Uma fuga para a terra

Mais um pôr-do-sol. O ancestrais contavam que era um momento ímpar e belo antes da vida e da atmosfera se tornarem tão instáveis no planeta terra. Na verdade, alguns dias ainda era possível admirar esta beleza.

Havia aquele pequeno vilarejo que descendia de sobreviventes. Mesmo que utilizando-se de toda a tecnologia possível, o que não era grande coisa comparado aos mundos e bases lá fora, tentavam manter o espírito de humanidade em suas vidas diárias. Quem viria pra terra nestes dias, afinal? Após nossa espécie estar em tantos lugares, criar confederações e guerras, o berço de tudo era apenas um deserto. As visitas eram cada vez mais raras.

A torre de observação avisara de um grotesco clarão no céu seguido de um impacto cerca de 4 kilômetros do vilarejo. Era muito próximo, então o plano de defesa fora acionado. O pequeno destacamento militar deslocou-se rapidamente para observar do que se tratava.

- Caramba, é uma squad! - Disse o comandante do destacamento. Este é um nome dado a uma nave de ataque da enorme corporação militar mercenária. Os mercenários eram chamados de anjos pela enorme destreza e velocidade em combate em qualquer tipo de lugar

- Senhor, tem um ferido aqui dentro!

- Abram essa nave!

Com um grande trabalho, a Squad completamente destronada fora aberta. Dentro, um piloto ainda em sangramentos mostrava sua armadura também com fortes lesões. Ele estava quase desacordado, mas conseguia se comunicar. Conseguiu dizer "ajuda" em 15 dialetos falados por seres humanos próximos daquele quadrante.

- Vamos levá-lo daqui! Ele precisa de cuidados! - Um dos sargentos de etnia egípcia gritou para três homens.

Ao acordar após alguns dias, o piloto perguntava onde estava. Nem sequer sabia que havia caído no planeta esquecido.

- Você está totalmente desnutrido e cheio de ferimentos. O que mais me preocupa é este perto do seu coração. Poderia ter te matado. Você dormiu por oito dias. Estamos nos revezando aqui para te ajudar. Aos poucos você está mais hidratado - A mulher aparentando indiana dizia pra ele.

Aos poucos o piloto de um dos maiores destacamentos militares conhecidos no espaço fora se adaptando á sua vida na velha terra. Contava histórias sobre quantos lugares já esteve, e em quantas aventuras havia se envolvido. Ajudava os fazendeiros locais, que com dificuldade plantavam o que conseguiam no solo instável. Treinava com o pequeno destacamento militar do vilarejo, mas sem que prejudicasse os ferimentos ainda sendo curados. Adorava receber chá dos habitantes, e passar o dia com eles. Ele conversava muito com outro ex-militar da federação. Que havia abandonado tudo e migrado para a terra por livre vontade.

- Você vai voltar pra lá? - Indagado pelo sargento egípcio, que percebera todos os seus ferimentos desde o início até a cura da maioria deles.

- Não. A verdade é que eu fui traído pelos meus colegas da tropa de elite. Um deles, treinado por mim, atacou-me com uma adaga próxima do meu peito. O que pude fazer foi pegar uma Squad e fugir antes de desacordar. Programei uma rota em alta dobra para que não pudesse ser detectado. Foi sorte que os sistemas me trouxeram pra cá. Eu nem imaginava que ainda fosse possível a vida aqui.

- Você vivia uma vida de glória. Destruir seus traidores não é impossível.

- Para mim isto está se tornando um paraíso. Eu vivia num mundo falso. Onde o seu valor é a sua força letal. Um mundo onde a morte não tem diferença. - Ele olhava para o sargento - Ouça, eu não sei se serei apto a lutar uma grande batalha de novo. Mas quem se importa? Eu ainda tenho minha essência comigo. Temos pequenos conflitos aqui. Eu posso lidar com eles e ajudá-los. Mas não me vejo viajando pra nenhuma parte do universo novamente. Não para lutar.

O senso de humanidade Aos poucos fora trazendo de volta um coração para aquele guerreiro. Que nem sequer sabia mais pelo que lutava. E ele percebeu que de repente, Não é necessário conhecer o maior número de galáxias possíveis ou destruir exércitos inteiros com incursões militares ou ter seu nome como alpha em nenhuma tropa. Mas que o abraço de uma pequena comunidade, poderia preencher mais sua vida do que qualquer outra.

É uma bonita ficção pra contar a verdade. Do dia em que fui literalmente fuzilado pelo veneno das grandes corporações, e por aqueles executivos que eu mesmo criei. Que em sua sede pelo poder, traíram até mesmo seus melhores amigos. E vim parar em uma pacata empresa pequena no sul da Holanda, e literalmente abraçado. Talvez jamais entre em enormes projetos onde o ego e o veneno desfilam livremente. Mas eu prefiro muito mais o abraço dos pequenos moradores do vilarejo ao enfrentar de novo meros insetos que matam sem escrúpulos pelo poder. Ainda tenho as feridas, não das guerras mas dos traidores. O que realmente importa na sua vida? lutar até ser morto?

Abraços fraternais e que você escute sua essência,

Marcello Morettoni
Enviado por Marcello Morettoni em 21/06/2017
Reeditado em 21/06/2017
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