A PARTIDA

Em 5 de março...

...reuniram-se na base de lançamento; Elvis, irmão de Aldo e sua noiva, Linda Blanes; Leif Stefansson, e sua noiva Mara Santos, irmã de Aldo; o

Dr. Eric Wilkins, convalescente ainda do tiro que levou dos terroristas, acompanhado da sua noiva; a paraguaia Lina Antúnez e o resto do pessoal que ficaria para formar a tripulação da Antares, segunda nave que partiria para Marte.

O Dr. Valerión anunciara que estava tudo preparado e que só havia que esperar o 20 de março, melhor momento para o primeiro dos lançamentos, pois a distância entre a Terra e Marte, seria ideal.

Se algo não funcionasse, deveriam esperar dois anos.

–Tempo demais aturando à ditadura – disse Valerión – será agora ou nunca.

–Já temos tudo selecionado e carregado – disse Aldo – a nave está sendo colocada em posição vertical de lançamento, acoplada no contêiner de carga, em suma, não falta mais nada, Dr. Valerión.

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Finalmente, chegou o dia da partida.

–Quando vocês estiverem no espaço, eu já não estarei na Antártida – disse o Dr. Valerión, já vestido com seu traje espacial e ajudando Aldo a colocar o seu.

–Para onde vai?

–Para a minha empresa INDEVAL Motores, na Cara Oculta. Vou continuar o projeto baseado no motor de impulso alienígena. Planejo uma nave maior que inclusive será mais veloz e terá mais raio de ação do que as naves da classe Antílope.

–Já imaginou se encontrássemos os Alfas Cinzentos em Marte?

–É por isso que vocês vão bem armados, rapaz. Não sabemos o que vão encontrar por lá. A ditadura sabe muita coisa que nos oculta.

–Temos que agir quase no escuro com eles.

–Não te preocupes mais com isso. É preciso que encontres um local bom para nós, onde possamos reconstruir nosso estilo de vida e esquecer deste mundo satânico, materialista e perverso... Valha-me o pleonasmo!

–Fico preocupado com você, Valerión.

–Estarei bem, não te preocupes; eu já disse. Terei muito trabalho na Lua. Reconstruirei a base militar e enviar-te-ei fábricas desmontadas do que necessitamos. Mas para isso preciso que te estabeleças em Marte de maneira firme e segura. Não posso te ajudar quanto a isso. Dependerá unicamente de ti que tenhamos uma cabeça de ponte confiável lá. A Lua não tem recursos para uma longa frente de batalha. Marte pode tê-los em abundância e está bem longe. Eles não podem nos pegar lá. A Lua, como sabes, está ao alcance de mísseis. Não é segura.

–Sei. Deveremos ser implacáveis. Marte será nosso, custe o que custar.

–Sim – disse Valerión – Aliás, poderia dar-me uma carona até a Lua?

–Claro.

–Fixem o avião no contêiner! – disse o cientista, pelo telefone de pulso.

Uma hora depois, embarcaram no veículo que os levaria à plataforma.

Lá fora, o frio era insuportável. Embora a Antílope pudesse decolar para o espaço como um avião comum, desta vez decolaria verticalmente como um foguete, já que rebocaria o imenso contêiner, ajudada por dois foguetes auxiliares.

A nave, coberta de neve, estava encaixada pelo ventre no contêiner e aos lados deste, os dois motores foguete, como se fosse um antigo shuttle do século passado.

Os homens desceram do veículo e entraram no elevador, enquanto os preparativos eram terminados. O avião espacial de Valerión já tinha sido introduzido nos encaixes correspondentes do contêiner. Uma vez no topo, entraram pela escotilha superior de emergência, e se dirigiram à ponte com uma certa dificuldade, devido à posição vertical da nave.

–Doutor, vá para meu camarote e amarre-se na minha poltrona.

–Sim, capitão.

–Aldo para Torre! Como está a área?

–Limpa – respondeu Elvis, de plantão na torre – o pessoal está nos refúgios.

–O céu está limpo?

–Apenas nossos caças de patrulha. Há aviões inimigos na área, desesperados.

–Sem dúvida. Vamos dar o nosso show.

–Vão para as estrelas com a benção dos Deuses!

–Dos Deuses do Bem, Elvis. Marcos; dê o contato. Já vamos tarde.

Marcos girou a chave e levantou os interruptores dos tubos principais e dos auxiliares. Dez luzes vermelhas acenderam-se; passando para amarelo e para verde.

–Ligue o antigravitator, Marcos.

–Antigravitator ligado.

–Bem. Todos amarrados?

–Sim – responderam todos.

–Vamos decolar – disse Aldo apertando o botão de partida.

