XIII
ANETTE: A ESTRANHA
Acordei com o galo cantando. Preguiçosamente levantei e fui até a janela frontal do quarto... Ao avistar as montanhas ao longe, notei que elas faziam um contraste magnífico de cores... Era uma mistura de verde claro, verde escuro, azul...
– “Ainda há belos lugares na Terra”... – pensei, enquanto me espreguiçava.- “Pena que o homem está acabando com eles...”
- Hora do lanche! – ouvi, após baterem na porta...
Mais que depressa, fui ao banheiro fazer uma rápida higiene pessoal... Lá, deparei com a minha imagem refletida no espelho... Então as palavras do cristalzinho ecoaram na mente - “O que vês é uma capa... O SEU EU REAL encontra-se do outro lado dele.”
Sentamos todos ao redor da mesa da cozinha (o lugar mais acolhedor do casarão), e passamos a nos servir. Faminta, comecei a comer um apetitoso pão de queijo, e quando ia dar uma segunda mordida nele, começaram alguns gracejos,
dos meus companheiros, dirigidos a mim... (Não demorou muito pra entender que a minha amiga médica , a quem confidenciara o meu encontro com o pequeno espacial , dera
com a língua nos dentes, e passara a informação adiante).
- Vejam como Anette está ficando verde como o Hulk! – exclamou o professor de física, com uma pitada de ironia na voz - Também, não é pra menos, já que ela reservou todas as noites para namorar um marciano!
FRANZI A TESTA
- Ontem à noite, cheguei a vê-la conversar animadamente com uma lanterninha acesa no colo... – confessou a jornalista do grupo, de maneira ferina e faiscante galhofa no olhar - Que loucura, minha gente!... Acho que a nossa amiga pirou de vez, de tanto trabalhar nos seus intermináveis processos!!
SENTI A FACE EM CHAMAS.
- Como pode uma mulher que sempre foi tão sensata, acreditar numa fantasia e se deixar levar por ela? - bradou o engenheiro nuclear, visivelmente inconformado.
RESPIREI COM DIFICULDADE - Sabem... É uma pena, mas acho que vocês não percebem que a Ane está só um pouco estressada... - diagnosticou a médica procurando acorrer-me, nitidamente arrependida por haver contado a eles sobre o meu contato extraterrestre.
Ergui os olhos e encarei um a um, contrafeita... A seguir, abri a boca, e disse-lhes, com polidez:
- Gente!!... Embora eu esteja bem, sinto todos preocupados comigo... Mas, não há razão... Em todo caso, agradeço... Agora, me vejo na obrigação de confessar-lhes o real motivo de eu ter vindo a esse lugar afastado, com vocês... Bem: é que eu precisava de tranquilidade para poder analisar com calma e clareza de raciocínio, a real capacidade do homem da Terra de ter valores humanos reais, visto ele se mostrar cada vez menos humano, e cada vez mais violento, e desumano...
E heureca! No curto tempo que aqui estou, finamente achei uma resposta adequada para o dilema que tanto me perturbava:
- “Estamos todos incapazes de ter valores humanos reais, dado o domínio que o SISTEMA desse PLANETA exerce sobre nossas mentes, interferindo amplamente no modo de pensarmos e agirmos..., É fato: declinamos de pensar para deixarmos que ele pense por nós...E como um povo que não pensa é um povo escravo... Não pensamos,. .Logo, somos todos escravos... Escravos de um sistema cruel e manipulador, que nos obriga habilmente a segui-lo, obcecados pela fria e tirânica matéria na qual ele é estruturado...—súbito, um inesperado pontapé na perna esquerda, calou a minha voz... Uma dor aguda se alastrou na espinha, e fez arrepiar o meu corpo... Sem entender a razão para aquela agressão, prossegui: - Aliás, creio que a pesada escravidão mental que estamos todos submetidos, seja o principal motivo para a incrível alienação cá envolvente... que nos faz tratar com indiferença - como a espetáculos distantes os absurdos que acontecem no dia a di...– nisso, calei a voz, mais uma vez , ao perceber os meus amigos confusos com o que lhes falava...
Então, compreensiva, proferi:
- Para que vocês possam entender melhor o que lhes digo, darei 3 exemplos práticos, ok?
