O Desembarque

Duas batidas na porta.

Erich Diefenbach ergueu os olhos da correspondência chegada de Berlim no dia anterior, e exclamou:

- Entre!

Dois soldados de infantaria entraram, conduzindo um civil. Era um homem alto, louro e bronzeado, olhos cinzentos. Usava uma boina e sobretudo castanhos, um suéter azul, calças cinzas e sapatos de cadarço pretos. Não parecia francês, analisou rapidamente Diefenbach.

- Sim? - Indagou, apoiando os cotovelos na escrivaninha e entrelaçando os dedos. - Quem é este homem?

- Nós o encontramos caminhando pela praia em atitude suspeita, Herr Hauptmann! - Disse um dos soldados,em posição de sentido. - Quando o abordamos, pediu para ser trazido à sua presença!

Diefenbach apontou para o próprio peito, encarando o estranho.

- Eu? Nós nos conhecemos, cavalheiro? - Perguntou, em francês.

- Eu falo o seu idioma, Hauptmann Diefenbach. - Retrucou o homem num alemão irrepreensível, expressão de orgulho no rosto. E erguendo o braço direito num ângulo de 45°, exclamou:

- Heil Hitler!

* * *

- Um viajante do tempo?

Gerd von Rundstedt encarou com incredulidade o agente da Gestapo, sentado à sua frente. A conversa transcorria no confortável escritório do marechal, no Hotel Pavillon Henri IV, em Paris.

- Este homem, que diz chamar-se Bruno Geissler, foi capturado por uma patrulha costeira em Dieppe. A princípio, pensaram tratar-se de um "comando" britânico, tentando infiltrar-se em nossas linhas, mas ele contou uma história tão fantástica que tivemos que checar se continha algum elemento de verdade.

- E esse Bruno diz que vem do Grande Reich Alemão e que nós vencemos a guerra?

- Até aí, nada demais - minimizou o agente. - Só que ele sabia o nome do comandante do destacamento, pediu para falar com ele, deu detalhes pessoais da vida do capitão, informou que a esposa deste estava grávida de um menino e que ela iria escolher o nome Werner...

Rundstedt começou a tamborilar na mesa, expressão pensativa.

- Imagino que checamos essas informações...

- A Gestapo em Dresden confirmou a história de Geissler. Frau Diefenbach mostrou-se surpresa, porque ainda não havia comunicado o marido da gravidez... muito menos que planejava dar o nome de Werner, caso fosse um menino. Naturalmente, o sexo não temos como confirmar antes do nascimento.

Rundstedt parecia imerso em seus pensamentos, embora continuasse a participar da conversa.

- Se esse Geissler vem do futuro... ele deve saber COMO ganhamos a guerra - disse por fim.

- De fato... - prosseguiu o agente. - Ele disse não poder dar muitos detalhes sobre isso, pois poderia afetar a história futura... mas que voltou no tempo especificamente para nos alertar sobre um ataque que ocorrerá daqui a dois dias. Trata-se de um desembarque Aliado na costa atlântica francesa. É absolutamente essencial que rechacemos este ataque para que vençamos à guerra, ressaltou ele.

- Um desembarque... disso já suspeitávamos. Mas ele deu dados concretos? Que tipo de forças? Se terão cobertura aérea e apoio marítimo?

O agente da Gestapo abriu uma pasta de couro que trazia no colo e dela retirou um relatório datilografado.

- Está tudo aqui. Sabemos quais serão as praias invadidas e inclusive o nome do comandante do ataque.

Rundstedt apanhou o relatório e começou a folheá-lo. A medida em que ia avançando, um ar de satisfação foi se desenhando em seu rosto.

- Se isto for verdade, - disse por fim, encarando seu interlocutor - vamos pegar os Aliados com as calças na mão!

* * *

- Perdemos mais de 3.500 soldados naquele dia, mas a missão foi cumprida - comentou o Dr. Thompson-Smith ao receber o relatório do agente Bruno Geissler, aliás, Daniel Walker.

- Se os nazistas não tivessem sido informados... o desembarque teria sido bem-sucedido... ou com menores perdas? - Indagou Walker curioso.

- Nunca saberemos... - admitiu Thompson-Smith abrindo os braços. - A História registra que os alemães já estavam cientes do ataque e que nossas forças começaram a ser bombardeadas antes mesmo de por o pé na praia. Como souberam? É uma incógnita.

E fechando o relatório.

- Mas o certo é que a verdadeira missão, que era capturar uma das novas máquinas de criptografia Enigma e seu manual, foi coroada de êxito. Enquanto as tropas desembarcadas provinham a distração, os "comandos" completaram sua tarefa.

- Eu fico pensando, - ponderou Walker - se ao invés de "Dieppe", 19 de agosto de 1942, eu houvesse dito "Normandia", 6 de junho de 1944...

- Neste caso, nós não estaríamos tendo esta conversa agora - retrucou o Dr. Thompson-Smith. - Esta agência britânica de viagens no tempo, seria hoje parte do Grande Reich Alemão...

- [22-10-2017]