Viagem a Andrômeda - CAPÍTULO V - Saudosa Röntgen

CAPÍTULO V

Saudosa Röntgen

As operações de transporte feitas pelo elevador espacial estavam atrasadas, mesmo trabalhando de forma incessante e com a utilização total.

Os militares como acordado na reunião, utilizaram a estação espacial ocidental, efetuaram todo o deslocamento de tropas e armas por terra, utilizando trens de alta velocidade. Nunca no pequeno planeta Álack tantas pessoas migraram do solo para o espaço em tão pequeno espaço de tempo.

Durante esse tempo os três forasteiros não tiveram muitas oportunidades de participar das reuniões, eles perceberam que existiam muitas delas de portas fechadas, a todo momento era possível ver o comandante Garcia se deslocando pelos corredores da faculdade e na maioria das vezes acompanhado do Dr. Yano.

Em pouco tempo, Christian percebeu que era impossível estar em todos os lugares ao mesmo tempo e que sua presença não era bem-vinda em muitos dos casos. Era possível sentir o preconceito e a xenofobia no olhar de vários cientistas e militares. Ele fingia não se importar, Martin e Mark estavam sempre ao seu lado e desgostosos com aquela situação. Os três, durante os últimos dias de estadia, pareciam crianças em um parque de diversões, a oferta de novidades era incrível e por que não aproveitar para conhecê-las.

Os três companheiros sabiam que essa variedade era mais comum nas duas capitais do planeta e que provavelmente nos outros pequenos centros não existiam essa variedade. A densidade da cidade era muito próxima das capitais dos outros planetas, mas realmente a organização e arquitetura do planeta eram impressionantes. Feitas de forma minimalista, simples e funcional. Até a moda tinha essa característica; as roupas tinham cortes retos, de cores sóbrias e escuras, com poucos botões ou adereços e os cabelos eram em sua grande maioria curtos ou raspados, independentemente do sexo.

- Olhe isso Mark! - Disse Martin perplexo com o que via - O transponder que nossa nave não tem, será que conseguimos atualiza-la?

- Acredito que sim. É incrível como a nossa civilização mantém até hoje dispositivos de 5V e 500 mA, totalmente compatível com nossos equipamentos. Ainda vou descobrir a origem disso – Comentou Mark tirando o equipamento da caixa.

Mark observou cuidadosamente o equipamento e pensou ao ler a expressão “Rede de Entrelaçamento Quântico”, que utilidade isso poderia ter nos equipamentos com quase dois mil e quinhentos anos instalados na nave.

- Vamos Mark, quem sabe conseguimos conversar novamente com a Louise – brincou Martin.

- Martin, você não precisa de um transponder desse para falar com a Louise, ela está um pouco acima da atmosfera do planeta, a comunicação é quase instantânea e em poucas horas iniciaremos a subida pelo elevador espacial – disse Christian com irritação.

- Calma Christian, era só uma brincadeira – disse Martin balançando a cabeça e triste com a irritação do colega.

- Tem razão Martin, me desculpe. Estou um pouco angustiado com o que vêm acontecendo. Viemos empolgados para contar sobre a chegada em Andrômeda e fomos deixados de lado. É muito desolador isso – disse Christian cabisbaixo.

- Realmente, mas fique tranquilo D.C., logo estaremos com nossos colegas em Andrômeda e nos sentiremos mais úteis e em casa – comentou Mark apoiando a mão sobre o ombro de Christian.

- Então vamos pessoal, estou louco para montar isso em nossa nave – disse Martin apanhando a caixa e o equipamento das mãos de Mark e saindo.

Christian e Mark se entreolharam com expressão de surpresa, apesar de saberem que Martin era uma das pessoas mais empolgadas que eles conheciam.

O percurso até o estaleiro não foi demorado, o trânsito em Álack, mesmo sendo intenso, era muito rápido. Parecia um congestionamento, mas com velocidades superiores aos 200 km/h. Os três sempre ficavam boquiabertos com o sistema controlador de tráfego.

