

Rodrigo Magalhães
Enviado por Rodrigo Magalhães em 14/09/2016
Código do texto: T5761182
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