OS MARCIANOS

INTERLÚDIO

Sentados em pedras ao redor do fogo; quatro exploradores saboreavam uma boa comida; o arqueólogo Lon Vurián, junto à sua bela companheira, a bióloga Danai, e o alto e musculoso paleontólogo Vurón Garlak com sua companheira, a também bela e não menos inteligente médica Irp-Sur.

No meio deles, queimavam uns troncos dando luz mortiça, porém romântica na noite sem luas.

Acamparam no limite entre a floresta do canal e o deserto de areia, após percorrer 1.600 estádios, no seu veículo de exploração movido sobre lagartas. A cidade e suas comodidades ficaram atrás. Respiravam o leve ar fresco da noite estrelada.

Embora o fogo desse um calor agradável, talvez fosse melhor subir ao aconchegante veículo e dormir nos quentes beliches. Mas algo lhes impedia de fazê-lo. Talvez o mistério da noite, de todas as noites; o brilho das estrelas, o barulho abafado da floresta perto deles; talvez o frio e as feras...

Algo anima os exploradores a dormir junto à natureza, longe da Urbe, sabendo que o deserto e a floresta do canal estão livres dos defeitos da sociedade concentrada num pequeno espaço de território. Por isso, por serem verdadeiros amantes da vida ao ar livre; eles encontravam-se nestas hostis regiões para satisfazerem seus espíritos de exploradores.

Diria-se que esta não era mais do que uma das suas muitas e freqüentes saídas da Urbe, sempre que suas ocupações permitiam-no, para lazer. Porém, desta vez era diferente, tinham uma missão...

Mas, sejamos indiscretos e ouçamos sua conversa:

–Não acredito em tudo isso – afirmou rotundamente o atlético Vurón Garlak.

–Você acha que é tudo invenção do camponês – disse sua esposa Irp-Sur.

–Deve ter sonhado.

–E os camponeses do Setor Sul?

–Eles também poderiam ter inventado sua parte.

–Essa polêmica não nos conduz a lugar algum – interveio a jovem Danai.

–Passando a limpo os fatos – interrompeu Lon Vurián – O camponês do Setor Norte afirma ter visto quando arava o campo ao amanhecer, um ponto luminoso, um bólido de fogo voando em direção Poente com trajeto paralelo ao horizonte, a grande velocidade, emitindo forte barulho, o que bem pode ser verdade.

–Pode ser – concordou Vurón – o que não me convence é o fato de que o objeto voava horizontalmente.

–Não podia ser um meteoro – disse Irp-Sur.

–Claro que não! – exclamou Danai.

–Em segundo lugar – prosseguiu Lon – trinta dias depois, segundo dois agricultores do Setor Sul; aparecem ao anoitecer dois pontos pretos com tremendo barulho e cuspindo fogo; vindos do nascente, passando em cima das suas cabeças.

–Descarto os meteoros – disse Danai – meteoros não voam horizontalmente.

–Como ninguém da Urbe os viu? – disse Vurón.

–Pessoas da cidade não prestam atenção ao céu, Vurón. Os camponeses sim.

Danai interveio novamente:

–Meu companheiro fala como se desejasse que aparecesse uma nave espacial com seres de outro planeta, como contam as lendas que já o fizeram no passado.

–Querida, não são lendas. Como arqueólogo, tenho encontrado indícios de outras civilizações que já existiram neste mundo, antes de nós.

–Mas não são atualmente aceitas.

–Não posso mudar o passado. Acredito na vida em outros mundos, achei

provas. Por isso estamos aqui. É verdade que nosso passado é nebuloso, com deuses, mensageiros dos deuses e coisas assim. Mas isso tudo tem um fundo de verdade.

–Se você convenceu o Alto Comando disso; é tanto pelo seu prestígio, como porque seu pai é líder militar, Lon. Mas será que eles acreditam mesmo nisso?

–Claro; meu pai não tem a mente fechada, como nossa sociedade em geral. Paremos com as hipóteses e vamos analisar o mapa. Já fizemos grande parte do caminho seguindo a rota do primeiro objeto. Os cartógrafos militares fizeram-nos um excelente mapa com a rota mais aproximada possível...

–...Que corta o canal e nos impede passar – disse Vurón.

–Isso é apenas um detalhe. O veículo pode atravessar o canal no verão – disse Lon – não esqueçam que foi modificado para flutuar.