- Essa cidade é fantástica, só acho estranho eles não derem nenhum nome a ela, na verdade é muito estranho as cidades principais serem chamadas de Álack Oriental e Álack Ocidental e as outras serem designadas apenas por coordenadas – comentou Christian em tom de deboche.

- Realmente, pelo que eu pesquisei em nosso dormitório, toda a colonização do planeta foi planejada, não houve pessoas envolvidas em desbravar nada. Simplesmente eles verificaram a topografia do planeta a necessidade de transporte, desembarcaram as tropas com os itens necessários para a construção das cidades e pontos de apoio. Demorou cerca de oito anos terrestres – disse Mark com entusiasmo em sua voz.

- Nossa oito anos? Para colonizarem um planeta inteiro? - Questionou Martin impressionado colocando as mão sobre os joelhos e inclinando o corpo na direção de Mark.

- Realmente impressionante Martin, mas convenhamos, por causa das ideologias desse grupo podemos perceber que eles trabalham sempre em prol do grupo e não do indivíduo. É como uma colonia de formigas – explicou Mark com desdém.

- Concordo com você, vale lembrar que sempre que a humanidade caminhou junta para cumprir um objetivo rapidamente ele era alcançado. Principalmente pela criatividade coletiva das soluções – comentou Martin.

- Estamos quase chegando – Informou Christian.

Ao ouvir a frase, Martin rapidamente pegou a caixa do equipamento nas mãos.

- Martin, você está ansioso com relação a instalação desse equipamento, algum motivo especial? – Questionou Christian com um sorriso de canto de boca.

- Nenhum motivo especial Christian, já faz algumas semanas que não faço nada de construtivo, gostaria de gastar algumas horas do meu tempo desmontando o painel da nave e adaptando esse equipamento. Estou incomodado com nossa ociosidade – respondeu Martin entristecido.

- Acalme-se Martin, logo estaremos de volta a Andrômeda. Tenho certeza que sua bancada de pesquisa estará organizada e você terá a oportunidade e de investigar os sistemas planetários – Disse Christian tentando diminuir a aflição de Martin.

Depois disso os três se calaram, no desembarque o silêncio era tamanho que foi possível ouvir os motores elétricos manobrando o veículo. O caminho até o alojamento nenhuma palavra foi dita, os tripulantes da nave Röntgen pouco se olharam, pareciam refletir os momentos em que passaram em Álack.

No alojamento, eles recolheram os poucos pertences que haviam trazido para a superfície e as intermináveis bugigangas adquiridas nos últimos dias. Após isso, se despediram de alguns estudantes da universidade e foram informados que um veículo aguardava para conduzi-los até o elevador espacial.

A subida pelo elevador espacial ao contrário da descida foi realizada a noite. A poucos quilômetros de altitude, onde não existia mais a interferência da iluminação artificial da cidade, os três puderam avistar seu destino, Andrômeda. Olharam fixamente para o ponto luminoso e sentiram um saudosismo daquele conjunto de estrelas. A sensação de que a Via Láctea se tornou tão alienígena quanto Andrômeda ficou evidente para eles nessa pequena visita a sua galáxia natal. Constataram que na vastidão do universo o único local familiar era a nave Röntgen e o desejo de retornar se tornava maior a cada hora que passava.

Chegando na base espacial Christian, Mark e Martin iniciaram a instalação do transponder. Em poucas horas terminaram de adaptar o equipamento na nave de transporte. Após a conclusão da instalação se depararam novamente com a monotonia da situação. Teriam que suportar aproximadamente dez dias para iniciarem o deslocamento pela sistema planetário de Álack em direção à Andrômeda.

O transponder e a tal rede de entrelaçamento quântico foram uma distração para o pequeno grupo de cientistas. Christian utilizou o equipamento para fazer uma apresentação sobre a viagem e o PTE em Andrômeda ao Parlamento de Inovações no planeta Terra. Mark, utilizou o sistema para atualizar as informações sobre as rotas, planetas colonizados e sistemas governamentais. Martin entrou em contato com diversos líderes e governantes de vários planetas e levantou várias demandas de pesquisas para serem estudadas em Andrômeda.

