2 Parte - Os que já viveram - A Desolação

... O líder os levara a um abrigo que usara antes do caos se formar, por motivos que não contaria a eles, uma reentrância nas paredes de um velho porão. Entraram tateando devido a pouco luz que havia, a noite estava caindo com assustadora rapidez. O cheiro de umidade e de coisas esquecidas à muito tempo impregnavam o ar. As doze pessoas sentaram no chão e esperaram, sabiam por extinto que estariam protegidos pelo menos naquela noite e enquanto fossem guiados pelo homem que os salvara até aquele momento. Ele acendeu uma lamparina e levou para o meio do cômodo, a luz tremeluzente dançava nas paredes e nós cantos sombreados. Ouviram o vento lá fora e se encolheram.

- Não façam barulho, vamos dormir.

Ninguém se atreveria a faze-lo, como sabiam que também não conseguiriam dormir. Como todas as noites logo escutariam os gritos e aquele barulho agoniante que ouviam quando " os que já viveram" acordassem e passassem a buscar o que conseguissem encontrar.

Naquele grupo que nada tinham em comum se não o medo, cada qual mergulhava em seu próprio mundo nestes momentos de espera, uns choravam baixinho em desespero ou pela fome que corroía suas entranhas, outros ficavam estáticos imergidos em seus próprios pensamentos, apenas o mais velho deles parecia capaz de dormir, ou assim parecia.

Pouco tempo se passara e então começaram os gritos indistintos de agonia e o bater de asas. Pareciam mais lamúrias e sussurros incompreensíveis, muitos morreram ao pensarem que aquilo era alguém precisando de ajuda e saíram em socorro, caindo nas garras dos predadores. Aquela noite não seria mais fácil que as outras, talvez as criaturas sentissem o cheiro deles, estavam escalando as paredes tentando encontrar uma brecha por onde entrar. Os silvos que soltavam nesta perseguição cega ecoava nos ouvidos fazendo-os doer.

Era preciso que ficassem quietos e calmos, o medo podia ser perceptível através do cheiro. A mulher que havia perdido os dois filhos era a que menos conseguia se controlar e o rapaz segurava firmemente sua boca, se ela os delatasse estariam mortos.

.... ( continua)

Tânia Mara Paula
Enviado por Tânia Mara Paula em 02/04/2017
Reeditado em 26/12/2017
Código do texto: T5959094
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