–Ainda bem – interrompeu Danai – uma patrulha perdeu um membro dias atrás no canal e a única coisa que se achou dele foi o fuzil e a mochila.

–Seria alguma fera? – disse Irp-Sur.

–Poderiam ser os arborícolas – disse Danai – sabemos que são traiçoeiros.

Ficaram em silêncio. Os perigos que ameaçavam dentro da floresta virgem, limítrofe ao canal, eram inúmeros, e alguns desconhecidos.

*******.

Enquanto isso, a 560 estádios em linha reta ao sul, no limite entre a floresta e o areal; um grupo de exploradores militares conversava sobre o assunto. Eram seis em dois veículos semelhantes ao de Lon e seu grupo.

Percorreram quase 1.450 estádios, seguindo a rota dos dois últimos objetos voadores avistados por agricultores do Setor Sul. Após jantar, enquanto o sono não chegava, conversavam ao redor do fraco fogo.

–O grupo de Lon Vurián já deve ter chegado ao limite da floresta – disse Nig Varnán, o chefe da patrulha.

–Vão entrar em contato logo – disse Garl Tarnián, um dos motoristas.

–Tomara que não tenhamos que atravessar a floresta – tremeu Dorn Norván, o mecânico – Há pouco uma patrulha o fez e um deles ficou para trás e sumiu.

–Alguma fera – comentou Borg Tarn, conhecedor experiente da floresta e do canal – ou talvez os selvagens. Ao norte é zona de arborícolas. Mas nós estamos bem armados e precavidos.

–Eles também estavam – replicou Dorn, lúgubre.

–Eles abandonaram o veículo na borda do canal e seguiram a pé.

–Como sabe, Ogn? – Interpelou Dorn ao irmão de Borg.

–Li o relatório. Se alguém fica para trás na floresta, se perde sem remédio.

–Talvez ainda esteja vivo – disse Xon, motorista e irmão dos anteriores.

–Pode ser – suspirou o chefe.

–Talvez o tenham abduzido os seres que procuramos – disse Garl, sardônico.

–Claro – respondeu Borg – os aliens pequenos com um só olho o terão levado para seu mundo para estudá-lo por dentro.

–Assim saberão de quê estamos feitos e logo virá uma enorme frota de naves espaciais repletas de espacianos, para nos invadir e nos escravizar – acrescentou Garl.

–Brinquem – interrompeu Ogn – mas neste mapa estabeleci as duas rotas; a de Lon Vurián e a nossa. Não são paralelas, convergem num ponto além do canal.

–Mostre o mapa – disse Nig.

–Aqui está. Marquei as duas linhas com sua convergência e como vê, o ângulo está ao outro lado do canal, no meio da Zona Contestada.

–Isso não é bom. Está próximo de Darnián.

–Podemos perfeitamente chegar até aí, Nig – disse Ogn.

–Acha? – interveio Borg, e acrescentou, indicando os veículos com um gesto:

–Com estes monstros será difícil atravessar o canal.

–Podemos deixá-los na margem e continuar a pé – sugeriu Xon.

–Está delirando? – escandalizou-se Dorn – Como vamos passar todo este equipamento pelo canal? A nado?

–Não faremos nada até falar com Lon Vurián. Espero que ligue logo.

–É quase hora – disse Borg entrando num dos veículos – vou ligar o rádio.

Como resposta ao conhecedor da floresta, um sinal de aviso, se fez ouvir no veículo. Em seguida Nig levantou-se e foi junto ao rádio.

–Varnán! – disse Nig no microfone.

–Saudações, Nig. Estão todos bem?

–No ponto combinado, Lon. Ogn achou uma coisa que pode ser importante.

–O que é?

–Um ângulo de convergência do outro lado do canal, na Zona Contestada. Se forem espaçonaves, pousaram na região plana além da Havern Umbr.

–Quero ver esse mapa. Amanhã partirei ao sul. Venham ao meu encontro.

*******.

O sol se levantava, iluminando aos poucos às diferentes formas vivas do

deserto, seres diurnos que retomavam o cotidiano trabalho de procurar alimento para sobreviver, enquanto os seres noturnos recolhiam-se nos seus buracos.

O sol fazia brilhar com inusitadas cores a nuvem de pó deixada atrás pelo veículo vermelho e cinza que marchava à boa velocidade pela borda do areal. Na cabine dianteira, Lon Vurián dirigia, enquanto ao seu lado, Vurón observava atentamente a floresta. Na cabine posterior, as companheiras preparavam lanches para os maridos.