Na véspera do deslocamento para Andrômeda, o interfone do quarto dos cientistas tocou e todos se olharam com ligeiro espanto. A cama de Martin ficava mais próxima da porta, o que obrigou-o ir até lá.

- Olá Martin. Como vocês estão? - Era Louise, com um belo sorriso no rosto.

- Uau! Olá Louise. Estamos bem… entre por favor – disse Martin admirando as curvas e a pele dourada da pequena garota.

- Não há necessidade. - Disse sem graça a garota desviando o olhar de Martin. - Estava saindo do meu turno e fiquei sabendo da antecipação da partida de vocês e como duvido que a gente se veja novamente resolvi agradecê-los pela coragem de enfrentar a imensidão do espaço entre as duas galáxias e nos proporcionar essa proximidade com um lugar tão distante – disse Louise com os olhos marejados.

Christian ao ouvir a frase de Louise, levanta-se da cama, caminha até ela e a abraça. O abraço dura apenas alguns segundos e então Christian segura Louise pelos ombros e diz:

- Nos que agradecemos e acredito que meus amigos compartilham a mesma opinião que a minha. Esse foi o ponto alto do nosso retorno – disse Christian se virando para trás e olhando para os outros dois companheiros que confirmaram com a cabeça.

- Fico feliz em ouvir isso. Espero que vocês retornem em paz para Andrômeda – disse Louise tirando uma pequena caixa com um embrulho verde metalizado do bolso da calça do uniforme – trouxe uma lembrança para vocês – completou a frase a garota entregando o presente para Christian.

Christian esperou Mark se aproximar do grupo e abriu a caixa, era a réplica do planeta Álack com as duas estações orbitando o planeta.

- Nossa! Que lindo, tenho certeza que ficará incrível na sala de comando de Röntgen. Obrigado.

- Por que você decidiram partir antes? - Questionou Louise olhando para Martin.

- Minha querida, você não sabe o quanto ficamos de lado nas decisões aqui, parecia que não tínhamos valor. Então D.C. conversou com o Comandante Garcia para nos liberar e dar mais tempo para organizarmos tudo por lá. – Respondeu Martin.

- Entendo. Que pena, gostaria de tê-los conhecido melhor. Espero que vocês façam uma boa viagem e que voltem um dia para conversarmos.

Louise abraçou os três, e em silêncio caminhou pelo corredor em direção ao elevador que a levaria para Álack. Após alguns passos a garota olha para trás e vê que eles estavam acompanhando seus movimentos, mesmo sem graça faz um pequeno aceno e levanta um pequeno sorriso de canto de boca. Christian, Martin e Mark fazem um aceno e desconcertados entram novamente para o quarto.

- Que mulher lindíssima… lembra muito uma das minhas paixões na adolescência – disse Martin com um sorriso no rosto.

- Menos, seu tarado cibernético - respondeu Christian.

Os três no mesmo instante caíram na gargalhada, então Mark comentou - Estamos parecendo aqueles garotos da faculdade, sentados no bar observando as garotas.

Os três conversaram por mais algumas horas e aguardaram ansiosamente serem chamados para embarcarem na sua nave de transportes. Christian, apesar de ser um homem integro viu a necessidade de não contar toda a verdade para o Comandante Garcia, na verdade o que ele tinha em mente era orientar sua tripulação dos obstáculos que teriam de enfrentar com os novos integrantes da missão em Andrômeda.

Ele havia levantado as principais característica de personalidade, formação acadêmica e interesses dos principais membros que o Comandante Garcia havia selecionado para a viagem. Christian sabia da importância de entrar no jogo que o Comandante Garcia e o Dr. Yano estavam fazendo, ele não iria ser pego de surpresa e muito menos sua tripulação.

Ao fechar a porta da nave e partir em direção a Andrômeda, a única certeza que Christian, Martin e Mark tinham era do ótimo trabalho feito com outros blocos coloniais na Via Láctea.

Ismael Paraiso
Enviado por Ismael Paraiso em 10/09/2017
Código do texto: T6110419
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