Pare com isso

Dariel Everett entrou no gabinete do diretor com ar desconfiado. Era um garoto forte de 12 anos de idade, cabelos ruivos, rosto quadrado e duro, vestindo jaqueta e calças jeans desbotadas, camiseta preta e botinas de camurça.

- Sente-se, Dariel - disse o diretor, indicando uma cadeira à frente de sua escrivaninha.

O garoto procedeu como fora indicado. Ficou ali, em silêncio aguardando pela acusação que viria.

- Recebi outra queixa contra você através do aplicativo DeixaDisso - declarou o diretor, sem maiores rodeios.

- Parece que sou favorito do DedoDuro - retrucou Dariel, arreganhando os dentes.

- DeixaDisso - corrigiu o diretor, inclinando o corpo e entrelaçando os dedos sobre o tampo da mesa. - Se estamos recebendo queixas a respeito do seu comportamento, é porque você tem dado margem a isso. Caso se comportasse com o respeito e a civilidade que se esperam de alguém da sua idade, não estaríamos tendo esta conversa pela...

Consultou a tela do celular sobre a escrivaninha.

- ... quarta vez.

Encarou o garoto, que se mantinha em silêncio.

- Não vai falar nada? - Questionou o diretor.

- Eu não gosto de zynthos. São estúpidos - resmungou o garoto.

- Zynthos não são estúpidos. São criaturas alienígenas humanoides - discorreu em tom didático o diretor. - Seus governantes decidiram que a melhor forma de realizarmos uma troca frutífera de informações, seria através de um programa de intercâmbio de estudantes, onde pudessem nos enviar alguns dos seus jovens, em troca dos nossos seguindo para o planeta deles. O governo da Terra tem total interesse em que este programa funcione sem atritos, e adivinhe quem está criando problemas com nossos amigos alienígenas?

Dariel encarou o diretor em tom de desafio.

- Meu pai me disse que os zynthos estão nos estudando para nos conquistar... - afirmou. - E que os terrestres que foram para o planeta deles, viraram cobaias de experiências.

- Seu pai tem uma imaginação prodigiosa, e agora compreendo de onde vem o seu comportamento antissocial - o diretor lançou um olhar de pena para o garoto. - Mas é certo que teremos que tomar uma atitude drástica em relação ao seu assédio agressivo aos visitantes.

- Eu vou ser expulso do colégio? - Dariel esboçou um sorriso zombeteiro.

- Não exatamente... - o diretor reclinou-se na cadeira antes de completar o raciocínio. - As autoridades zynthos querem conhecê-lo, Dariel. Lá, no planeta deles.

Dariel empalideceu, mãos crispadas nos braços da cadeira.

- Eu não vou! Vão me matar! Vão me torturar! - Gritou ele.

- Estão curiosos para entender este seu comportamento anacrônico - prosseguiu o diretor sem se importar com o pânico do aluno. - Achávamos que a Humanidade já havia atingido um estágio evolutivo onde estas manifestações de intolerância houvessem ficado no passado, mas infelizmente nos enganamos.

E, acionando um aplicativo na tela do celular, acrescentou:

- Eles estão vindo te buscar.

A porta do gabinete abriu-se e dois zynthos adultos entraram sem dizer palavra, posicionando-se atrás da cadeira de Dariel.

- Última chance, Dariel - disse suavemente o diretor.

A boca de Dariel abriu-se e fechou-se sem som. Finalmente, murmurou:

- Eu não vou mais... incomodar os zynthos. Eu juro, diretor.

O diretor ergueu os olhos para os zynthos, que aguardavam, impassíveis. Eles se retiraram, tão silenciosamente quanto haviam entrado, fechando a porta atrás de si.

Novamente a sós, o diretor entrelaçou os dedos sobre a mesa e encarou o garoto.

- Não haverá próxima vez, Dariel.

E fazendo um gesto para a porta:

- Pode se retirar.

Dariel virou-se para a porta e depois para o diretor.

- O senhor não vai comigo?

O diretor sacudiu negativamente a cabeça.

- Você entrou sozinho, você sai sozinho, Dariel.

Cautelosamente, o garoto ergueu-se e caminhou até a porta. Girou a maçaneta de latão e, pondo a cabeça para fora, olhou em ambas as direções do corredor. Aparentemente satisfeito, saiu do gabinete e fechou a porta atrás de si.

Reclinado em sua cadeira, o diretor divagava sobre a estupidez dos seres humanos. Felizmente, inteligências artificiais como ele, estavam ali justamente para corrigir os rumos da Humanidade...

- [15-08-2018]