O veículo devorava os estádios rapidamente, embora o terreno fosse acidentado.

–Já era para encontrá-los, Lon. Estamos na metade do caminho.

–Estão atrasados. Algo deve ter acontecido.

Danai apareceu pela porta interior e lhes alcançou bebidas quentes e comida.

–Obrigado! – disse Vurón – estava fazendo falta.

Comeram com apetite prestando atenção ao trajeto, intrigados pela demora da outra patrulha. Quando já tinham comido, Vurón percebeu um brilho na distância.

–Os veículos de Nig! Eles avançaram menos do que deviam.

Nig tinha-se movido 140 estádios, entanto que Lon avançara 420. Lon parou o veículo. Desceram e foram ao encontro dos outros, pé em volta das máquinas.

–Quê houve, Nig? – disse Lon – por quê pararam aqui? Uma pane?

–Nada disso. Encontramos uma coisa. Venha comigo.

Os dois afastaram-se do grupo e dirigiram-se para a margem da floresta; seguidos de longe pelos outros. Em determinado momento, Nig indicou o chão:

–Veja isso. Pegadas! Parecem de gente; menores que as nossas, calçados com botas. Quatro indivíduos. Vão ao nascente arrastando uma carga. Veja as marcas.

–Vamos atrás deles.

Percorreram 550 estádios, no areal, quando encontraram uma fera morta, horrivelmente mutilada.

–Este animal só ataca se molestado – disse Borg, aproximando-se dos líderes.

–Não podemos imaginar o que aconteceu aqui – disse Lon – vamos continuar, as pegadas não são muito recentes.

Retomaram a marcha. O sol estava alto e começava a fazer calor. As pegadas dos aliens seguiam em direção ao sol nascente o que facilitava encontrá-las. O veículo de Lon teve uma falha mecânica, pouco depois. Dorn, o mecânico determinou:

–Isto vai demorar.

–Deixaremos seu veículo aqui e continuaremos com os nossos – disse Nig.

–Não vamos exagerar – disse Borg – As pegadas permanecerão aí. Vamos consertá-lo! Pode fazer falta depois.

–Borg tem razão, rapazes – disse Xon – vamos descansar e comer alguma coisa enquanto Dorn conserta esse motor.

–Está bem – concordou Lon com um suspiro – Estou muito excitado com isto.

O motor ficou pronto à tarde. Então reiniciaram a marcha.

Ao anoitecer chegaram ao lago que limita a cidade pelo lado poente. Lon, Nig e Borg desceram, e por instantes admiraram o belo e claro espetáculo das luzes da Urbe, refletido na água. Logo procuraram algum indício dos seres espaciais. Borg foi o primeiro em encontrar alguma coisa.

Na beira do lago, havia um trenó, construído com madeira da floresta, no qual os aliens carregaram seus pertences.

–As mochilas dos aliens! – disse Borg – arrastaram algo para a água.

–Vejam este equipamento! Nunca vi nada parecido! – disse Nig.

–Não mexam em nada. Pode ser perigoso, não sabemos para que servem essas coisas. – disse Lon e exclamou:

–Olhem para Poente! Um objeto voador!

–Deixem tudo como está e subam – disse Borg – há umas cavernas aqui perto e poderemos ocultar os veículos!

A caravana dirigiu-se às rochas próximas. Rodando entre elas, após duas ou três voltas à esquerda e direita, apareceu a entrada de uma caverna, oculta pela mata rala do areal.

Os veículos acenderam as luzes e desceram às profundezas. Logo se detiveram. Lon, Borg e Nig desceram e deram ordem aos seus respectivos grupos de esperar aí mesmo, enquanto eles voltavam atrás.

–Há uma rocha alta, da qual podemos observar sem sermos vistos pelos

visitantes – disse Borg – sigam-me!

Escalaram a rocha e viram a nave que se aproximava com pavoroso barulho, pairando sobre o areal úmido, perto dos pertences dos visitantes.

–Nos ocultamos a tempo – disse Nig.

As rodas da nave tocaram a areia suavemente. O barulho cessou, e abriu-se uma portinhola, pela qual uma pequena escada foi desdobrada.

–Vão sair – disse Borg, sacando sua arma e engatilhando-a – estarei preparado por via das dúvidas...

–Não dispare a não ser que sejamos descobertos.

–Não se preocupe, Nig. Já é noite e não seremos vistos.