Houve um murmúrio de aceitação.
- Pois bem... – comecei - Seguimos a vida alienados/ indiferentes:
1º - às guerras (*) – (deOtonadas por governantes cruéis e
gananciosos, que revelando profundo apego pela matéria e desprezo pela humanidade, nem por um segundo hesitam trocar a carnificina pelo lucro, o desespero pelo poder).
(*_) GUERRA!
CORPOS CAIDOS
RAJADA É O SOM
GRITOS DE DESESPERO
INFERNO É O TOM
AMIGOS PERDIDOS
A MORTE ARTISTA
ENDEREÇO DE DESAPARECIDO
APOCALÍPSE DO VOCALISTA
SANGUE, SUOR E LÁGRIMAS
É O QUANDO FATAL
OS VIVOS ESTÃO MORTOS
OS MORTOS ESTÃO VIVOS AFINAL
AUSÊNCIA DOS JOVENS:
PAULOS, PEDROS E IVOS
PÁTRIA - ONDE ESTÁ O HEROI PERDIDO?
MÃE - ONDE ESTÃO SEUS FILHOS VIVOS?.
Por Anette Apec Barbosa
2º- às bombas atômicas e nucleares, armas químicas e biológicas - (construídas por nações, que visam o poderio armamentista sobre todas as nações.).
3º- aos lixos radioativos e hospitalares - ( que são mal enterrados ou jogados a solta, por criaturas irresponsáveis, expondo a graves doenças (até mesmo letais), os infelizes que porventura têm contato com tais materiais,
Sufocada, possuída de febril ardor, dobrei os dedos na mesa, e juntei:
- E tem mais... Seguimos também a vida alienados/ indiferentes aos que vivem nas ruas, favelas, cracolândias, tapumes, no lixo, lixão e dele... Á fome, miséria, corrupção, sequestros, assassinatos, balas perdidas... Às drogas, fanatismo, terrorismo, preconceito racial, desrespeito... À pedofilia, ao separatismo, homofobia, xenofobia... Enfim, ao.. . ao...”
- Ao caos... - completou o engenheiro nuclear, meditativo..
- MMas... - gaguejou a minha a médica, repentinamente aflita.. - O que fazer para acabar com ele?
- Bem...– ponderei reflexiva - Acredito que a resposta está no despertar de nossas consciências, através de um questionamento sério sobre o estado dormente que elas se encontram...
- Hrm! Hrrmmmm!! - Um pigarreio seco, interrompeu-me bruscamente... - Era o professor de física, que no seu jeito bonachão de ser, limpava a garganta com essa finalidade.(Eu o conhecia bem, e sabia ser ele irônico quando algo lhe parecia estapafúrdio)
- Interessante o seu raciocínio, minha cara... Todavia, parece-me utópico demais
achar que os graves problemas (caos) que enfrentamos na Terra, possam ser resolvidos de um jeito tão simples quanto esse que você aponta.
- Simples , sem dúvida!... Jamais utópico!... – devolvi no ato - Já que o caos começa e cresce em cada um de nós, para acabarmos com ele, basta acordarmos para os nossos erros, redescobrirmos os seres transformadores que somos e mudarmos com acerto.
Impressionada com a segurança com que eu imprimira na resposta, a jornalista disparou, num tom depreciativo:
- Anette!... Até que percebo um fundo de inteligência no que você disse... Só que... Desculpe-me... Alguém a alertou pra o fato?
- Aquela lanterninha acesa no meu colo me alertou – contrapus, com impróprio sarcasmo - Que na verdade, era um serzinho radiante vindo de um outro universo, para despertar-me consciencialmente.
Inquieto, com ar de velhaco, o professor recostou-se na cadeira, e cruzou os braços altura do peito:
- Lá vem ela de novo com essa historia de Et – falou ele por fim, num tom de deboche, piscando os olhos aos demais – Estava demorando...
Um risinho em uníssono ecoou no recinto.
Beberiquei um gole de suco de laranja nos lábios contraídos, e engoli com dificuldade.
