A luta pelo poder

A despeito de muitas armadilhas localizadas na Roma de Mussolini, o futuro parece tenebroso e sinistro para a população de excluídos do norte da cidade eterna. Tudo parecia perdido para Carlos Bendini, rapaz pobre de pouco mais de 25 anos, o seu trôpego caminhar era austero e retilíneo. Navegava num mar de dúvidas e desacertos insuportáveis, sua vida parecia um vulcão preste a explodir numa nuvem de cinzas, tristes e constantes.

Nunca a sorte havia chegado perto daquela gente de olhares tépidos e inconstantes, num carrossel de intrigas como antes, tudo parecia perdido, pois eles eram considerados comunistas pelo regime fascista em vigor na Itália desses anos negros da década de trinta do século XX. Mas Carlos não se desesperava por que sabia que o Duce não governaria para sempre, será que a sua gente sobreviveria a mais um massacre dos casacas negras?

Até então só haviam desaparecido alguns membros mais importantes da sua comunidade, e muita gente tinha sido obrigado a imigrar para a América, sob pena de morte para quem se recusa a viajar. Carlos vivia em fuga ou se escondendo dos malditos fascistas, gente ignorante e torpe de uma debilidade incompreensível e dantesca.

Naquela tarde ensolarada de primavera em Roma, Carlos maquinava uma nova e infalível sabotagem ao sistema de fornecimento de energia elétrica de Roma, porque tinha que mostrar aos fascistas que suas defesas eram vulneráveis.

No dia em que o ser humano fez a pergunta única sobre ele mesmo, tornou-se a mais arrogante criatura. Depois que descobriu a fórmula do pensamento lógico, nunca mais acreditou em um Deus. Os homens chamaram-me louco; mas ainda não está resolvido o problema – se a loucura é ou não a suprema inteligência – se muito do que é glorioso – se tudo o que é profundo – não tem a sua origem numa doença do pensamento – em modalidades do espírito exaltada à custa das faculdades gerais. Aqueles que sonham de dia sabem muitas coisas que escapam àqueles que somente de noite sonham. Nas suas vagas visões obtêm relances de eternidade e, quando despertam, estremecem ao verem que estiveram mesmo à beira do grande segredo. Penetram sem leme nem bússola, no vasto oceano da "luz inefável"; e de novo, como os aventureiros do geógrafo da Núbia, e descobrem as minas de ouro do conhecimento.

Diremos, então, que estou alucinado. Concordo, pelo menos, em que há dois estados distintos da minha existência mental – o de uma razão lúcida que não pode ser contestada, e pertence à memória de acontecimentos que constituem a primeira época da minha vida – e um estado de sombra e dúvida, que abrange o presente e a recordação do que constitui a segunda grande era do meu ser. Por conseqüência, acreditai tudo o que eu disser do primeiro período de minha existência; e dai ao que eu vier a contar dos derradeiros tempos o crédito que se vos afigurar justo; ou ponde-o completamente em dúvida; ou, se não puderes duvidar, fazei como Édipo e procurai decifrar o seu enigma.

Viera como um ladrão no ocaso e foi caindo como uma fera sobre os fascistas pelas salas orvalhadas de sangue, e cada um morreu na mesma posição de desespero em que tombou no chão. E a vida do relógio da morte dissolveu-se junto com a vida do último dos dissolutos. E as chamas dos braseiros extinguiram-se. E o domínio ilimitado das Trevas, da podridão e da morte púrpura estendeu-se sobre os cadáveres inaqdivertidos.

DR PAVLOV

Dr Pavlov
Enviado por Dr Pavlov em 09/08/2008
Reeditado em 09/08/2008
Código do texto: T1120288
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