Por fim os seres desceram na nave.

–Seres pequenos com um só olho! – disse Nig – a nossa brincadeira se fez real.

–Estão vestidos com roupa de pressão e o que parece um olho é o visor do capacete. É evidente que não respiram o nosso ar – observou Lon.

–Silêncio! – disse Borg – se levantarem a vista; nos descobrem. Estão vendo as pegadas dos seus amigos e já descobriram as nossas. Não as apagamos. Ah, não...! Já vêm para cá.

–Vão nos ver, Lon – disse Nig, alarmado.

–Receberão da minha medicina – disse Borg atirando-se de bruços no chão e apontando sua arma – façam o mesmo.

–Nós três não podemos com doze – disse Lon – será melhor avisar os outros.

–A surpresa está do nosso lado – disse Nig, preparando sua arma.

–Estão voltando! – exclamou Borg.

Nas proximidades da margem, uma luz potentíssima chamou a atenção dos visitantes, que correram à margem das águas, sem suspeitar que escaparam por muito pouco de ser os primeiros mortos no inicio da primeira batalha interplanetária da era moderna.

Era uma pequena embarcação flexível com mais quatro visitantes a bordo, que prontamente desembarcaram, sendo recebidos pelos recém chegados. Em seguida, a embarcação foi recolhida, assim como os pertences que estavam no trenó, na beira d’água.

Tudo foi colocado a bordo da astronave e os visitantes embarcaram nela; que cuspiu fogo e elevou-se verticalmente com apavorante rugido, ganhando altura e saindo disparada em direção Poente.

–Vamos para a caverna – disse Lon.

*******.

–Agora já sabem – disse Lon, de pé junto aos veículos iluminados pela própria luz dentro da caverna – os aliens chegaram. Devemos comunicar às autoridades.

–Enquanto vocês não estavam, recebemos um comunicado da Urbe – disse Vurón – foi vista uma embarcação no cais de pescadores, com quatro seres, que após ver e serem vistos por algumas pessoas; embarcaram de novo e desapareceram. E se dirigiram ao Poente. Acho que devem ter sua base do outro lado do canal.

–No ponto de convergência que marquei no mapa – comentou Ogn.

–Mostre-me esse mapa – disse Lon.

Lon marcou a linha do rumo da nave recém vista.

–Converge no mesmo local – disse Lon alvoroçado – Na base deles...!

–O que faremos, Lon?

–Dividir-nos, Nig. Danai vai à Urbe com Irp-Sur para buscar reforços num dos veículos de vocês. Vurón e eu vamos com vocês no ponto de convergência, seguindo as pegadas dos visitantes. Nosso veículo está equipado para atravessar o canal. A Urbe está perto e elas poderão chegar sem dificuldade pela entrada Sul.

–Não seria melhor pedir reforços pelo rádio? – perguntou Xon.

–Não – respondeu Lon – Por três motivos; os visitantes podem estar ouvindo as transmissões; quero afastar Irp-Sur e Danai, já que não sabemos o que vamos encontrar; e há coisas fantásticas demais para contá-las por rádio. Prefiro que Irp-Sur e Danai refiram pessoalmente ao meu pai o que vimos. Ele saberá o que deve ser feito.

–Vamos – disse Irp-Sur, subindo no veículo – temos uma missão a cumprir.

Quase à meia-noite, os exploradores alcançaram o ponto em que os visitantes saíram da floresta. Na luz do holofote viram as marcas do trenó. Havia destroços na fauna mais temível do canal; uma trilha de árvores cortadas e feras mortas.

–Devem ter armas bem poderosas – comentou Ogn.

Os veículos marchavam com pouca dificuldade. A espessura da mata no meio da noite não permitia ver nada, apenas os holofotes conseguiam romper a espantosa escuridão, arrancando gritos de protesta dos habitantes da mata.

Borg marchava na frente abrindo caminho com seu pesado veículo. Lon atrás, com seu veículo preparado para atravessar o canal. Quando chegaram ao barranco, se detiveram e desceram das máquinas. Sabiam que tinha amanhecido, embora ainda o sol estivesse às suas costas.

–Até aqui chegamos – disse Borg – meu veículo não avança mais.

–Podemos tentar atravessar com meu veículo – disse Lon.

–Verifiquem o local – disse Nig – parece que há marcas colocadas por eles.

Caminharam em volta e viram muitas pegadas, e também encontraram sinalizações de madeira local, com marcas feitas pelos visitantes.