- Por que desse comentário?- questionei irritada, pousando o copo firmemente sobre a mesa – Será tão difícil assim, vocês acreditarem que possa haver no espaço sideral, seres- tão ou mais inteligentes que nós, que nos observam ou até mesmo nos visitam
na surdina, com boas ou más intenções?
Meus amigos continuaram a rir, de riso contorcido, que logo morreu nos lábios ante a seriedade com que os encarei; e ao abrir a boca para concluir meu comentário, fui interrompida novamente pela jornalista do grupo..
- Arre, amiga!... Você acredita mesmo nessa tolice de vida extraterrestre?
- Tolice? Por quê?! - cortei, agastada,, num esforço sobre humano pra manter a calma.
Ela, como que apanhada de surpresa, engoliu em seco e emudeceu. Depois retornou rispidamente - pondo-me em ‘check” pela 3º vez na conversa:
- Bem... É evidente sua crença na existência deles!... Sendo assim, explique-nos: Por que não os vemos?
- Isso! - exclamou o professor de física, que sem poder deixar de nos ouvir, socou o ar
com força, ratificando a pergunta da jornalista....– Somos todos ouvidos!
- É... Tem lógica!... Explique! - pronunciou o engenheiro,, voltando-se inteiramente para mim, sem largar das mãos a xícara de café que tomava com gosto....– afinal, por que não os vemos?
Determinada em explicar-lhes ( embora desconfiada que aquele grupo não levava muito a serio o que lhes dizia, uma vez que sentia neles forte resistência para me entender) levantei da cadeira, e apanhei um ventiladorzinho vermelho, esquecido num dos cantos do velho janelão da cozinha ( tendo o cuidado de deixá-lo conectado a uma tomada elétrica); e, voltei a me sentar.
- Olhem pra esse ventilador! – solicitei-lhes, imperativa - Agora que ele está desligado podemos ver sua hélice, concordam?
Todos assentiram.
- Vou aumentar a velocidade dele, ok? – disse, ligando o aparelho- Observem!.. Já não mais podemos enxergá-la, não é verdade?... Entretanto, a hélice, continua ali... Ela existe... É matéria... Mas, por causa da aceleração, ela é invisível a nós... Isso é o que ocorre com os seres extraterrestres e suas naves... Entenderam agora, o porquê de não os vermos?
Meus amigos pararam para refletir de jeito contemplativo, porém altivo, sobre a explicação que lhes dera... ( seus olhares traduziam que jamais haviam pensado no assunto daquela forma... Pouco a pouco, a expressão deles, foi mudando para o assombro).
Enquanto isso, ao sentir o cheiro refrescante do mato molhado, misturado ao gostoso aroma do café moído na hora, prazeirosamente respirei fundo, e disfarçadamente espreguicei-me. O rápido movimento que imprimira com o pescoço, levou-me a mirar com atenção, a porta entreaberta:
‘A manhã desabrochava morna... Lá fora, o rebuliço do campo já recomeçara...Os colonos passavam , falando alto / carregando suas enxadas nos ombros, a caminho do trabalho... No quintal, as galinhas cacarejavam, ciscando inquietas o solo a procura do milho jogado por Dona Baia (a empregada do sítio)... No chiqueiro, os porcos grunhiam nervosos a espera da lavagem matinal... E os demais animais do sítio, ruidavam ao longe e ao longe os pássaros da região piavam alegremente, saudando o sol que chegava de mansinho”
Continuei:
Sei que há uma tendência natural virarmos as costas para o desconhecido, mesmo que tenhamos a forte sensação de que há algo a mais no ar... Aconselho-os, então, a se livrarem dessa sensação - para poderem elevar seus graus de conhecimentos, e a crescerem consciencialmente..
- Ah! E como? – alguém quis saber
- Bem... Em 1º lugar - nunca receiem em questionar seja lá o que for até
ficarem completamente satisfeitos... Quando satisfeitos, abandonem a resistência interior intrínseca, e aprendam a aceitar... Sejam mais humildes, abram as suas mentes!...
- Certo! E depois?
- Ora! Comecem assim... Depois é depois...
Com essas palavras, ergui e aguardei qualquer outra pergunta dos meus companheiros... O que não houve, pois os deixei imersos em pensamentos.
- Ótimo! – refleti, sorrindo – É um começo..
E saí pra cavalgar.
