UMA MULHER FORTE

Uma mulher forte.

A patrulheira AR-1 desligou os motores na reentrada e estendeu as asas na noite serena, deslizando em silêncio até as Terras Frias. Pairou na antigravitação sobre a parte nova da aldeia Vurians, onde seis anos antes nascera o príncipe Alvin.

A navezinha pousou na praça central coberta de neve e o piloto desceu, encaminhando-se à uma cabana nova de cuja chaminé saia fumaça. Ele bateu na porta.

Ouviram-se passos e a porta se abriu. Uma jovem e bela mulher loira apareceu, secando as mãos num avental azul claro, com flores amarelas de inchu. Ao reconhecer o visitante, seus grandes olhos azuis abriram-se com estupor.

–Você...?

–Saudações, Li-Lian – disse Aldo, abaixando o capuz.

–Saudações Al-Do. Entre.

Aldo entrou. Ela pegou a capa dos ombros dele.

–Sente-se Al-Do.

Aldo sentou-se numa poltrona forrada em pele de wok.

–O aroma do jantar está delicioso.

–Faz tempo que janto sozinha, Al-Do. Sua visita a esta hora da noite significa que jantarei sozinha mais tempo ainda. Jante comigo.

–Eu quis que você fosse a primeira em saber.

–Foi glorioso? – disse ela, tentando não chorar.

–Se foi glorioso...? Ele roubou minha morte gloriosa, Li-Lian! Era eu que devia morrer! Ele me chutou para fora da nave antes de explodi-la!

–Então não houve corpo para as cerimônias de...

–Não. Ele detonou a Hércules dentro da nave dos aliens e tudo desapareceu no nada. Morreram trinta e nove dos nossos. Alguns tinham esposas nesta aldeia.

–Então ele morreu bem!

–Bem demais. Matou milhões de aliens e salvou todos nossos mundos.

–Como você voltou?

–Alan me trouxe, com o resto dos que sobrevivemos.

–Venha para a mesa. Vamos jantar e você me conta os detalhes.

–Não vou recusar sua comida maravilhosa.

*******.

Depois do jantar em que foi contado o que havia para contar, Aldo entregou os pertences que Dreisen deixara na Cidadela; uma antiga caneca branca de uma remota festa de Oktoberfest em Alemanha e um álbum de fotos, no qual faltava uma.

–A minha – disse ela.

–Ele nunca se separou dela. Amava você. Morreu por você e por todos.

–Você foi muito gentil em vir.

–É o mínimo que podia fazer por você e por ele, que era meu amigo.

–Vai visitar as outras famílias?

–Não tenho tanta coragem assim, Li-Lian. Ivan e Tom vão voltar e eles...

–Entendo – disse ela, levantando a grossa saia de lã de wok e colocando a mão dele na pele cálida e suave do seu ventre – Sinta o que ele deixou dentro de mim.

–Sim... – disse ele depois de um momento – senti. Você não estará sozinha.

–Agora preciso chorar, Al-Do. Abrace-me.

–Eu também, Li-Lian – disse ele abraçando-a.

*******.

Após sua triste missão na casa de Li-Lian Dreisen nas Terras Frias, Aldo partiu para Taônia. Precisava ver o imperador e entregar o relatório. Sua patrulheira pousou no aeroporto principal e após seu passo pela alfândega, ele pegou um táxi:

–Para o palácio, rápido!

Aldo era um rosto conhecido por todos em Taônia, e o motorista não se fez repetir. Toda a cidade esperava por ele. Uma vez no palácio, os guardas imperiais o deixaram passar sem dificuldades.

O mordomo principal disse:

–Sua Suprema Inteligência lhe espera no salão de festas.

–Obrigado.

Apesar de que não estava para festas, entrou no salão principal do palácio na hora em que Tao perguntava por ele.

–Vida longa ao Imperador! – disse, de pé na porta principal.

Todos os olhares dirigiram-se à porta. Aldo estava diferente, seu olhar era sombrio e seu rosto parecia de pedra.

–Seja bem-vindo, filho.

Prontamente os mordomos imperiais indicaram uma cadeira vazia entre Iara e Huáscar. Aldo sentou-se após fazer uma reverência protocolar.

–Agradecemos o que fez, capitão Al-Do, Senhor das Terras Frias.

Aldo suspirou e disse:

–O quê eu fiz...? Eu dei uma chance de vida aos nossos povos ameaçados de serem exterminados por inimigos de fora, Alteza. Só isso.

–E o fez muito bem, filho. Já sabemos os detalhes...

–Então sabe que isso custou minha nave e a vida de muitos amigos que me eram leais – disse Aldo violando o protocolo – espero que Vossa Suprema Inteligência considere esse sacrifício como a etapa mais amarga da Restauração e nunca esqueça desses heróis. Alguns deles eram vossos súbditos mais leais...

–Não há como esquecer – disse Tao, tentando segurar a emoção.

–Outros eram marcianos, terrestres, hiperbóreos e xawareks...

–Todos heróis, unidos por uma causa honrosa – disse o imperador – como foi no passado glorioso de Ran!

–Um passado que não pára de acenar-nos, Alteza. Agora posso sonhar em levar estes povos às estrelas.

–O filho tem razão. O sacrifício dos heróis não será em vão.

–A Restauração começa agora! – disse Aldo.

Todos os presentes levantaram suas taças em coro:

–Pela Restauração!

–Pelas estrelas! – disse Aldo.

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Continua em: A NAVE SEM NOME

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O conto UMA MULHER FORTE - forma parte integrante da saga inédita Mundos Paralelos ® – Fase II - Volume IV, Capítulo 34; páginas 141 a 142; e cujo inicio pode ser encontrado no Blog Sarracênico - Ficção Científica e Relacionados:

http://sarracena.blogspot.com.br/2009/09/mundos-paralelos-uma-epopeia.html

O volume 1 da saga pode ser comprado em:

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Gabriel Solís
Enviado por Gabriel Solís em 25/03/2017
Código do texto: T5951741
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