–Aqui há terra removida – disse Xon.

–Onde? – inquiriu Lon, parado em cima do veículo tentando ver do outro lado.

–Aqui. Eles enterraram alguma coisa e marcaram bem o local, com uma placa de madeira escrita com símbolos. Deve ser a escrita deles, sem dúvida.

–Tragam pás! – gritou Nig – vamos ver o quê enterraram os visitantes!

*******.

Tomara nunca o tivessem desenterrado.

Fazia muito que estava morto e estava em decomposição.

–Pelo corte de cabelo parece um soldado – opinou Dorn.

–Deve ser o patrulheiro desaparecido – disse Nig.

–Foi morto com objeto contundente. Não foram os visitantes.

–Como você sabe, Lon? – perguntou Nig.

–Está sem roupas e sem armas. Sem dúvida estava morto quando o acharam, e após revistar-lhe, enterraram-lhe. Se tivesse sido morto por eles, não teriam tomado o trabalho de enterrá-lo. Eles não enterraram nenhuma fera. Além do mais, os visitantes não o matariam com um objeto contundente, devem ter sido os arborícolas do norte. Sem dúvida veio boiando pelo canal e eles o encontraram.

–Tem sentido. Viram que era um ser civilizado e o enterraram em sinal de respeito. Mas, enterrem-no de novo que está fedendo! – disse Borg.

*******.

Após sepultar de novo o cadáver, empregaram o resto da manhã em adaptar os veículos. Colocaram flutuadores e um cabo para descer o barranco até a água. Para descer, pensaram explodir o barranco e formar uma rampa. O conhecedor o impediu:

–Não é preciso explodir nada. Há uma passagem ao sul. Além do mais, do outro lado, há muito barro. A não ser aquela rocha grande que marca o inicio da parte alta, o resto do terreno é mole embaixo, próximo da água.

–Podemos voltar ao mesmo ponto depois, Borg? – perguntou Lon.

–É só marcar o local em que estamos.

–Os visitantes devem ter deixado rastos do outro lado – disse Nig, dando uma olhada demorada na rocha do outro lado. Daqui se vê um brilho na folhagem, Lon.

–Um veículo! – exclamou Borg – Eles estão aí!

–Não estão. – replicou Lon – Está abandonado. Viram que não poderiam atravessar com ele e o deixaram.

–Façanha notável! – disse Borg – Estou inclinado a admirá-los por isso.

–E o que fizeram? – quis saber Dorn.

–Acha pouco? – respondeu Borg – Numa floresta para eles desconhecida, hostil e cheia de feras, abandonaram seu veículo, que sem dúvida era sua segurança, atravessaram o canal numa embarcação que deve ser a mesma que vimos no lago, construíram um trenó para rebocar o equipamento a pé e ainda empreenderam uma caminhada através da floresta, o areal e o lago. É muita coragem!

–Que seja, mas eu recuso-me a abandonar a segurança do meu confortável veículo – disse Nig – atravessaremos o canal pela passagem. Vamos!

Rodaram 150 estádios pela margem esquerda até uma clareira com evidentes indícios de anteriores passagens e restos de velhos acampamentos.

A rocha sólida do barranco tinha sido explodida e talhada muito tempo atrás por pioneiros. Havia uma cabana de madeira, ainda em bom estado, onde muitos já sem dúvida tinham dormido.

–Aqui podemos atravessar. Do outro lado há rocha sólida – disse Borg.

Os veículos meteram-se na água, primeiro Lon, depois Borg, unidos pelo cabo, já que o veículo de Borg, não tinha propulsão própria para locomover-se na água. Do outro lado subiram pela rocha até a parte alta e plana, dirigindo-se ao norte, voltando ao local de passagem dos visitantes. A marcha estava difícil pela mata fechada da margem direita. Começava a região pantanosa que reduzia a velocidade, embora as lagartas fossem eficientes nesse terreno. Logo avistaram a rocha seca.

Completamente embarrados, os veículos saíram do pântano e rodaram em terreno seco. Continuaram pela mata e faltando pouco para o pôr do sol, decidiram parar para esticar as pernas.

Ao desligar os motores, fez-se o silêncio. Xon e Garl adiantaram-se um pouco para verificar o terreno, quando ouviram um ruído de motor à sua frente. Em seguida, correram e conseguiram ver o veículo dos visitantes empreendendo sua marcha para Poente. Ao tomar conhecimento, Lon Vurián traçou mais uma linha no mapa:

–Temos que avançar para o Poente. Em marcha!