ANETTE: A ESTRANHA
Acordei com o galo cantando. Preguiçosamente levantei e fui até a janela frontal do quarto... Ao avistar as montanhas ao longe, notei que elas faziam um contraste magnífico de cores... Era uma mistura de verde claro, verde escuro, azul...
– “Ainda há belos lugares na Terra”... – pensei, enquanto me espreguiçava.- “Pena que o homem está acabando com eles...”
- Hora do lanche! – ouvi, após baterem na porta...
Mais que depressa, fui ao banheiro fazer uma rápida higiene pessoal... Lá, deparei com a minha imagem refletida no espelho... Então as palavras do cristalzinho ecoaram na mente - “O que vês é uma capa... O SEU EU REAL encontra-se do outro lado dele.”
Sentamos todos ao redor da mesa da cozinha (o lugar mais acolhedor do casarão), e passamos a nos servir. Faminta, comecei a comer um apetitoso pão de queijo, e quando ia dar uma segunda mordida nele, começaram alguns gracejos,
dos meus companheiros, dirigidos a mim... (Não demorou muito pra entender que a minha amiga médica , a quem confidenciara o meu encontro com o pequeno espacial , dera
com a língua nos dentes, e passara a informação adiante).
- Vejam como Anette está ficando verde como o Hulk! – exclamou o professor de física, com uma pitada de ironia na voz - Também, não é pra menos, já que ela reservou todas as noites para namorar um marciano!
FRANZI A TESTA
- Ontem à noite, cheguei a vê-la conversar animadamente com uma lanterninha acesa no colo... – confessou a jornalista do grupo, de maneira ferina e faiscante galhofa no olhar - Que loucura, minha gente!... Acho que a nossa amiga pirou de vez, de tanto trabalhar nos seus intermináveis processos!!
SENTI A FACE EM CHAMAS.
- Como pode uma mulher que sempre foi tão sensata, acreditar numa fantasia e se deixar levar por ela? - bradou o engenheiro nuclear, visivelmente inconformado.
RESPIREI COM DIFICULDADE - Sabem... É uma pena, mas acho que vocês não percebem que a Ane está só um pouco estressada... - diagnosticou a médica procurando acorrer-me, nitidamente arrependida por haver contado a eles sobre o meu contato extraterrestre.
Ergui os olhos e encarei um a um, contrafeita... A seguir, abri a boca, e disse-lhes, com polidez:
- Gente!!... Embora eu esteja bem, sinto todos preocupados comigo... Mas, não há razão... Em todo caso, agradeço... Agora, me vejo na obrigação de confessar-lhes o real motivo de eu ter vindo a esse lugar afastado, com vocês... Bem: é que eu precisava de tranquilidade para poder analisar com calma e clareza de raciocínio, a real capacidade do homem da Terra de ter valores humanos reais, visto ele se mostrar cada vez menos humano, e cada vez mais violento, e desumano...
E heureca! No curto tempo que aqui estou, finamente achei uma resposta adequada para o dilema que tanto me perturbava:
- “Estamos todos incapazes de ter valores humanos reais, dado o domínio que o SISTEMA desse PLANETA exerce sobre nossas mentes, interferindo amplamente no modo de pensarmos e agirmos..., É fato: declinamos de pensar para deixarmos que ele pense por nós...E como um povo que não pensa é um povo escravo... Não pensamos,. .Logo, somos todos escravos... Escravos de um sistema cruel e manipulador, que nos obriga habilmente a segui-lo, obcecados pela fria e tirânica matéria na qual ele é estruturado...—súbito, um inesperado pontapé na perna esquerda, calou a minha voz... Uma dor aguda se alastrou na espinha, e fez arrepiar o meu corpo... Sem entender a razão para aquela agressão, prossegui: - Aliás, creio que a pesada escravidão mental que estamos todos submetidos, seja o principal motivo para a incrível alienação cá envolvente... que nos faz tratar com indiferença - como a espetáculos distantes os absurdos que acontecem no dia a di...– nisso, calei a voz, mais uma vez , ao perceber os meus amigos confusos com o que lhes falava...
Então, compreensiva, proferi:
- Para que vocês possam entender melhor o que lhes digo, darei 3 exemplos práticos, ok?