Os motores rugiram e a nave estremeceu-se. Os tubos de Vitrocerâmica ficaram incandescentes; ofuscantes quanto uma explosão atômica, vaporizando o gelo e a neve. Aldo empurrou os aceleradores e a nave elevou-se verticalmente, deixando uma esteira de fumaça, dando espetáculo para o inimigo das redondezas; mantido à raia pelos caças antárticos.

No visor da frente o azul transformou-se em preto, aparecendo estrelas.

Em seguida brilhou a luz verde no painel e Aldo largou os aceleradores. O silêncio da ponte, só interrompido pela respiração de todos nos fones dos capacetes, foi quebrado pela voz de Aldo:

–Mais uma vez estamos em nosso elemento.

–Graças aos Deuses – suspirou a sacerdotisa odínica.

Admiravam o espetáculo; quando a porta da ponte abriu-se de repente e entrou uma figura grotesca, flutuando como bolha de sabão. Valerión perdera o apoio das solas magnéticas e não conseguia voltar ao chão.

–Quê houve, Doutor? – disse Lúcio soltando uma risada.

–Me ajudem a descer, liguem a gravidade artificial, façam algo! Por Júpiter!

Lúcio estendeu uma mão ao doutor. Marcos ligou a gravitação artificial e Valerión foi caindo lentamente no solo.

–Não é que eu ache duro demais o beliche, minhas crianças, mas não me seduz a idéia de passar a viagem toda no ar.

Todos riram, enquanto Nico anunciava:

–Atmosfera e pressão normal, sem goteiras. Podem tirar os capacetes.

–Certo – disse Aldo – Nossa jornada se inicia, amigos.

–Audaciosamente indo onde nenhum homem jamais esteve – disse Valerión.

–Esperemos que sim – respondeu Aldo sem entender a citação.

*******.

Logo estavam em suas tarefas, Marcos estabeleceu o rumo à Lua, para deixar o Dr. Valerión. Este e Aldo reuniram-se no camarote do último.

–A Lua é ainda mais segura do que Antártida e trabalhará muito e tudo o mais. Mas o que me preocupa é deixá-lo aqui. Quando virá conosco?

–Quando estiver preparado. Quero acabar meus projetos, juntar gente que recusou a Marca e salvá-la deste mundo em dissolução. O ano que vêm a situação vai piorar.

–Mais do que já está?

–Segundo meus amigos do Esquadrão Shock; eles vão proclamar “deus” o nefasto Grande Irmão; esse maldito Anticristo, e vão fazê-lo adorar como tal. Isso quer dizer que haverá uma guerra cataclísmica, um Armagedom. Então será muito bom que vocês, minhas crianças, estejam longe disto.

–Mas doutor, e você?

–Estarei bem. Não voltarei mais para a Terra. Ficarei na Lua até poder seguir em frente, atrás de vocês. Talvez num ano ou dois. Quem sabe?

–Isso é tempo demais sem a sua presencia. Sentiremos sua falta. Após todos estes anos trabalhando juntos acho que até aprendemos a ler-nos o pensamento.

–Todos estes anos nos preparam para este momento. Vocês vão para Marte e eu para meu laboratório fortificado e secreto na Lua. Cada um para seu trabalho. Em pouco tempo irei atrás de vocês.

–Sentirei falta dos seus conselhos...

–Acho que já te dei todos. Eu te preparei para ser um Líder, agora já o és, deverás comandar a raça humana antártica na conquista do espaço vital para nosso povo, essa é a tua missão. Não sou mais necessário como líder. Devo poder trabalhar livre sem preocupar-me por vocês. Quando for reunir-me contigo já serás um líder reconhecido pelos que te seguirão. Então seguirei tuas determinações; tu serás o Líder e eu apenas um simples cientista, como deve ser. Deves cumprir o que se espera de ti, com tudo que se fez para preparar-te, educar-te, treinar-te; isso sem contar com a complicada eugenia do teu nascimento...

–Vamos entrar na órbita lunar – disse Marcos interrompendo a conversa.

–Não é necessário – disse o cientista – Abordarei meu avião, mantenham a velocidade para poupar combustível.

Valerión despediu-se de todos.

As moças derramaram algumas lágrimas que flutuaram pela ponte antes de serem sugadas pelos condutos de ventilação. Depois desceu pelo escotilhão para as dependências inferiores; acompanhado por Lúcio e Boris, até a escotilha que comunicava com o contêiner.

Ajudado pelos amigos, entrou no corredor vertical que comunicava com o mini-hangar do mesmo. Em seguida entrou no avião, o qual foi solto por Lúcio, com o que, começou a afastar-se da nave, enquanto Boris fechava a escotilha. Minutos depois, em direção à Lua, o pequeno avião se fez tão pequeno que quase não se enxergou mais à simples vista.

