Folhas de Outono

O sopro do vento se misturava com o sutil toque das folhas alaranjadas. O sol refletia em meus cabelos cacheados. Lembro-me do barulho que nós fazíamos ao sair correndo sobre as folhas de outono, quando passeávamos pelo bosque. Ah sim! Meu caro amado, que saudades...

Agora, apenas me recordo dos bons momentos em que passávamos juntos. A lembrança de momentos pelas manhãs, quando saíamos juntos pelas margens do riacho. Passando por minha casa, onde você adorava observar o canteiro de rosas. Sim! Eu me lembro! Estava com um lindo vestido azul, e você como sempre, com suas calças verdes. Sua beleza era incomparável. Em seus braços me sentia segura, em seus beijos me sentia a pessoa mais amada e, quando sussurrava em meus ouvidos, sentia-me como um pássaro branco, voando em busca da liberdade.

Você era um exemplo de paciência, amor e compreensão... Não... Não entendo por que me deixou, você não me amava mais? Meu coração queimava sobre meu peito no dia em que soubera da notícia...

Fora trabalhar em outro país, disse meu avô. Para quê? Para receber mais dinheiro, e quem sabe... Meu amor me fizera muito mal por esta ação inesperada. Uma só pergunta e atormentava em minhas noites de sono mal dormidas. Por que não me deras pelo menos sinal de que estava bem? Meu único motivo para continuar vivendo era relembrar estas poucas lembranças felizes. Já que fazia muito tempo que não nos víamos...

Acabara de avistar os belos raios de sol. Vesti-me com meu lindo, sobretudo verde musgo. Ganhara de presente no meu aniversário de 13 anos, porém, apenas agora o usava. Meus pés afundavam nas folhas do bosque. Estava no centro de todas as lembranças e memórias. Estava na grande floresta... Sim! A árvore na qual você sempre me canta belas canções românticas. Sua voz era doce música do meu mundo. Quando o tempo ficava frio e chuvoso, nos abrigávamos em uma pequena caverna, onde passávamos a noite observando à bela constelação das estrelas. Só eu e minhas vagas lembranças me faziam companhia nestes momentos.

Voltara para casa, seguindo a mesma e única trilha do bosque da floresta. Avistei minha casa. Na frente da porta havia um pequeno envelope vermelho, com um pequeno símbolo de um pássaro branco. Peguei-a e entrei rapidamente em casa. Sem remetente. Isto aguçava cada vez mais minha curiosidade. Mas preferi tomar um bom banho quente para relaxar e depois ver o que tinha dentro do envelope.

Deixei-o em cima de um banquinho de madeira, meio corroído pelos cupins, que ficava na sala, perto da lareira. Sem preocupações de que alguém chegasse e visse o que estava dentro do envelope. Já que morava sozinha, desde que meus pais morreram. Desci a escada enrolada em um belo roupão, que por sinal era muito macio. Fui para a cozinha pegar alguns biscoitos de baunilha e voltei para a sala depois.

Encarei por alguns minutos o tão misterioso envelope, depois o peguei. Senti meu coração acelerado como um foguete em busca da lua, minhas mãos trêmulas não conseguiam segurar firmemente o envelope vermelho, senti escorrer algumas gostas de suor em minha nuca. Então eu o abri! Nisto um punhado de folhas iguais as da floresta estavam contidas nele. Todas em tons alaranjados e avermelhados. Aquilo era muito curioso! E totalmente esquisito. Afundei mais ainda minha mão no envelope, e para meu espanto encontrei um grande e belo...

Anel... Sua pedra era amarela, amarela como o ouro. Sua estrutura era prateada, para dar efeito de luz radiante. Mas o que isso significava? Verifiquei mais um pouco o envelope, mas não havia mais nada. Coloquei meu mais novo presente, se é que era um... Nisto, senti algo bom e ao mesmo tempo ruim. O que seria isso? Quem sabe... Como se fosse um sinal, como se fosse uma continuação para minhas lembranças.

Uns dias depois, quando o sol procurava se esconder da escura noite, eu recebera outro envelope. Mais estranho e curioso que o outro. Dessa vez, este era preto e sem símbolo algum. Não esperei. Abri imediatamente. Nele continha um mapa que dava para aquela caverna em que eu e meu amado nos encontrávamos escondidos, já que nossos pais eram contra nosso namoro. E para meu espanto, este envelope tinha remetente...

Meu Deus! Quem me mandara este envelope era meu amado! Subi rapidamente as escadas, vesti novamente meu, sobretudo verde musgo e corri em busca da caverna. Nunca tivera corrido tão rápido como agora, parecia até que eu estava fugindo das piores criaturas do mundo. Parei de correr. Estava frente à caverna. De repente senti-me fraca e com dúvida. Será que quem está nesta caverna é meu amor? Não tinha como voltar, já que as brilhantes estrelas dominavam o imenso céu negro.