Houve um murmúrio de aceitação.
- Pois bem... – comecei - Seguimos a vida alienados/ indiferentes:
1º - às guerras (*) – (deOtonadas por governantes cruéis e
gananciosos, que revelando profundo apego pela matéria e desprezo pela humanidade, nem por um segundo hesitam trocar a carnificina pelo lucro, o desespero pelo poder).
(*_) GUERRA!
CORPOS CAIDOS
RAJADA É O SOM
GRITOS DE DESESPERO
INFERNO É O TOM
AMIGOS PERDIDOS
A MORTE ARTISTA
ENDEREÇO DE DESAPARECIDO
APOCALÍPSE DO VOCALISTA
SANGUE, SUOR E LÁGRIMAS
É O QUANDO FATAL
OS VIVOS ESTÃO MORTOS
OS MORTOS ESTÃO VIVOS AFINAL
AUSÊNCIA DOS JOVENS:
PAULOS, PEDROS E IVOS
PÁTRIA - ONDE ESTÁ O HEROI PERDIDO?
MÃE - ONDE ESTÃO SEUS FILHOS VIVOS?.
Por Anette Apec Barbosa
2º- às bombas atômicas e nucleares, armas químicas e biológicas - (construídas por nações, que visam o poderio armamentista sobre todas as nações.).
3º- aos lixos radioativos e hospitalares - ( que são mal enterrados ou jogados a solta, por criaturas irresponsáveis, expondo a graves doenças (até mesmo letais), os infelizes que porventura têm contato com tais materiais,
Sufocada, possuída de febril ardor, dobrei os dedos na mesa, e juntei:
- E tem mais... Seguimos também a vida alienados/ indiferentes aos que vivem nas ruas, favelas, cracolândias, tapumes, no lixo, lixão e dele... Á fome, miséria, corrupção, sequestros, assassinatos, balas perdidas... Às drogas, fanatismo, terrorismo, preconceito racial, desrespeito... À pedofilia, ao separatismo, homofobia, xenofobia... Enfim, ao.. . ao...”
- Ao caos... - completou o engenheiro nuclear, meditativo..
- MMas... - gaguejou a minha a médica, repentinamente aflita.. - O que fazer para acabar com ele?
- Bem...– ponderei reflexiva - Acredito que a resposta está no despertar de nossas consciências, através de um questionamento sério sobre o estado dormente que elas se encontram...
- Hrm! Hrrmmmm!! - Um pigarreio seco, interrompeu-me bruscamente... - Era o professor de física, que no seu jeito bonachão de ser, limpava a garganta com essa finalidade.(Eu o conhecia bem, e sabia ser ele irônico quando algo lhe parecia estapafúrdio)
- Interessante o seu raciocínio, minha cara... Todavia, parece-me utópico demais
achar que os graves problemas (caos) que enfrentamos na Terra, possam ser resolvidos de um jeito tão simples quanto esse que você aponta.
- Simples , sem dúvida!... Jamais utópico!... – devolvi no ato - Já que o caos começa e cresce em cada um de nós, para acabarmos com ele, basta acordarmos para os nossos erros, redescobrirmos os seres transformadores que somos e mudarmos com acerto.
Impressionada com a segurança com que eu imprimira na resposta, a jornalista disparou, num tom depreciativo:
- Anette!... Até que percebo um fundo de inteligência no que você disse... Só que... Desculpe-me... Alguém a alertou pra o fato?
- Aquela lanterninha acesa no meu colo me alertou – contrapus, com impróprio sarcasmo - Que na verdade, era um serzinho radiante vindo de um outro universo, para despertar-me consciencialmente.
Inquieto, com ar de velhaco, o professor recostou-se na cadeira, e cruzou os braços altura do peito:
- Lá vem ela de novo com essa historia de Et – falou ele por fim, num tom de deboche, piscando os olhos aos demais – Estava demorando...
Um risinho em uníssono ecoou no recinto.
Beberiquei um gole de suco de laranja nos lábios contraídos, e engoli com dificuldade.
