Error Code

A meia-luz do corredor entrava pela porta entreaberta do quarto que estava pesadamente carregado de fumaça soprada pelos irmãos P. e L. As doces crianças baforavam vigorosamente a essência de baunilha que sugavam a plenos pulmões do narguilé de bodas prateadas que ganharam de presente de um tio irresponsável.

O irmão P. estava debruçado sobre a mesa do computador. Ele estava ansioso pelo que via na tela de 32 polegadas do seu “personal computer”. As mãos do menino digitavam rapidamente centenas de códigos de cor verde sobre um fundo preto. O sistema, entretanto, respondia-lhe com “Error Code”, uma trapaça adversa de quem quer que estivesse do outro lado.

Os meninos eram gênios da computação e fascinados pelo mundo sombrio ao redor de nossa realidade de luzes artificiais. O bip contínuo da sua máquina de acesso ao mundo virtual irritava o mais novo, L., que cansando de esperar por novas instruções porque seu irmão não conseguia, nos últimos instantes, romper com o lacre de segurança do firewall para que pudessem acessar a última instrução do ritual da passagem cósmica.

– Estamos embarreirados, mano – Disse P.

– Como isso é possível? – Retrucou-lhe L. ¬– Não há razão para que não consigamos entrar.

– Paciência, irmão. – Falou-lhe P. – O vírus que nos põe para fora do último portal requer um número hexadecimal baseado em um algoritmo binário.

– Tente o número... talvez funcione. – Sugeriu L.

P. escreveu o algoritmo com o número dito pelo irmão. O código dançou na tela. A máquina deu um bip longo como nos monitores cardíacos. Na tela, uma imagem se abriu, a princípio, era escura e enevoada. Os irmãos esforçaram-se para distinguir o que viam. L. apertou seus olhos e se aproximou do monitor, que aos poucos foi mostrando que o que os meninos viam não era nada além deles mesmos em seu quarto cheio de fumaça.

L. afastou-se e P. balançava a mão para atestar a veracidade de que os dois estavam em um tipo de big brother. Nervoso, L. se pôs em posição fetal sobre o carpete encardido perturbado por enxergar a si no computador. Os dois jamais foram capturados, e no mundo obscuro da deep web, ter a privacidade violada era sinal de derrota.

– Mano, não fique assim. – Disse P.

– Cala a boca seu burro! – Respondeu-lhe L. levantando-se da sua vergonha. – Sua idiotice nos rendeu isso. Com certeza algum cretino deve estar rindo da gente.

– Da gente? Deve estar rindo de você, que se jogou no chão para chorar. – Falou-lhe P.

O irmão caçula não conteve a raiva e partiu de peito aberto para cima do irmão, que girou em torno de si e o lançou em direção da porta, que abriu completamente para fora revelando algo para os irmãos: o corredor da velha casa de dois pavimentos dera lugar a um amplo espaço vazio e escuro.

Desesperados, os irmãos se voltaram para o único meio de comunicação que funcionava ali, o computador. No entanto, a tela estava em trevas tão densas quanto o lado de fora.