Era uma daquelas cavernas onde muitos animais passavam a noite, o que me deixava mais nervosa. Suas paredes eram escorregadias e apenas se ouvia as gotas dos orvalhos caindo no chão. Uma bela sintonia, pelo menos assim, eu ficava mais tranqüila.

A caverna era fria e escura. Parecia não ter fim. Teve uma hora que cheguei a adormecer nas rochas do chão. Quando amanhecera, me deparei com enigmas muito esquisitos em uma grande parede cor de terra. Não entendi nada do que se tratava, mas era claro um desenho de lá. Era a torre de Paris! Resolvi investigar, e assim na mesma noite partiria para lá.

Falava fluentemente Francês. Toda moça prendada era obrigada a saber mais de três idiomas. Fiquei em um hotel bem luxuoso, e descansei nas cobertas macias de peles de animais para recuperar as energias. Semanas depois, perdera a esperanças de encontrar meu amado. Resolvi então, conhecer melhor Paris, a cidade glamurosa! Fui então tomar um bom café parisiense. Era divino. Observara a paisagem, o Rio Sena, era tudo tão lindo. Quando avistei um homem muito parecido com meu amor. Sim! Era ele! Meu coração disparou, suei frio e minhas mãos trêmulas me faziam ficar sem fala. Fizera um grande esforço para dizer seu nome, sou eu, sua amada! Assim que ouviu minha voz, correra muito rápido, como se estivesse fugindo de mim. Corri atrás dele, mas não consegui alcança-lo. Mas tinha esperança de revê-lo outra vez. Só não entendera porque aquilo tinha acontecido.

Nossos pais eram contra o nosso namoro, porém meu pai falava que este rapaz era um completo esquisito, para eu tomar cuidado com ele. Isto começava a fazer sentido, a me perturbar. Será que era verdade? Será que eu realmente conhecia Nicolas? Uns dias depois, voltei para casa, não agüentava mais aqueles zumbidos franceses em meus ouvidos de mulher.

A frente da casa continuava a mesma, parede já velha, pintada de branco, com a grande janela marrom e a bela chaminé de tijolos no topo da casa. Quando entrei, a lareira estava com um fogo ainda no começo, queimando alguns papéis. Aproximei-me e vi que eram os envelopes que havia recebido há um tempo pelo meu amado. Mas quem queimaria isso? Nicolas? De certo devia ser ele, pois talvez queria me encontrar na caverna de novo, me fazer uma surpresa, e que surpresa me aguardava...

Em meu coração que, antes sentia por Nicolas um grande afeto, um amor fiel e muito profundo, agora se apagou com um sopro de vento em meu coração confuso. A casa estava em perfeito estado, só queria mesmo queimar aqueles papéis para ninguém ver? Mas quem iria ver? E se visse? Qual o problema? Muitas perguntas para apenas uma cabeça confusa. Parei de me fazer perguntas que não poderiam ser respondidas. Fui para a caverna. O sol já estava adormecendo, a lua e as estrelas logo viriam dar vida ao céu negro.

Entrara na caverna. Quando senti uma pancada de leve na cabeça. Desmaiei. Quando acordei minhas pernas estavam doendo muito, como se estivessem com várias agulhas espetadas sobre ela. Minha visão estava muito embaçada, havia perdido muito sangue. Em uma penumbra da caverna, consegui avistar Nicolas, que me olhava fixamente. Um olhar monstruoso, um olhar distante, frio, diferente...

Não era mais o mesmo, não era mais o homem o qual eu daria minha vida. Por que fugiu de mim? Meu amor...? O que aconteceu? Minha amada, você me traiu. Nunca pensou que eu descobriria? Pois se enganou, agora você irá me pagar com sua própria vida. Não diga isso, Nicolas. Eu sempre o amei, sempre vou o amar.

Meu coração só pertence a um único homem, que é você. Nós nos completamos como um corpo que precisa de calor para sobreviver. Não me trate assim, você me abandonou! Lembra-se? Não seja falsa comigo. Não mais. Sim! Neste tempo, estava pensando no que iria fazer com você. E eu já sei agora. Corra se quiser ver o lindo pôr-do-sol outra vez. Minhas pernas não obedeciam. Tentei levantar, corri em direção à luz das brilhantes estrelas e da lua, que eram as únicas a testemunharem o que iria acontecer comigo.

Tropecei em uma pedra e caí no chão úmido da caverna. Nicolas estava vindo em minha direção armado. Olhei para o céu iluminado, com um único e último suspiro sorri. A luz dos meus olhos se apagou. E as folhas de outono cobriram meus cabelos ensangüentados.

((Conto produzido em 2006))

Jheni Bento
Enviado por Jheni Bento em 06/08/2008
Reeditado em 18/03/2011
Código do texto: T1116049
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.