- Por que desse comentário?- questionei irritada, pousando o copo firmemente sobre a mesa – Será tão difícil assim, vocês acreditarem que possa haver no espaço sideral, seres- tão ou mais inteligentes que nós, que nos observam ou até mesmo nos visitam
na surdina, com boas ou más intenções?
Meus amigos continuaram a rir, de riso contorcido, que logo morreu nos lábios ante a seriedade com que os encarei; e ao abrir a boca para concluir meu comentário, fui interrompida novamente pela jornalista do grupo..
- Arre, amiga!... Você acredita mesmo nessa tolice de vida extraterrestre?
- Tolice? Por quê?! - cortei, agastada,, num esforço sobre humano pra manter a calma.
Ela, como que apanhada de surpresa, engoliu em seco e emudeceu. Depois retornou rispidamente - pondo-me em ‘check” pela 3º vez na conversa:
- Bem... É evidente sua crença na existência deles!... Sendo assim, explique-nos: Por que não os vemos?
- Isso! - exclamou o professor de física, que sem poder deixar de nos ouvir, socou o ar
com força, ratificando a pergunta da jornalista....– Somos todos ouvidos!
- É... Tem lógica!... Explique! - pronunciou o engenheiro,, voltando-se inteiramente para mim, sem largar das mãos a xícara de café que tomava com gosto....– afinal, por que não os vemos?
Determinada em explicar-lhes ( embora desconfiada que aquele grupo não levava muito a serio o que lhes dizia, uma vez que sentia neles forte resistência para me entender) levantei da cadeira, e apanhei um ventiladorzinho vermelho, esquecido num dos cantos do velho janelão da cozinha ( tendo o cuidado de deixá-lo conectado a uma tomada elétrica); e, voltei a me sentar.
- Olhem pra esse ventilador! – solicitei-lhes, imperativa - Agora que ele está desligado podemos ver sua hélice, concordam?
Todos assentiram.
- Vou aumentar a velocidade dele, ok? – disse, ligando o aparelho- Observem!.. Já não mais podemos enxergá-la, não é verdade?... Entretanto, a hélice, continua ali... Ela existe... É matéria... Mas, por causa da aceleração, ela é invisível a nós... Isso é o que ocorre com os seres extraterrestres e suas naves... Entenderam agora, o porquê de não os vermos?
Meus amigos pararam para refletir de jeito contemplativo, porém altivo, sobre a explicação que lhes dera... ( seus olhares traduziam que jamais haviam pensado no assunto daquela forma... Pouco a pouco, a expressão deles, foi mudando para o assombro).
Enquanto isso, ao sentir o cheiro refrescante do mato molhado, misturado ao gostoso aroma do café moído na hora, prazeirosamente respirei fundo, e disfarçadamente espreguicei-me. O rápido movimento que imprimira com o pescoço, levou-me a mirar com atenção, a porta entreaberta:
‘A manhã desabrochava morna... Lá fora, o rebuliço do campo já recomeçara...Os colonos passavam , falando alto / carregando suas enxadas nos ombros, a caminho do trabalho... No quintal, as galinhas cacarejavam, ciscando inquietas o solo a procura do milho jogado por Dona Baia (a empregada do sítio)... No chiqueiro, os porcos grunhiam nervosos a espera da lavagem matinal... E os demais animais do sítio, ruidavam ao longe e ao longe os pássaros da região piavam alegremente, saudando o sol que chegava de mansinho”
Continuei:
Sei que há uma tendência natural virarmos as costas para o desconhecido, mesmo que tenhamos a forte sensação de que há algo a mais no ar... Aconselho-os, então, a se livrarem dessa sensação - para poderem elevar seus graus de conhecimentos, e a crescerem consciencialmente..
- Ah! E como? – alguém quis saber
- Bem... Em 1º lugar - nunca receiem em questionar seja lá o que for até
ficarem completamente satisfeitos... Quando satisfeitos, abandonem a resistência interior intrínseca, e aprendam a aceitar... Sejam mais humildes, abram as suas mentes!...
- Certo! E depois?
- Ora! Comecem assim... Depois é depois...
Com essas palavras, ergui e aguardei qualquer outra pergunta dos meus companheiros... O que não houve, pois os deixei imersos em pensamentos.
- Ótimo! – refleti, sorrindo – É um começo..
E saí pra cavalgar.