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–Vimos que passaram a Lua e vimos quando Valerión separava-se de vocês.

–Estabelecemos o rumo, Elvis; aceleramos para 120.000 km por hora, o que nos deixará em nosso destino em mais ou menos 30 dias segundo o computador.

–Certo. Nos comunicamos com vocês daqui a 24 horas. De acordo?

–Sim, de acordo. Aldo desliga.

Ao alcançar a velocidade de cruzeiro, os motores foram desligados para entrar em inércia. Depois de organizar-se, viram que na Antártida seria hora de jantar. Foi tudo disposto para comer num dos camarotes, onde foi desdobrada a mesa de parede.

Com a nave em piloto automático; tiveram o primeiro jantar da viagem, no qual conversaram, riram, choraram, e acertaram turnos de guarda.

Um rodízio de quatro horas que não afetaria a rotina e serviria para vigiar o painel, o computador, o radar e o rádio. Era uma vigilância simbólica, o computador era quem pilotava. Dispararia o alarme e ligaria o escudo em caso de problemas.

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Rumo ao desconhecido.

Na nave Antílope havia inovações que eram fantasia nos primeiros tempos da navegação espacial.

A gravitação artificial restituía o peso dos tripulantes em 50 por cento, suficiente para tomar banho de chuveiro sem que a água saísse flutuando, e se desliga quando não necessária para economizar energia; ao igual que as luzes dos corredores e camarotes, programadas para desligar-se de doze em doze horas.

A água, concentrada num líquido parecido com o mel; mantido estável no frio por meio de um velho procedimento russo do século passado; aproveita-se uma e outra vez, se necessário, num ciclo fechado.

Este procedimento chamava-se Poliágua.

No espaço, o problema do transporte de água é o volume. Sendo uma molécula fortemente polarizada, possui a capacidade de associar-se, formando grupos de moléculas de H2O. No estado líquido, predominam grupos de quatro, cinco, ou seis moléculas (H2O); associadas por um tipo de ligação chamado Ponte de Hidrogênio.

No século XX, os russos produziram a Poliágua, resultante da aglutinação de um monte de moléculas de água pelas pontes de hidrogênio, vaporizando a água para transformá-la em (H2O) e fazendo com que moléculas solitárias passem sob pressão, num tubo capilar.

Com isto elas se organizam e então são resfriadas para facilitar sua associação. Na saída tinham a Poliágua, uma água viscosa como óleo, que ocupa 20% do volume normal.

Para sua utilização, basta aquecer um pouco de Poliágua, que as pontes de hidrogênio se rompem; ela aumenta de volume cinco vezes e volta como a água comum, pronta para ser bebida.

Põe-se 1/5 de copo com Poliágua, aquece-se e o copo fica cheio. Isso resolve o problema do volume para o transporte de água nos vôos espaciais, mas não resolve o problema da massa.

O procedimento, recentemente aperfeiçoado pelo Dr. Valerión; concentra a Poliágua outra vez em cápsulas, que ocupam um espaço vinte vezes menor, embora o peso seja o mesmo. Em caso de necessidade, se a água tivesse de ser fracionada para obter oxigênio, um estoque reduzido pode ser reaproveitado em ciclo fechado, transformando a urina dos astronautas em água, destilando a urina em água e sais minerais.

A água pode ser bebida e os sais precisam outro tratamento para que alguns possam ser ingeridos e os outros postos fora. Um procedimento parecido comprime o oxigênio puro, para ser estocado até ser necessário na reciclagem do ar.

Além do mais, embaixo da área de estar; além do depósito de comestíveis; há um jardim hidropônico para variar a alimentação, e outro maior, desmontado no contêiner, para ser montado em Marte, junto com uma central de produção de fermento, que devidamente preparado, colorido e adicionado com sabores artificiais, pode imitar qualquer tipo de comida da Terra.

A Antílope, em viagem ao quarto planeta, carrega toda essa tecnologia, desenvolvida pelos homens livres de Antártida, que lhes permitirá sobreviver sem suprimentos de espécie alguma por um período de dois anos, se não receberem suprimentos, ou se a Lua ou a Antártida entrarem em colapso.

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Continua em: NA JORNADA PARA MARTE

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O conto A PARTIDA - forma parte integrante da saga inédita Mundos Paralelos ® – Fase I - Volume I, Capítulo 1; Páginas 22 a 26; e cujo inicio pode ser encontrado no Blog Sarracênico - Ficção Científica e Relacionados:

sarracena.blogspot.com

O volume 1 da saga pode ser comprado em:

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Gabriel Solís
Enviado por Gabriel Solís em 29/11/2016
Código do texto: T5838344
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