A Jornada de Wilson

Dizem que num planetinha gelado no braço da galáxia, para lá da nebulosa do Cavalo, entre Zorg e Castrolândia, mora um homem que sabe tudo sobre todas as coisas. Ele sabe tantas coisas que chamam-no “Esperidião, o Sabichão”.

Peregrinos de todo o Universo, quando dominados por uma pergunta aparentemente sem resposta, realizam uma jornada para se encontrarem com “O Sabichão”; jornada semelhante à que Wilson realizaria.

Wilson arrumou suas trouxas, fugiu de casa pela janela e entrou de gaiato num cargueiro interestelar. Ao constatar que ia para a direção errada, saltou no meio do caminho, apanhou carona na nave duma família de Xsorianos e, após alguns dias, chegou à região da nebulosa do Cavalo.

O piloto da nave de coleta de lixo sideral teve pena de Wilson e o deixou acompanhá-lo até Zorg. De lá, foi fácil chegar ao planeta do “Sabichão”, infiltrando-se num ônibus espacial escolar.

O território era inóspito e montanhoso. Os cumes nevados estavam por todos os lados, mas Wilson não desistiria; escalou a mais alta das montanhas e encontrou a caverna onde habitava o sábio.

Atravessou um labirinto de galerias escuras, povoadas por criaturas parecidas a morcegos. Perdeu-se, tentou retornar, encontrou a saída, embrenhou-se nas entradas da montanha mais uma vez e se perdeu de novo.

Sozinho, no escuro, Wilson ouviu uma cantoria, que ecoava pelas cavernas. Seguiu o som que se multiplicava, confundia-se, reverberava, e logo pôde ver uma claridade. Chegou a uma câmara e encontrou um velho barbudo, magricela, vestido com farrapos, sentado numa espécie de trono, apoiava-se num cajado.

— Esperidião, o Sabichão! — Wilson exclamou.

— Sim, meu filho. Qual é sua pergunta para mim?

O coração de Wilson batia forte, ele se preparou para falar, mas foi interrompido pelo sábio.

— Calma, meu jovem, já sei qual é sua dúvida: você quer saber qual é o sentido da vida, não é?

— Hum... — Wilson negou com a cabeça.

— Calma, calma — o Sabichão afagou a barba — você quer saber se existe vida após a morte!

— Não senhor... — o menino resmungou.

— Já sei! Você quer saber se Deus existe! — mas quando Wilson também negou, o sábio prosseguiu: — Se o Universo sempre existiu ou se foi criado? O que veio primeiro, o ovo ou a galinha? Com quantos paus se faz uma canoa?

Mas nenhuma destas era a indagação de Wilson.

— Então desembucha, menino! — o velho berrou, repleto de frustração — Fale qual é sua dúvida, que parece ser mais importante do que todas as questões básicas do Universo.

— Sabe, senhor Sabichão, eu comprei um jogo de videogame uns dois meses atrás, e não consigo chegar ao final. A minha pergunta é: para matar o último monstro, tenho de acertá-lo na barriga ou no olho?