FAZENDA SANTA CLARA

Era noite de lua cheia. O céu estava com muitas nuvens escuras

Escutavam-se ao longe os uivos dos lobos. Aquilo sempre me amedrontava. Lembrava de estórias de vampiros, mula sem cabeça, lobisomem e outras tantas estórias de terror. Eram um suplício as noites naquele fim de mundo. Sempre preferi a cidade, com o seu conforto,claridade e o grande movimento.

Tive que ir até Santa Clara, fazenda do meu tio no Paraná, pois ele, tinha sido hospitalizado. Havia sofrido um infarto.

Graças a Deus foi medicado a tempo e foi mais o susto do que a doença.

Fui passar então uns dias com ele na fazenda e tentar aproveitar a minha estada por lá para rever toda família.

Estávamos na varanda. Cada um contava um caso mais engraçado que outro e por vezes arrepiante. Sempre tinham uma estória nova. Ao mesmo tempo em que gostava de ouvi-las, tinha verdadeiro pavor, pois sempre me causam pesadelos horríveis.

Tenho muitos primos por lá. Levam tudo na brincadeira. Não se consegue falar com eles ,sem que o assunto caia na gozação.

Foi nesse clima que me pareceu ver um vulto passar rapidamente. Perguntei um tanto temerosa se alguém tinha visto a tal visão. Era o que eu esperava. Todos me zoaram, dizendo que de vez em quando, almas do outro mundo vinham fazer pousada por ali. Devia ser uma dessas. Fiquei furiosa com tanta brincadeira de péssimo gosto que entrei. Fui ler um pouco para distrair as idéias.

Fui para o quarto que estava dividindo com a minha prima. Recostei-me no almofadão da cama e comecei a ler o livro de Agatha Christie. Já estava quase na metade de “A Mão Misteriosa". Adoro estórias de suspense e esta escritora e Sidney Sheldon são os meus preferidos.

Lia tranquilamente quando vi pela janela, algo que me chamou atenção. Tive a nítida impressão de ver outra vez o mesmo vulto. Parei a leitura e fui até à janela que dava para os fundos da fazenda. A noite estava um breu. A lua tinha se escondido atrás de densas nuvens. Parecia mesmo um cenário de um filme de terror. Cada vez me convencia mais que a vida da fazenda não me dava nenhum prazer. Logo que meu tio estivesse recuperado voltaria para cidade. Estava mergulhada nos meus pensamentos quando um barulho de galhos quebrando me chamou à realidade. Olhei para o lado que tinha ouvido o ruído. Quase morri de pavor. Fiquei em pânico. Queria gritar e a voz não saia. As pernas tremiam e não me obedeciam. Vi uma figura disforme, esbranquiçadas. Parecia envolta por ataduras rasgadas como se tivesse sido desenterrada. Meu Deus! Era uma múmia horrenda!

Ela avançava na minha direção. Cada vez estava mais próxima. Já dava para sentir o odor fétido de um cadáver. Estava cada vez mais apavorada. Não sabia o que fazer e o espectro chegando perto e mais perto, cada vez se aproximava mais. Senti o bafo desagradável , aquele rosto disforme e aquelas mãos cadavéricas esticadas, querendo me agarrar. Senti um frio intenso. Aquela coisa me abraçou. Sentia que ia desfalecer e...

Acordei com a minha prima me chamando para jantar.

Havia adormecido e tivera mais um terrível pesadelo.