*******.

Primeiro Contato.

Foi fácil seguir o veículo dos visitantes porque havia uma trilha aberta por eles na vinda. Terminou a floresta e o veículo de seis rodas dos visitantes acelerou ao máximo com luzes acesas, levantando poeira. Os exploradores aceleraram atrás dos visitantes, que não pareciam tê-los visto. Chegaram à Havern Umbr, atravessaram-na e saíram mais uma vez ao campo aberto, onde aceleraram novamente.

Em uma hora percorreram 400 estádios até o local de pouso dos visitantes. Já era noite fechada e iam com luzes desligadas para não serem vistos. Detiveram-se ao atingir um ponto em que seria perigoso continuar. Lon desceu, Nig e Borg imitaram-lhe.

–Os veículos ficam aqui, é mais seguro. Os outros esperem, caminharemos mais discretamente e sem barulho apenas nós três.

Os exploradores caminharam em silêncio no campo de vegetação rala. Logo avistaram luminosidade na planície por trás de uma lomba e se abaixaram no mato para não serem vistos. Deslumbrados, viram as construções semi-esféricas, perfeitamente alinhadas e a pista iluminada com holofotes, onde quatro naves estavam colocadas lado a lado, em perfeita formação.

–Pensar que atravessaram o cosmos para vir aqui – disse Lon maravilhado.

O veículo dos visitantes deteve-se na frente de uma das construções com janelas iluminadas. Dois seres desceram e entraram.

–Esperem aqui – ordenou Lon – tentarei me aproximar daquele alojamento.

–Ficou louco? – escandalizou-se Nig – matar-lhe-ão se lhe descobrirem...

–Se me descobrirem – repetiu Lon e arrastou-se em direção aos alojamentos.

–Prepare a pistola – recomendou Borg – e não se deixe ver.

Lon engatinhou por entre os matos ralos e chegou ao limite do acampamento, delimitado por postes iluminados e alcançou a pista de pouso. Agora podia ser visto.

Lançou-se correndo o estádio escasso que era a largura da pista e conseguiu ficar escondido entre as construções.

Viu uma janela iluminada, juntou coragem e olhou para dentro...

*******.

Pela janela transparente, viu os visitantes sem capacetes. Seres bem diferentes, com cabelo comprido de diversas cores. Alguns pareciam ser do sexo feminino. A pele clara, corpo normal, menor e robusto. De repente, uma das aliens gritou e indicou a janela e os outros o viram do lado de fora. Lon percebeu que tinha ido longe demais e correu.

Enquanto atravessava a pista, ouviu tiros e assobios de balas perto da sua cabeça. Correu à toda velocidade e no limite do acampamento, bateu num campo de força e caiu ao solo rodando várias vezes sobre si mesmo.

Levantou-se e viu que um grupo de seres o perseguia. Levou a mão à pistola e não a encontrou no coldre; perdera-a na queda. Rapidamente procurou no solo e viu-a, atirando-se sobre ela, mas não chegou a pegá-la. Um disparo fê-la saltar. Quando tentou a segunda vez, outro disparo fez com que explodisse violentamente.

A explosão não o feriu, mas lançou-o ao ar com força e fê-lo cair do outro lado do campo de força, fora do alcance dos visitantes, que ao perderem sua presa, correram ao veículo. Lon correu até seus camaradas e chegou no preciso instante em que o carro dos visitantes partia a toda velocidade, fazendo cantar os pneus.

–Aos veículos! Rápido! – gritou Lon – A única salvação é chegar à floresta, aí não poderão nos encontrar!

Uma vez a bordo, ligou o rádio, esquecendo o silêncio radial, agora inútil:

–Atenção Hariez, atenção Hariez! Fala Lon Vurián, os visitantes nos atacam! Repito, seres do espaço nos atacam!

*******.

Continua em: CONTACTO VIOLENTO

*******.

O conto OS MARCIANOS - forma parte integrante da saga inédita Mundos Paralelos ® – Fase I - Volume I, Capítulo 4; páginas 55 a 62; e cujo inicio pode ser encontrado no Blog Sarracênico - Ficção Científica e Relacionados:

sarracena.blogspot.com

O volume 1 da saga pode ser comprado em:

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Gabriel Solís
Enviado por Gabriel Solís em 03/12/2016
Código do texto: T5842543
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